domingo, 1 de outubro de 2023

Child 44 / A Criança nº 44 (2015)

“Child 44” é um filme ambicioso, uma mistura de “1984” com “Mentes Criminosas”, que nem sempre está à altura da ambição. Leo Demidov é um órfão e herói de guerra na União Soviética. Nos anos 50, trabalha para um ministério do regime que se dedica a prender dissidentes (uma pré-KGB, imagino). Na vertente “1984”, um dos subalternos da mesma equipa de Leo prepara-lhe uma armadilha: denuncia-lhe a esposa, Raisa, como traidora. Na União Soviética de Estaline ser acusado era já ser culpado, e Leo só tem uma solução para se salvar a si próprio: incriminar a mulher. Mas não o faz, mesmo sabendo que se condena a ser “culpado por associação”. Como consequência, é despromovido e enviado para uma terrinha do interior. A mulher, professora, também é despromovida a contínua e obrigada a executar trabalhos menores como lavar o chão.
Entretanto, a parte “Mentes Criminosas”. O filho de um dos outros caça-dissidentes, ainda rapazinho, aparece morto junto à linha de comboio com lacerações suspeitas no corpo. Mas na União Soviética de Estaline não pode haver homicídio (Estaline considera o homicídio um “pecado capitalista”), e por isso a morte do rapaz é considerada um acidente, para grande revolta do pai do miúdo que sabe de certeza que o filho foi assassinado. Mas, para não arranjar mais problemas à família, até o pai revoltado concorda em fingir que acredita na versão oficial.
Leo é transferido, mas não consegue parar de investigar. Descobre que não foi caso único e que já há mais de 40 rapazinhos mortos da mesma maneira ao longo da linha de comboio, todos atribuídos a causas acidentais e/ou com vários inocentes punidos por algo que não fizeram. Leo percebe que existe um assassino (serial killer, se eles usassem a palavra) que opera utilizando as linhas de comboio e faz tudo para o deter, mesmo tendo de lutar igualmente contra o regime que nega as evidências. É que o filho do amigo foi a criança nº 44.
Tudo isto parece muito interessante, um serial killer num regime distópico tipo “1984”, e ambas as histórias prendem a atenção. De tal maneira que acabam por se atrapalhar uma à outra. É caso para perguntar, o que achamos mais arrepiante? Um regime em que se podia ser abatido a tiro só por causa de uma denúncia falsa, ou um serial killer que mata rapazinhos?
Mas o filme não fica por aqui em termos de drama. Ao mesmo tempo, Leo descobre que a sua esposa, Raisa, não se casou com ele por amor mas porque tinha medo de represálias se o recusasse. Inclusive, fingiu-se grávida para que ele não a incriminasse quando a denunciaram injustamente. Ui, isto deve doer! Por outro lado ainda, Leo confronta-se com o que fez quando era ele o perseguidor e não o perseguido, e questiona-se se não será um monstro. Encontrar o assassino dos miúdos torna-se a sua missão de vida, a sua redenção. Conseguirá redimir-se? Conseguirá conquistar a esposa, desta vez pelo amor e não pelo medo?
O problema do filme é estar demasiado recheado de pontos de interesse que acabam por não ser desenvolvidos como mereciam. Mal nos começamos a interessar por um, aparece logo outro. O fim, infelizmente, não faz jus à premissa. Acredito que a ideia soava muito bem no “papel”, mas falhou na execução.

13 em 20 (porque a ideia era boa)

 

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