domingo, 14 de janeiro de 2024

Remember / O Número (2015)

Às vezes há filmes tão geniais que explicar a sua genialidade seria um spoiler em si próprio. Logo, vão ter de acreditar em mim.
A dificuldade começa desde já na sinopse, para não se incorrer em spoilers e incorrecções. A história começa num lar de idosos onde um dos últimos sobreviventes de Auschwitz, Max, já muito idoso e fisicamente incapacitado, convence o amigo Zev a procurar e abater o chefe de campo que matou toda a sua família. Zev compromete-se a fazê-lo assim que a sua esposa Ruth morrer, o que eventualmente acontece. Mas Zev sofre de demência e sempre que acorda não sabe onde está nem quem é, nem sequer se lembra de que a esposa morreu. Por isso, Max escreve-lhe uma carta explicando tudo o que se passa e o que Zev tem de fazer. Existem quatro suspeitos de serem este chefe de campo, todos eles chamados Kurlander, um nome roubado a uma vítima de Auschwitz para que o culpado pudesse emigrar para os Estados Unidos e fugir à justiça. Zev, velho e demente, tem de os procurar e matar o verdadeiro Kurlander uma vez que, diz-lhe Max, “somos os últimos que nos lembramos da cara dele”.
Durante a sua odisseia, Zev esquece-se muitas vezes do seu propósito e da própria carta, a ponto de ter de escrever no pulso “ler a carta”, ironicamente junto ao número tatuado em Auschwitz.
Os primeiros Kurlanders não são quem ele procura, e um deles até já morreu, mas o filho deste é um nazi americano do piorio (Dean Norris, o Hank Schrader de “Breaking Bad”), e ainda por cima polícia! Atacado por este e pela sua cadela pastora alemã que o recorda do campo de concentração, Zev mata os dois em auto-defesa. Mas a sua busca ainda não terminou. O pai deste Kurlander não era o chefe de campo.
A genialidade do filme está no final, quando Zev encontra o culpado. Caiu-me o queixo com a revelação, que obviamente não vou contar. Mas confesso que a certa altura comecei a desconfiar, apenas numa de “e se…?”. Muitas vezes me recordo dos pormenores do filme, cujo ritmo não é tão rápido que obrigue uma pessoa a parar e tomar notas, e tenho aquele momento “ah!” que esclarece alguns pontos que até podiam parecer plot holes, só que não são. Quanto mais recordo, como o velhote do filme, mais as coisas encaixam e fazem sentido.
O que parece um filme sobre um velhinho demente numa demanda impossível é uma história de vingança bem urdida, porque a vingança serve-se fria. Neste caso, gelada.

18 em 20

 

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