Sobre o livro em si, achei-o mais bem escrito do que seria de esperar. Tendo em conta que a história é contada na primeira pessoa por uma adolescente, Bella “escreve” como fala, mas é uma escrita cuidada em que mal se nota a intervenção literária do narrador. Nada a apontar quanto à forma.
A questão que me foi posta não foi exactamente sobre a qualidade do livro. Quando aqui publiquei a crítica ao filme homónimo o que me foi perguntado era se eu pensava se tanto o livro como o filme eram algo assim de tão especial que mereciam a autêntica histeria que causaram na altura. (Penso que a histeria já passou. Os adolescentes da altura já devem ter evoluído para a nova moda das sombras de Grey, ou para a moda que estiver a dar no momento.) Bem, consigo perceber como é que o ultra-romantismo de “Twilight” possa afectar uma adolescente na idade da “paixão eterna”. O filme piorou a doença. O rapazinho que interpretou Edward Cullen no filme não era feio e a actriz que encarnou Bella era tão normal que qualquer rapariga se podia identificar. Não penso que seja preciso mais para encantar adolescentes.
Também não acredito que as adolescentes se apercebam de como Edward Cullen é controlador e abusivo (nunca julguem que um gajo que vos entra em casa sem convite o faz por amor, e que vos segue para todo o lado por amor, e que quer sempre saber onde vocês estão por amor; este é o tipo de gajo que acaba também a bater-vos “por amor”). Bella, no livro, é uma personagem que eu comecei a desprezar assim que decidiu que queria ser vampira para ficar com ele “para sempre”. (Curiosamente, não me apercebi desta parte no filme. Nem de que ele fosse controlador nem de que ela queria ser transformada. O filme foi “melhorado” para ser mais politicamente correcto?...) Parecia-me, no princípio do livro, e do que vi no filme, que a personagem era mais adulta e independente, mas Bella transforma-se em propriedade de Cullen por vontade própria e perde todo o meu respeito.
Os verdadeiros apreciadores de vampiros não vão achar nada de interessante neste livro, excepto se pretendam um olhar crítico e curioso quanto ao fenómeno gerado. Com toda a sinceridade, acho que o filme é melhor, especialmente nas partes de acção, e quem viu o filme não precisa de ler o livro *de todo*. A grande novidade que a história introduz (?) na mitologia vampírica é a noção de que os vampiros brilham ao sol (como um peixe) e que por esse motivo não podem sair das sombras ou seriam identificados. Nunca gostei destes vampiros que brilham, mas entre ler no livro e ver no filme, mais vale ver no filme (e ficar horrorizado para sempre).
No campo da literatura de terror, estou muito mal habituada. Na grande maioria, os filmes nunca conseguem ser tão bons como os livros, muito menos superá-los. Este é um caso inverso e acho que isto diz tudo. Não vou ler mais nenhum livro da série, e ainda não vi nenhum filme da saga a seguir ao homónimo “Twilight”. Não existe, simplesmente, qualquer interesse. Até “Os Diários do Vampiro” são melhores (e mais complexos) do que isto. Penso que os adolescentes que se encantaram com esta história (os que entretanto não decidiram que foi só uma “fase” e já a ultrapassaram) fariam melhor em pegar nos clássicos, desde o Drácula à Carmilla à grande Anne Rice, e descobrir os verdadeiros encantos do género.
Edward Cullen a brilhar ao sol, em "Twilight". O horror! O horror!
2 comentários:
Para quando uma crítica ao only lovers left alive? Ávida como tu és pelo tema, estranhei ainda não o ter visto por aqui.
Não conhecia. Obrigada. Vou ficar atenta.
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