terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Get Out / Foge (2017)

Chris é um homem negro que vai visitar os pais da namorada branca, um neurocirurgião e uma psiquiatra de classe social elevada. A princípio, estes parecem daquelas pessoas demasiado ávidas em provar que não são racistas, cometendo argolada atrás de argolada e não falando de outra coisa, nomeadamente que votariam em Obama outra vez e que conhecem celebridades de raça negra. Tudo isto parece embaraçoso mas inofensivo, até ao momento em que Chris começa a notar coisas estranhas. Por exemplo, os comportamentos da empregada e do jardineiro negros do casal, bem como o de um convidado da família igualmente negro, que não parecem nada normais. Quando Chris se acaba por fartar e decide dar a visita por terminada, descobre que o que se passa ali é muito mais sinistro do que ele poderia imaginar.
As críticas que li, nomeadamente as americanas, incidem em força na questão da raça, da sátira social em relação à raça, e tudo sobre a raça, mas não é isso que me interessa como filme de terror. Como filme de terror, a raça é usada como pretexto, mas o filme funciona porque podia passar-se em muitos outros casos propensos a choques culturais: o namorado pobre que visita os sogros ricos, o namorado rico que visita os sogros pobres, etc. A questão aqui é o perigo do "outro", do "outro desconhecido". Vou dar três exemplos, dois recentes e um clássico. Tirando a questão da raça, "Get Out" não é diferente de "Ready Or Not" (noiva que se vê apanhada nas tradições sanguinárias de uma família rica) ou do fantástico "Midsommar" (turistas apanhados em rituais pagãos), e a nível do clássico recordo "Deliverance" (aventureiros citadinos apanhados por campónios sádicos). Os exemplos nunca mais acabam. O princípio é o mesmo, a vítima incauta que cai na armadilha.
"Get Out" é inteligente porque aproveita um pretexto actual e polémico que baste para dar muito que falar e promover o filme, mas não é propriamente um drama sério sobre as questões raciais na América.
Como filme de terror funciona muito bem e leva-me a repetir o que já disse sobre "Midsommar": se algo parece estar errado é porque está mesmo; nunca se metam a visitar desconhecidos no meio de nenhures, especialmente se dependerem de outros para fugir de lá; nunca se deixem drogar/embebedar/hipnotizar nesta situação. Conselhos para a vida!

13 em 20
 

Sem comentários: