domingo, 21 de dezembro de 2025

X (2022)

Não posso dizer que este filme me assustou, mas de certeza surpreendeu-me.
Em 1979, um grupo de amigos vai fazer um filme pornográfico para distribuição doméstica com o sugestivo título de "As Filhas do Lavrador". Para tal, arrendam um anexo numa quinta remota. No outro dia estão quase todos mortos.
Este não é um daqueles filmes de sustos e tripas, embora estes também apareçam. O perigo vem de onde menos o esperamos. Nem sequer me vou alargar sobre isto porque o filme não merece spoilers, mas somos frequentemente enganados, no bom sentido, como naquela cena em que uma das protagonistas vai nadar num lago de águas turvas e é perseguida por um jacaré sem sequer se aperceber do risco que correu.
Um dos trunfos de "X" é fazer-nos simpatizar com os personagens, especialmente durante as conversas que estes têm sobre os filmes porno, "só trabalho", como eles dizem, sem nunca transformar a actividade em glamour nem em miserabilismo. Para eles, desde os actores aos realizadores, é só uma plataforma de projecção para filmes a sério, ao mesmo tempo que ganham a vida. Custa-nos ver estas pessoas serem assassinadas, e ainda por cima por quem e porquê.
E é mesmo tudo o que posso dizer. "X" é um filme que deve ser visto sem spoilers.
Curiosidade, uma das protagonistas é Jenna Ortega, a nossa Wednesday, aqui irreconhecível.

13 em 20
 

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Planet Terror / Planeta Terror (2007)

Se alguma vez se perguntaram como seria o apocalipse zombie segundo Robert Rodriguez e Quentin Tarantino, bem, é isto. Mas antes é preciso esclarecer que "Planet Terror" é um filme mau, e que foi feito mau de propósito. O objectivo? Não sei. Talvez fazer o melhor filme mau do género, ou mais correcto ainda, fazer o filme mais mau de todos os filmes maus do género que surgiram nos anos 70 e 80, incluindo efeitos de película riscada, manchada, descolorada.
A história? Uma arma biológica é libertada de um complexo militar, transformando todos os infectados em monstros repugnantes à caça de carne humana. Nem os zombies têm lógica. Alguns infectados não chegaram a morrer, outros foram infectados, morreram e ficaram zombies. Isto é, temos zombies tecnicamente vivos e zombies tecnicamente mortos. A certa altura alguém diz que é necessário atingi-los na cabeça, mas muitos deles não precisam de um tiro na cabeça para morrerem. O que seria um plot hole, aqui é propositado. Isto não é para fazer sentido, é para pôr meia dúzia de personagens-padrão a matar zombies, com muito sangue, muitas tripas, muitos furúnculos, muito pus. O filme pode não meter medo a ninguém mas tentou por tudo enojar o espectador.
O começo até promete, o início da epidemia zombie que é sempre o mais interessante, mas a partir do meio torna-se uma seca de filme de acção comparável ao pior dos filmes do SyFy, pelo que podemos dar os parabéns ao realizador: conseguiu o objectivo.
Voltamos então ao problema maior. Já vi "From Dusk Till Dawn" há muito tempo, e sei que tudo o que sai das mãos de Robert Rodriguez é exagerado ao nível de parecer um desenho animado, mas recordo que gostei do filme. "Planet Terror" faz justiça ao nome e é mesmo um terror de filme no mau sentido. Saliento que o filme está cheio de nomes sonantes (até Bruce Willis, Naveen Andrews, Rose McGowan e o próprio Quentin Tarantino) e que os efeitos especiais pertencem a Greg Nicotero, o génio dos zombies de "The Walking Dead", então, porquê gastar tempo e dinheiro a imitar filmes maus? (Aliás, ressalvo que alguns dos melhores zombies, os mais assustadores, têm definitivamente a assinatura de Nicotero, um verdadeiro desperdício neste filme.)
"Planet Terror" não se leva a sério (penso eu) mas não é uma paródia, não é engraçado, não é inteligente, não é original, não tem ponta por onde se pegue, então, qual é o propósito disto? Não percebo.
Que nota dar a um filme que quis ser propositadamente tão mau que é bom, mas que não o consegue ser?

