De modo que vou responder aos comentários mais relevantes aqui, como forma de fazer um post explicativo e partilhar algumas coisas mais.
Vale a pena passar algum tempo debaixo da cama para depois explodir neste tsunami de coerência e lucidez *aplausos*.
De Jesus Rocks
Sabes que sou assim. Nos últimos dias, por exemplo, estive escondida debaixo da cama por razões que ainda não estou preparada para revelar. Mas não, não foi por causa do debate.
Agradeço as tuas palavras.
O teu voto deve ter em conta, além da pessoa que queres empossar para ser primeiro ministro, o programa do respectivo partido. O problema de votar no PP é que se tiver bastantes votos existe outra vez a possibilidade de se coligar com o PSD, e quem é que está neste momento a encabeçar este último? O nosso "amigo" que devia ter o autocolante na penca em Alcântara em vez do Portas. Eu não voto no PP porque não é a minha ideologia, além disso vou votar no partido que quero ver representado na assembleia e não no candidato a primeiro ministro, até porque este partido serve para estar na oposição. BE para que não haja confusões.
Beren
Pela minha análise fria e distanciada da situação política e pelas sondagens sobre a intenção de voto dos portugueses, não há possibilidade de o PSD ganhar. (Valha-nos Deus!)
Aliás, já votei no PP nas eleições anteriores exactamente para não permitir de modo algum que o PSD tivesse maioria absoluta.
Quanto ao Bloco de Esquerda, é um partido que admiro pessoalmente e no qual votei - ainda era o PSR, Partido Socialista Revolucionário - quando não conseguia eleger um único deputado. Nos anos 90, percebi que o PSR devia ter representação parlamentar e votei neles. Apostei neles. Se o Bloco de Esquerda hoje tem representação parlamentar, deve-o a pessoas que acreditaram neles quando ninguém acreditava.
O meu voto é estratégico. Acho muito bem que votes no Bloco de Esquerda, como eu também já votei. Mas neste momento acho que o país precisa de outras prioridades bem mais urgentes do que os direitos das minorias, por muito respeito que tenha pelos direitos das minorias. Acho que já estão comprometidos os direitos da maioria.
Talvez seja um pouco verdade que há medida que se envelhece há uma tendência para passar da esquerda para a direita. Eu também não acreditava, nos tempos em que votava no PSR. Mas isto acontece.
Actualmente, não voto em ideologias mas em pessoas. O nosso país não tem essa tradição mas é assim que eu voto. O único partido em que nunca votei foi no PSD. Nunca houve um candidato que me agradasse, um único! Confesso que o PSD é um partido que me dá nos nervos, a mim pessoalmente. E pronto, não há nada a fazer. É um partido de que de facto não gosto. Nem do partido nem dos candidatos.
Estou em choque. Vais votar CDS-PP. No homem que te vai meter na prisão se tiveres que vir a abortar e n tiveres dinheiro para ir lá fora. No que pôs Portugal na guerra sob pretexto duma mentira e que tem causado a morte de milhares de civis. Naquele que andou de feira em feira a prometer a convergência das pensões com o salário mínimo nacional. Que depois chegou ao poleiro e n cumpriu com a palavra. Naquele que AJUDOU A QUE SE ULTRAPASSASSE PELA PRIMEIRA VEZ EM PORTUGAL, o meio milhão de desempregados. Está bem. És crescidinha para teres consciência. Sugiro-te que se continuares no call center, te lembres do senhor em quem votaste dia 20 de Fevereiro. Saudações fraternas BLOQUISTAS
Rita
Cara Rita,
sobre o teu primeiro ponto, o direito a abortar, tenho a dizer apenas isto: houve um referendo. Eu fui votar. A maioria dos eleitores não se deu a esse trabalho.
Votei não. Votei não porque acho que uma vida começa no útero. Votei como me ditava a consciência. Mas votei.
Nunca, nunca!, me passou pela cabeça que o "não" ia ganhar.
Mas, mesmo que passasse, não deixava de votar não. O aborto não é, ao contrário do que muita gente pensa, um método contraceptivo fora de horas. Há que haver responsabilidade.
