Quatro amigas adolescentes decidem mergulhar nas ruínas de uma cidade Maia submersa pela subida do oceano, só para se verem encurraladas e rodeadas de tubarões-brancos.
Este filme vem na sequência de “47 Meters Down” mas a história é completamente diferente. Em comum, apenas duas irmãs, como no original, e mais um pormenorzinho de que falarei à frente. O pai destas duas irmãs é um mergulhador que anda precisamente a preparar as grutas inundadas da cidade Maia, no México, para uma exploração arqueológica. Aliás, ele não é o único, faz parte de uma equipa de mergulhadores (vai ser importante depois). Esta equipa não é muito cuidadosa com o sítio onde deixa o equipamento de mergulho, e as quatro amigas encontram-no na lagoa onde vão nadar. Ao ver o equipamento, uma delas convence as outras a visitarem as ruínas submersas, onde um dos membros da equipa já a tinha levado antes. A ideia é entrarem na primeira câmara e apenas nessa, mas uma vez nas ruínas uma das raparigas assusta-se com um peixe cego que se assanha a ela (sim, o peixe assanha-se*), vai de encontro a uma coluna, a coluna cai, e ao que parece isto causa a abertura de uma nova passagem. Desta nova passagem aparece um tubarão-branco dos grandalhões, mas cego como o peixe, que ao investir contra as raparigas provoca o desabamento da entrada por onde elas vieram. Agora elas estão encurraladas, as botijas de oxigénio estão a esgotar-se, aparecem mais tubarões, e as raparigas têm de descobrir uma outra saída no labirinto que são as ruínas Maias. O pormenor semelhante ao do filme anterior, em que as irmãs acreditavam que os tubarões tinham medo dos very lights (não têm), é que a certa altura as raparigas pensam que os tubarões têm medo de um localizador de mergulho que emite um sinal sonoro e luminoso (mas aparentemente também estão enganadas).
O resto é o que se espera de um filme de tubarões, mas há aqui muita coisa sem pés nem cabeça. Para começar, as raparigas teorizam (têm equipamento de mergulho que lhes permite comunicar, ou permitiria se o equipamento fosse realista…) que os tubarões evoluíram nas grutas e que por isso são cegos. Ora, eu não estava à espera que as raparigas, naquela situação aflitiva, se pusessem a conferenciar sobre a evolução dos tubarões, mas isto não faz sentido nenhum. Mesmo que os tubarões tivessem perdido a visão em centenas de anos (os Maias não são assim tão longínquos), o ecossistema das grutas não tinha alimento que chegasse. Estas ruínas foram escavadas na rocha e serviam de catacumbas (embora os personagens se tenham referido a elas antes como “cidade”). Que tamanho poderiam ter estas catacumbas subterrâneas que permitissem a subsistência e movimentação de tubarões de 6 metros, que exigem tanto espaço? Um campo de futebol, dois, três, quatro? E, mais importante de tudo, como é que a equipa de mergulhadores, que já andava a trabalhar nas grutas há bastante tempo, nunca se apercebeu da presença de tubarões de 6 metros mesmo ali ao lado, e não descobriu antes a passagem que parecia afinal tão fácil de derrubar? Sobre os tubarões propriamente ditos, se eram cegos e caçavam por ouvido e por vibrações na água, porque é que tinham tanta dificuldade em localizar as raparigas que não paravam de gritar a torto e a direito e faziam tanto estardalhaço? Estes pobres tubarões já deviam ter morrido de fome a tentar apanhar os peixes assanhados, que ainda assim eram mais silenciosos.
Como se vê, este é daqueles filmes que criaram um cenário sem preocupações com o realismo só para lá porem as raparigas e os tubarões. O fim, então, é para achar ridículo ou para rir às gargalhadas, o que acontecer primeiro. Filmes de tubarões não precisam de muito enredo mas “47 Meters Down: Uncaged” exagerou um bocadinho. Não há aqui nada para ver excepto tubarões a comer pessoas (mas isso já era de esperar) num cenário delirante. Personagens, enredo, drama, lógica, nada disso pesou em consideração. Mas se querem ver um peixe assanhado, é aqui.
Por último, o CGI dos tubarões é tão mauzinho que não consegui arranjar uma imagem decente para ilustrar o post sem que eles parecessem bonecos de plástico, o que já diz tudo.
* Sim, o peixe assanha-se e grita com a rapariga. Eu nem reparei nisto, pensei que tinha sido ela a gritar, como efectivamente grita, mas depois de ler algumas críticas que salientam este pormenor fui ver de novo e de facto o peixe grita. Já os tubarões estão caladinhos para não fazerem figuras tristes. O grito do peixe lembra-me aquela música dos Trovante: Onde as bruxas dançam, / quando os mochos amam / E as pedras choram. E os peixes gritam.
12 em 20 (mais um ponto porque o peixe grita)
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