10 em 20 (embora eu ache que Robert Rodriguez ficaria mais feliz com um 4 ou um 5, mas não conseguiu ser suficientemente mau)


domingo, 14 de dezembro de 2025

Arrival / O Primeiro Encontro (2016)

Na sequência da chegada de gigantescas naves alienígenas à Terra, um grupo de peritos é enviado ao encontro dos extraterrestres para descobrir o que eles pretendem. Entre eles, a linguista Louise Banks, responsável por estabelecer contacto com a espécie a que chamam Heptapódes, que comunica de forma não-fonética. À medida que as tentativas de diálogo fracassam ou progridem a ritmo muito lento e cheio de equívocos, os líderes mundiais vêem-se obrigados a combater o pânico da população e a planear a destruição dos alienígenas mesmo sem provas de que estes sejam hostis. Louise é o único elemento da equipa capaz de interpretar a linguagem dos Heptapódes antes desse ataque aos extraterrestres que pode significar uma retaliação para a Terra.
Em princípio é esta a "história". Mas a "história" não é esta. Louise vive atormentada por memórias e visões de uma filha que nós, os espectadores, julgamos falecida. Mas a "história" também não é esta. Não é possível adiantar mais sem incorrer em spoilers, mas nada é o que parece.
Certos aspectos do filme não vão agradar aos fãs de ficção científica pura e dura porque não são cientificamente credíveis. Os alienígenas dão a Louise o que quase poderíamos chamar um "poder mágico" que só funciona com ela, aparentemente e convenientemente, de modo a que ela consiga compreender a linguagem deles, porque os Heptapódes virão a precisar da ajuda humana daí por 3000 anos. Muitas questões se levantariam aqui: se a espécie é tão evoluída que chegou à Terra sem ser detectada, de que ajuda nossa poderão precisar?... Mas a "história" também não é essa, nem tal é aprofundado. Quem está à espera de uma "Guerra dos Mundos" não a encontrará aqui.
"Arrival" é sobretudo um filme sensível sobre escolhas e perdas, sobre o que significa valer a pena viver apesar do sofrimento, em suma, sobre o que nos torna humanos. A parte pseudo-científica é a desculpa para contar uma história bonita e comovente.

13 em 20 


terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Dark Shadows / Sombras da Escuridão (2012)

Barnabas Collins é um vampiro, vítima da maldição de uma antiga amante, que esteve encarcerado durante 200 anos. Em 1972, finalmente volta a casa para ajudar a família a sair da decadência.
"Dark Shadows" foi uma série/telenovela americana de culto que metia vampiros, bruxas, lobisomens, fantasmas, e tudo o mais. Para uma série tão tresloucada, é de admirar que tenha estado no ar de 1966 a 1971. Não tenho memória de ter passado por cá, mas dos excertos que vi no Youtube só me deu para rir. A série era mesmo muito má, lenta e teatral. O fenómeno é que tenha durado tanto tempo.
Não é o caso de "Dark Shadows" do realizador Tim Burton. Já tinha visto este filme e na altura não gostei. Se calhar esperava uma história melhor, e esqueci que os filmes de Tim Burton são maioritariamente para encher o olho, extravagâncias góticas inesquecíveis com efeitos especiais impressionantes. Ou seja, este é um filme para ver Johnny Depp como um vampiro do século XVIII que não percebe nada do século XX, no ambiente gótico e deslumbrante da mansão de família, e absorver toda a beleza tétrica que Tim Burton consegue trazer para o écran. Como se não bastasse, temos o verdadeiro Alice Cooper ao vivo!
Pessoalmente, lamento que os filmes de Tim Burton sejam mais imagem do que conteúdo. O melhor filme do realizador é mesmo "Edward Scissorhands", que aliava história à cinematografia fenomenal.
"Dark Shadows" enche o olho e tem muitos momentos de humor, mas falta-lhe aqui substância, drama, emoção. É tudo fachada sem nada por trás. Não sei se a culpa é de Tim Burton mas eu gostava de vê-lo outra vez a realizar um filme bonito, como este, que não fosse só imagem mas também conteúdo.