Mas não quero transformar isto num discurso sobre o aborto. Até porque se sou contra o aborto, sou totalmente pelo direito à eutanásia com o consentimento da pessoa em causa. Vou mais longe. Sou a favor do suicídio assistido.
Parece-te uma contradição? Paciência. Para mim são duas coisas completamente distintas. O feto não pode pronunciar-se. O adulto pode. Aqui está a diferença.
Isto é para te mostrar que por votar numa pessoa não sou obrigada - era só o que faltava! - a concordar com todas as suas ideias. Por exemplo:
No que pôs Portugal na guerra sob pretexto duma mentira e que tem causado a morte de milhares de civis.
Isso foi um erro crasso e inadmissível. Discordo totalmente dessa opção, como deves imaginar depois do meu post a elogiar Zapatero por ter retirado as tropas do Iraque.
Mas o que está feito está feito.
Vou fechar os olhos? Sim, vou. Porque também votei no Presidente que impediu que o exército fosse mobilizado para o Iraque. A nossa presença no Iraque, meia dúzia de GNRs, foi mais marketing que outra coisa.
Sei o que faço. O nosso sistema misto parlamentar/presidencial permite-nos escolher um poder que contrarie e contrabalance o outro. Foi o que eu fiz. Como os analistas costumam dizer, "não pôr os ovos todos no mesmo saco". Porque se o saco cai, partem-se todos.
Naquele que andou de feira em feira a prometer a convergência das pensões com o salário mínimo nacional. Que depois chegou ao poleiro e n cumpriu com a palavra.
Todos prometem isso. Ninguém cumpre porque ninguém pdoe cumprir. Porque a situação económica está tão caótica que isso não pode ser cumprido.
Por outro lado, quem é que acabou com o SMO (Serviço Militar Obrigatório)? Então não é que foi o próprio Paulo Portas?
Sabes ou não sabes como o SMO era um flagelo para os jovens da minha geração? E, do mais irónico que possa haver, foi o ministro do Dia da Defesa Nacional que deixou o seu nome escrito junto com o fim do SMO, contra o qual eu estou a lutar desde que me lembro. Eu e o PSR!
É como eu digo, a situação é anómala. A direita cumpre as promessas da esquerda.
Naquele que AJUDOU A QUE SE ULTRAPASSASSE PELA PRIMEIRA VEZ EM PORTUGAL, o meio milhão de desempregados. Está bem. És crescidinha para teres consciência. Sugiro-te que se continuares no call center, te lembres do senhor em quem votaste dia 20 de Fevereiro.
Culpar o CDS-PP por uma situação gerada por todos os partidos que estiveram no poder nos últimos 10 anos (já nem falo nos 30) é simplesmente injusto. A nossa situação económica é grave e não era de esperar outra coisa senão o aumento do desemprego. E acredito que vai continuar a aumentar, seja qual for o partido que estiver no governo. Porque, a verdade é essa, o Estado não é um Salvador. É preciso que a economia crie emprego por si própria. Já aqui expliquei as razões porque acho que a nossa economia está a atrofiar. Grande parte da culpa é do Estado, mas não é só. Grande parte da culpa é da mentalidade. O que o Estado pode fazer é cultivar uma política de mérito.
Por exemplo, começando por não abolir exames no Ensino. Pedir exigência, não facilitismo. E o facilitismo tem sido a opção do Estado, em todos os domínios. Os resultados estão à vista.
Saudações fraternas BLOQUISTAS
Não me identifico com partidos por isso não posso retribuir com saudações de direita ou de esquerda. (Aposto que também deves estar admirada por eu ter votado no PSR quando era altura disso.)
Mando-te saudações góticas.
Quanto às cunhas. Já tinha estado a pensar nisso, e sempre achei que há dois tipos de cunhas: as "cunhas boas" e as "cunhas más". As más, as que realmente corroem a sociedade, são aquelas em que se favorece o primo ou a sobrinha não sei de quem, sem que a pessoa em causa tenha feito nada para merecer o posto; as "boas" são aquelas em que se dá o posto preferencialmente a uma pessoa porque se a conhece e se sabe como trabalha e do que é capaz, mesmo não tendo o melhor curriculum de entre os candidatos.
(...)
badoo
As que tu chamas "cunhas boas" não são cunhas. Se eu tiver uma empresa e te conhecer e te contratar porque conheço o teu trabalho, não te estou a contratar por cunha.
Agora, de repente, apercebi-me que não existe uma noção clara do que é uma cunha. Uma cunha é quando se pede a alguém: "arranja um emprego para esta pessoa". Não pelo trabalho da pessoa, mas por ser essa pessoa. Por ser familiar, amigo, não interessando as suas habilitações e capacidades. Simplesmente porque a pessoa precisa de trabalhar e não consegue arranjar emprego sem a "cunha". Sem os "conhecimentos".
Estas pessoas, por terem conhecimentos, passam à frente das outras todas (tendo mérito ou não). Ou seja, arranjamos emprego graças aos nossos conhecimentos, não ao nosso mérito. É isso que eu acho inaceitável, ter de depender da simpatia alheia para conseguir alguma coisa da vida. Ter de fazer "amigos" que não são amigos. Fingir. Fazer teatro. Tudo isso me dá voltas ao estômago. Vai completamente contra o meu carácter.
Sou totalmente contra qualquer cunha, o lugar deve pertencer a quem tiver melhor competência lidar com ele. Agora se o facto de conheceres a pessoa te ajudar a ver quem tem mais competência já concordo contigo. Eu sei que é difícil porque as pessoas são nossas amigas e só queremos o bem para elas mas não podemos ceder, a falta de competência é um grande problema no nosso país. Basta ver por exemplo a contrução civil em que muitas das casas são mal construtivas apenas porque não se evitam coisas tão simples não deixar fendas nas juntas de dilatação, por exemplo. Não eu não estou nessa área, mas tenho os olhos abertos.
Beren
A falta de competência vem da falta de formação de qualidade. Pede-me para pôr um tijolo e eu ponho-o mal. Porque nunca tive formação. E isto acontece em todas as empresas.
A educação em Portugal não presta. Não há exigência. Os próprios alunos e os pais dos alunos recusam a exigência. Querem o facilitismo. O resultado está à vista.
As empresas não apostam em formação. Quando a pessoa fica desempregada, fica também desactualizada e não tem competência para arranjar outro emprego. Porque passou 10 ou 20 anos a fazer uma coisa e apenas essa coisa.
É particularmente grave o que se passa nos sectores da pesca, da agricultura, dos têxteis. Nos têxteis vai ser uma razia.
As empresas pensam que a curto prazo não gastam dinheiro em formação mas esquecem-se de que a longo prazo vão precisar de pessoas qualificadas e não vão ter.
Nessa altura, vão contratar-me para pôr um tijolo e o tijolo vai ficar mal posto.
Na área da construção, principalmente, existe ainda um monstro mais diabólico que é a falta de fiscalização. A impunidade completa e total. Se o prédio cair, os inquilinos vão queixar-se à companhia de seguros. A companhia de seguros vai evitar pagar.
O caso vai para tribunal. Arrasta-se anos e anos até que prescreve. Ganha a parte mais forte por inércia do sistema.
Os cidadãos não têm direito à Justiça.
Tudo isto está relacionado com a situação pantanosa do país porque ninguém tem coragem de mexer nos interesses estabelecidos. E se ninguém mexe, não muda nada. Estagna. Apodrece. Foi o que aconteceu.
Não sou a única a dizê-lo. Há anos que o diagnóstico está feito.
Mas as pessoas estão distraídas a ver a bola. Só se apercebem quando o tecto lhes cai em cima (figurativamente). E, mesmo assim, se ainda tiverem a televisão a funcionar, são capazes de esperar pelo fim do jogo para se decidirem a fazer qualquer coisa! Ah. Ah. Ah.
É tão típico da condição humana.
(...)
Não contraries os teus ideais. A não ser que com eles [ideais de direita] te identifiques, o voto em branco é sempre uma manifestação da tua vontade. Ao contrário do não-voto, da alienação a esse acto de liberdade de expressão perante quem nos [des]governa!
(...) porque tem mérito e acredita no mérito (...)
O Hitler também teve o seu mérito, e não creio que isso seja motivo para admirá-lo... =(
eu mesma
(...)
