Muitas vezes, a dificuldade em adormecer deriva também de uma coisa chamada "performance stress". Aquilo que faz um cantor perder a voz quando sobe ao palco devido ao elevado nível de ansiedade. O que neste caso seria afonia histérica. Mas vocês percebem a ideia. Aconteceu-me várias vezes ter responsabilidades no dia seguinte a que não podia faltar de maneira nenhuma e o próprio peso dessa responsabilidade me manter acordada. Houve alturas, na faculdade, em que fui fazer exames sem dormir uma hora sequer com medo de adormecer e não acordar. Mas depois ia para casa e dormia, porque a missão estava cumprida... e eu estava exausta.
Esta nota é para reflexão das outras pessoas nocturnas que lêem este blog e para os médicos ignorantes que deviam saber estas coisas e não sabem e que deviam estar a ler este blog porque supostamente são especialistas mas aparentemente não têm tempo para ler porque estão muito ocupados a extorquir dinheiro a pessoas a quem não sabem ajudar.
(Aquele grande filho da puta!... Mas "a vingança é minha, diz o Senhor". Há quem pague em dinheiro, há quem pague em karma.)
7 comentários:
"Performance stress" é exactamente o que eu tenho. Há muito tempo que se tiver coisas inadiáveis para fazer antes das dez horas não adormeço (não me deito sequer). Associado a isso há, infelizmente, outro mecanismo, que é o de um sono induzido como "fuga": insónia até madrugada + sono pesado que resiste a uma bateria de despertadores.
Quanto aos médicos portugueses, inteiramente de acordo. E isso não se aplica a doenças "minoritárias". Os casos de cancro, por exemplo, são assustadores. Ai de quem não possa voar para Londres no primeiro dia. E são raríssimos os médicos que dizem isso. País estranho.
Quando aconteceu o meu caso com o neurologista especialista, desabafei com alguém que me parece que o país já esteve menos atrasado mas que o atraso se está a acentuar novamente em comparação com os avanços dos anos 90. Isso nota-se em todos os campos (lá está, a necessidade do choque tecnológico) mas é absolutamente mais grave que aconteça na saúde.
Afinal não temos choque tecnológico mas temos tratamento de choque.
Por falar nisso, o neurologista especialista falou-me em tratamento de choque para casos de psicose. Eu apenas levantei uma sobrancelha e pensei "e lobotomiazinha, não vai?".
Gotika, duas coisas. Primeiro: a medicina é uma ciência que implica actualização (estudo) diários. O estudo diário implica, por sua vez, ou uma mentalidade germânica/protestante de "dever" ou... gostar daquilo que se faz. Desconfio que com a "subida" das notas de acesso, etc - isto é, a partir do momento em que para entrares em medicina tens de ter vinte valores em tudo - esses dois grupos foram afastados por um novo tipo de gente.
No geral tambéma acho que há um problema na formação científica dos licenciados - essencialmente, na forma de raciocinar e pesquisar. Aí sou absolutamente reaccionário. O que acho que aconteceu foi o seguinte: até 1960 o "professor" era tipicamnte o "velho sábio" isolado. A sua cultura de base era uma mistura de cultura geral com cultura clássica (o tempo dos médicos-escritores, dpos matemáticos-historiadores, etc). Nos anos 60, esses pacatos senhores foram submergidos por uma vaga de adolescentes que debitavam coisas sobre marx, freud, sartre e amigos, com conversas sobre "superestruturas", "relações de classe" e "epistemologias dinâmicas". Isto ainda antes do 25 de Abril. Com a revolução, as "grelhas de interpretação" da realidade fornecidas pelas "ideologias" deram pano para mangas: a faculdade de economia do Porto - na altura, a única do país - teve até meados dos anos 80 uma maioria absoluta de professores e alunos da área que actualmente corresponde ao "Bloco"; as faculdades de letras (História, por exemplo) discutiam a aplicação da "luta de classes" ao Paleolítico. A ligação com a "base cultural" anterior quebrou-se completamente.
Quando a revolução cultural acalma (digamos, o período Cavaquista) o mundo estava diferente: a internet começava; o domínio americano era completo, mesmo nas "letras". Não dominar o inglês era impensável.
A transição não foi feita, como não foi feito tudo o mais.
Há uns anos, um amigo meu tinha a mãe com uma doença degenerativa. Ele desconfiou que fosse Alzheimer. O médico negava, dizia "os sintomas não são esses". O meu amigo passou uma noite na internet e levou centenas de páginas americanas com descriçõe detalhadas de sintomas. O médico não lia suficientemente bem o inglês. Era Alzheimer, sim.
Maré negra.
"O médico não lia suficientemente bem o inglês."
Acredito plenamente.
Também acho que é defeito da formação que eles têm. Podem ter 20 a tudo mas as matérias a que têm vinte não lhes servem para a profissão.
São pessoas capazes de decorar uma lista telefónica. Se viste o "Rainman" (em portugês, "Encontro de Irmãos") sabes que isso não serve de muito...
Eu acho que também consigo decorar uma lista telefónica. Mas tenho mais que fazer.
Desconfio de pessoas que não têm mais que fazer do que decorar listas telefónicas, principalmente numa altura tão socialmente excitante da vida como a adolescência.
Vou evitar médicos formados a partir dos anos 80.
Quanto à tua análise dos professores, posso dizer com certeza que não percebo do que falas porque a minha área é diferente e os temas abordados nem raiavam o que dizes... Estranho.
Estou contente por finalmente encontrar uma médica que vai tratar de MIM! :D
Que tal uma tesezinha em DSPS? Só fazia bem.
Já para não dizer que deve ser a primeira! Não dão notas pela originalidade? Ou o factor originalidade não conta em medicina? Peço desculpa pela ideia que faço dos médicos, mas tenho para mim que originalidade e criatividade não contam na Faculdade de Medicina, e há uma alergia à palavra "novidade". Dá muito trabalho a estudar. "Novidade" é para os jornalistas.
Errado. Ser médico é passar a vida toda a estudar. E no caso ds médicos, nem se podem queixar que os estudos não valem a pena, ao contrário de muito boa gente que tirou cursos tão ou mais difíceis e anda aí nos call centers a fazer pela vida.
Anatomia é giro. Acredita. Sei que não é muito entusiasmante para uma futura psiquiatra, mas eu também tive de fazer duas cadeiras de matemática e também não gostei. (E não me serve para nada. Pelo menos anatomia serve para qualquer coisa.)
A matemática aparece nos sítios mais inesperados, não é? É um pouco estranho. Acho que está aí - bem como no "português" - o maior equívoco dos programas de ensino.
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