terça-feira, 5 de agosto de 2025

Crise, qual crise - habitação

Há muito tempo que não falava de política/sociedade. Ora cá vai um apontamento da actualidade.
Eu devo ser mais lenta do que pensava. Finalmente consegui perceber o que é afinal a Puta da Crise Crónica - Crise, Qual Crise?, sobre a qual ando aqui a escrever há anos.
Tenho ficado muito perplexa com a "crise da habitação". Mas qual crise? As casas estão caras, não se consegue arrendar? E onde é que está a novidade? Qual é a diferença agora? Nos anos 60 e 70 a minha tia arrendava um apartamento de várias assoalhadas em Lisboa com os quartos todos "alugados". Um estivador aqui vizinho "arrendava" uma despensa de pátio onde só cabia uma cama de molas e um fogão de campismo. Outro vizinho vivia num armazém de refugo de madeira (antigo palheiro para animais de manjedoura), exíguo, de uma fábrica quando havia fábricas em Lisboa. Vivia-se assim, sempre foi normal. E havia barracas, sim havia, nos arredores. O palheiro sempre era mais perto do local de trabalho.
De repente, fez-se um clique, um momento EUREKA. Só se chama crise quando afecta a classe média. Quando (ainda só) afecta os pobres não faz mal, é normal, "não estudaram/não querem trabalhar". Mas quando toca nos filhos daqueles que conseguem arrendar e pagar empréstimos, aí já é crise. Percebi.
Isto já aconteceu com a crise do emprego precário, nos últimos 20 anos, quando os filhos da classe média saíram das faculdades e não conseguiam arranjar nada sem ser a recibos verdes (hoje recebem o ordenado mínimo). Pensei que, sei lá, as pessoas tivessem aberto a pestana. Afinal não.
Não é crise quando só afecta os filhos dos pobres. Está esclarecido.
 

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