quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

Os sete pecados mortais - parte II: A versão moderna

(Eu não devia estar ainda a escrever - eu devia estar aterrorizada debaixo da cama, de preferência a apanhar uma bebedeira - mas antes que me recolha ao esconderijo...)

A soberba
Começo pelo meu pecado preferido. E o meu. A Soberba é quando a auto-estima se transforma em arrogância, em desprezo pelo outro. O soberbo sente-se superior, mais sábio, mais importante, mais tudo. O soberbo está tão apaixonado por si próprio que nunca conseguirá amar o outro. O soberbo nunca saberá o que é o amor.

A inveja
A Inveja é o pecado que mais abomino. A Inveja é o contrário da soberba. O Invejoso sente-se para sempre inferior, pequenino, insignificante. Procura no outro aquilo que não tem e inveja-o por tê-lo. Se o soberbo não conhece o amor porque não consegue amar o outro, o Invejoso não conhece o amor porque nunca conseguirá amar-se a si próprio.

A avareza
A Avareza é a incapacidade de partilhar, é a ganância, o egoísmo. É a falta de solidariedade. É a exploração do trabalho, do ser, do ter do outro. O Ávaro não conhece o amor porque vê no outro um objecto a adquirir.

A Gula
A Gula é a grande amiga da Avareza. A Gula é o consumismo. É o querer sempre mais, sempre mais, sempre mais, é ter um carro maior, uma casa maior, e mais luxo, mais conforto, mais um livro, mais um cd, mais um jogo. É a falta de auto-domínio. É o crédito. É também o alcolismo, a droga legal e ilegal, o consumo do próprio corpo ao fazer o corpo consumir o que não deve. É o tabaco. É o viver para os prazeres materiais. É por isso que o Guloso não conhece o amor no outro; os bens materiais não têm amor para dar.

A Luxúria
A Lúxuria é o viver para os prazeres da carne. É a superficialidade, é a banalidade, é a falta de pensamento. É o verniz dos socialites. São as cabeças ocas, a exibição do corpo e das roupas que o cobrem, a beleza exterior e não interior, a beleza falsa e as operações plásticas. É a extravagância desmedida colada ao corpo. É o próprio endeusamento do corpo. (Pensavam que isto era a Soberba? Por vezes aproximam-se. Pensavam que a Lúxuria era ser escravo do sexo? Também, mas o sexo é o corpo.) O Luxurioso não conhece o amor porque não reconhece no outro mais do que a superficialidade da pele.

A Ira
A Ira é a violência, doméstica, urbana, rural. São os socos, os machados, as armas. São também os gritos, os insultos, os olhares de ódio. É o ódio tornado acção. É o rebentar dos instintos mais agressivos da natureza humana. É a intolerância. É o racismo e a xenofobia. É a destruição do mais fraco ou a destruição pura e simples. O Irado não conhece o amor porque destrói tudo em que toca.

A Preguiça
A Preguiça é o pecado mais perigoso. É a apatia, é o deixa andar, é o ir na corrente, é o não fazer nada, é o esperar que os outros façam tudo. É o valha-me Deus. É a alienação. É a completa insensibilidade pelo problema do outro. É a recusa em ir mais longe, em aprender, em partilhar, em explorar novos territórios. É o fechar na própria concha. É a estagnação. O Preguiçoso não conhece o amor porque conhecer o outro dá muito trabalho.



E agora, ainda responderiam da mesma forma?
E agora, ainda diriam que não têm pecado? Ou que o pecado não existe?
Quem não tem pecado que atire a primeira pedra.

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