sexta-feira, 13 de maio de 2005

Terapia

Descobri há muito tempo que desabafar para uma parede é o mesmo que consultar um psicológo. Un blog sem comentários serve o mesmo efeito, por isso cá vai:

Estava eu a tentar rearranjar-me e reprogramar-me quando uma das minhas gatas desapareceu. Foram dois dias de agonia sem saber onde ela estava, se tinha sido atropelada, se ia aparecer, enfim, o costume. Vivi tudo com o coração na garganta mas incapaz de reagir. Grande crise, grande fachada de pedra.

Ontem ao fim da tarde descobri-a e consegui trazê-la para casa. Foi um alívio.

Hoje faltei de novo ao emprego. Já consegui deitar-me uma hora mais cedo (às 5), e reduzir os comprimidos, mas simplesmente não me consegui mexer da cama. Queria falar mas não conseguia fazê-lo fora dos sonhos. Estava a sonhar que falava mas os sons não saíam. Estava apagada.
O cansaço acumulado de horas de sono em falta traiu-me.

Sinto-me envergonhada. Tenho vergonha de aparecer de novo no meu emprego. Só me apetece nunca mais voltar. Tenho vergonha de não ser capaz de funcionar. Uma vergonha indescritível que me faz querer desaparecer.
Eu sei que a culpa não é minha. Eu sei que tenho uma situação lixada e que não a escolhi. (Durante os meus anos de desemprego andava a meter-me nos copos mas isso acabou.) Eu sei que a situação se agravou nestes últimos dois anos a um ponto em que me vejo completamente acabada.

Mas começo a ficar farta de pedir desculpa por uma coisa que não faço de propósito.
Não considero isto uma doença, mas podia ser uma doença. Vamos imaginar que é uma doença, visto que é incapacitante e que me impede de funcionar racionalmente durante o dia. O que seria de mim?
Tenho tanto medo. Mas principalmente estou tão envergonhada. Tenho vergonha de não ter conseguido manter a minha carreira, embora a culpa também não seja minha (na minha carreira as pessoas trabalham de graça, sim, trabalham de graça, e eu não me podia dar a esse luxo).
Se as coisas tivessem sido como deviam, primeiro, não tinha deixado a situação agravar-se tanto; segundo, já teria condições de trabalhar mais em casa e não estar dependente de horários de mercearia.
A minha carreira era daquelas que permitia ser-se freelancer. E ainda é, mas o patrão tem mentalidade de merceeiro. Estive a ver os anúncios de emprego. Só há call centers para mim. Como é que os licenciados são recrutados? Eu sei, e toda a gente sabe. Enfim. Não me vou queixar mais.

Tenho vergonha de não conseguir cumprir as minhas obrigações. Tenho vergonha de ter obrigações que, para começar, nem sequer devia ter.

Soy un perdedor
I'm a loser baby
so why don't you kill me?


Não consigo livrar-me desta maldita vergonha. Já não sou capaz de falar com ninguém. Não quero ver ninguém nem ouvir ninguém.

Não consigo reagir. Estou envergonhada.

Tenho vergonha de já não saber se o acento de indescritível se põe no "cri" ou no "ti". Tenho vergonha de já ter sabido, de já ter feito da língua portuguesa a minha profissão, de ter lidado com a nata da intelectualidade e hoje me ver reduzida a um ambiente de oficina onde não há limpeza porque o patrão acha que não é uma prioridade. De vez em quando, eu lavo o chão e limpo a casa de banho. Disso não tenho vergonha. Tenho vergonha de ter de me submeter a isso porque o patrão pode aproveitar-se da situação económica para obrigar os empregados a fazer tudo o que é preciso para manter o emprego.
Mas tenho mais vergonha de já não me lembrar se o acento de indescritível se põe no "cri" ou no "ti". Tantos anos de educação pelo cano abaixo.

No entanto, tenho vergonha de não conseguir cumprir as minhas obrigações. O que parece tão simples para todos é um pesadelo para mim.
Não sei como lidar com isto e penso que desta vez a medicina não me pode ajudar. Acho que estou arrumada. Mais mais do que o medo, o sentimento de hoje é a vergonha. Tanta vergonha!

1 comentário:

rap disse...

na verdade eu nao vou comentar eu gostaria de tirar duvidas sobre timides eu por tudo mais por tudo mesmo fico vermelho tipo assim eu nao posso falar com uma pessoa que o meu sangue ja esquenta principalmente me expondo em ambientes fechados e com grande quantidade de pessoas nao sei o meu problema nao e bem a VERGONHA...
e que eu fico vermelho por tudo sabe e eu gostaria de saber formulas ou algumas coisas que me ajudasem nisso porque isso me atrapalha de mais mesmo
eu sou brincalhao gosto de sair mais sempre retraido
me mande um email por favor me ajudando
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