Não se tem nada a perder [ou quase nada]. Ora, a meu ver, o difícil está no desafio de fazê-lo sem a tal base. O mérito está todo aí!!
E a título de exemplo...
Catarina Eufémia
Votar em branco é que não. É preferível votar no menos mau do que votar em branco ou não votar sequer. Votar em branco é como não votar. É um protesto, muito bem, mas quem é que liga a esse protesto? Como diria o outro, "Ninguém."
Inútil. Um voto completamente inútil.
Se as pessoas continuarem a demitir-se do acto de voto, qualquer dia temos uma ditadura. Em vez de votarem meia dúzia, não vota ninguém. Sempre se poupa dinheiro em eleições. (Isto, meus amigos, foi sarcasmo. Para os que não perceberam. Hoje em dia há que ter muito cuidado com as palavras.)
Comparar alguém da nossa democracia ao Hitler é injusto e demagógico. E se houver comparações a fazer, serei a primeira a apontá-las, não te preocupes. Estou atenta, muito atenta.
Quanto à pobre Catarina Eufémia, tenho de discordar de ti. Não existe grande mérito em arriscar tudo quando não se tem nada (ou muito pouco) a perder. Existe coragem? Claro que sim. Mas se a "Catarina Eufémia" dos nossos dias estiver entretida a ver a Quinta das Celebridades não se dá ao trabalho de ir para o campo protestar. A não ser, mais uma vez insisto, que não tenha sequer televisão. Aí, sim, começa a perceber que tem de ir protestar e arriscar tudo.
Ah, a alienação das massas é tão perigosa!
Deves ser completamente chanfrada dos cornos não? Depois de um discurso de independência e de estar acima da cunha e do favor ir votar no Paulo Portas, o que é a completa negação da subversão ao sistema. Se a maioria dos outros for como tu estamos bem lixados.
Acosta
Sim, sim, estava à espera de comentários destes.
A subversão do sistema, no meu entender, é mudar alguma coisa. A maioria dos outros não é como eu e tem memória curta e acredita numa coisa chamada "voto útil". Mas chegámos a uma situação em que é intolerável votar nos maiores partidos que acabam por fazer, ambos, o mesmo. Em que acaba por não haver diferença. Talvez seja a mudança necessária, votar nos pequenos partidos.
Não vejo mesmo o que é que o Paulo Portas tem a ver com cunhas. Se está no poder, ao contrário do nosso actual primeiro ministro, foi porque conseguiu votos suficientes para ter força para fazer uma coligação. O nosso actual primeiro ministro foi uma aberração da democracia, um imprevisto que não devia acontecer.
Paulo Portas é um político. A única coisa que pode fazer neste momento é distanciar-se o mais possível do PSD, mas, nunca esqueçamos, a função de um político é chegar ao poder. Não é ser santo.
O debate
Confesso que o debate entre Sócrates e Santana me provocou uma reacção inesperada. A certa altura senti-me constrangida por ver Santana ser cilindrado por Sócrates. Confesso, tive tanta pena do homem que por altura do intervalo preferia que dessem o debate por encerrado. Que tirassem o homem dali. É como pôr um aluno de 18 valores a competir com um aluno que passa à rasca. Nem sequer é justo.
Fiquei surpreendida com Sócrates. Não esperava tanto. Tive pena de Santana. De modo que nem lhe vou chamar palhaço outra vez, porque tenho coração.
Houve uma parte, contudo, que enterrou definitivamente o Santana. E o Sócrates também. Disse Santana, referindo-se a Portugal: "... um país que vive do turismo..."
E Sócrates deixou passar esta. DEIXOU PASSAR ESTA.
Ou seja, para ambos, já estamos condenados a ser o hotel da Europa. Nem sequer dão luta. O país vai ser uma pensão. O país já vive do turismo.
Acabe-se pois com a agricultura e com os nabos gigantes do Entroncamento, acabe-se com a pesca, acabe-se coma indústria, acabe-se com tudo menos com o comércio. Não se produza nada. Venda-se tudo. Seja o país uma grande Feira da Ladra.
Empregue-se a Catarina Eufémia no El Corte Inglés.
É isto que os portugueses querem? É mesmo isto? Eu não quero.
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