13 em 20


domingo, 7 de dezembro de 2025

We Summon the Darkness / Estranha Escuridão (2019)

Em 1988, três amigas vão assistir a um concerto de heavy metal. Pelo caminho, conhecem três rapazes metaleiros que vão ver a mesma banda e, no fim, decidem continuar a festa na casa de campo de uma delas.
Como pano de fundo, uma série de homicídios de contornos satânicos tem vitimado fãs de metal. Na altura (e isto é verídico), cultos evangélicos acusavam o heavy metal de desencaminhar os jovens para cultos ao diabo.
[Só um momento.

Hahahahahaha!

Peço desculpa. Estou tão farta destes energúmenos culparem a música e os jogos de vídeo pelos actos violentos de alguns miúdos perturbados (como o tiroteio de Columbine) que já não tem graça nenhuma.]
Sendo este um filme de terror, já sabemos que os homicídios vão entrar na história. A parte que me surpreendeu e de que gostei é que desta vez os maus da fita não são os homens. Este vai ser mesmo o único spoiler.
Do que não gostei: as três amigas têm motivos religiosos para cometerem os crimes, mas são umas amadoras que não sabem matar como deve ser. A princípio isto foi divertido, as três amigas a planearem os homicídios como quem combina que roupa levar a uma festa, mas depressa descambou numa certa palhaçada que só prejudicou a mensagem do filme.
Uma vez chegados aqui, o filme deixa de ser tão original e transforma-se num slasher normal, com os caçadores e as presas em papéis invertidos, mas um slasher. O filme é decente e interessante de ver, se o objectivo for apenas o entretenimento. Nada mais a esperar disto.

12 em 20

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Get Out / Foge (2017)

Chris é um homem negro que vai visitar os pais da namorada branca, um neurocirurgião e uma psiquiatra de classe social elevada. A princípio, estes parecem daquelas pessoas demasiado ávidas em provar que não são racistas, cometendo argolada atrás de argolada e não falando de outra coisa, nomeadamente que votariam em Obama outra vez e que conhecem celebridades de raça negra. Tudo isto parece embaraçoso mas inofensivo, até ao momento em que Chris começa a notar coisas estranhas. Por exemplo, os comportamentos da empregada e do jardineiro negros do casal, bem como o de um convidado da família igualmente negro, que não parecem nada normais. Quando Chris se acaba por fartar e decide dar a visita por terminada, descobre que o que se passa ali é muito mais sinistro do que ele poderia imaginar.
As críticas que li, nomeadamente as americanas, incidem em força na questão da raça, da sátira social em relação à raça, e tudo sobre a raça, mas não é isso que me interessa como filme de terror. Como filme de terror, a raça é usada como pretexto, mas o filme funciona porque podia passar-se em muitos outros casos propensos a choques culturais: o namorado pobre que visita os sogros ricos, o namorado rico que visita os sogros pobres, etc. A questão aqui é o perigo do "outro", do "outro desconhecido". Vou dar três exemplos, dois recentes e um clássico. Tirando a questão da raça, "Get Out" não é diferente de "Ready Or Not" (noiva que se vê apanhada nas tradições sanguinárias de uma família rica) ou do fantástico "Midsommar" (turistas apanhados em rituais pagãos), e a nível do clássico recordo "Deliverance" (aventureiros citadinos apanhados por campónios sádicos). Os exemplos nunca mais acabam. O princípio é o mesmo, a vítima incauta que cai na armadilha.
"Get Out" é inteligente porque aproveita um pretexto actual e polémico que baste para dar muito que falar e promover o filme, mas não é propriamente um drama sério sobre as questões raciais na América.
Como filme de terror funciona muito bem e leva-me a repetir o que já disse sobre "Midsommar": se algo parece estar errado é porque está mesmo; nunca se metam a visitar desconhecidos no meio de nenhures, especialmente se dependerem de outros para fugir de lá; nunca se deixem drogar/embebedar/hipnotizar nesta situação. Conselhos para a vida!

13 em 20