domingo, 17 de outubro de 2021

Supernatural / Sobrenatural (2005 - 2020)


[alguns spoilers inevitáveis mas não revela o fim, era só o que faltava depois de 15 temporadas!]

Quinze anos. Quinze temporadas. Sem um único episódio mau. Ou melhor, até os episódios mais fracos eram bons. Não é para todos, e “Sobrenatural” é uma das séries mais subestimadas de todos os tempos.
Para quem não sabe, “Sobrenatural” foi pensado para cinco temporadas. Dois irmãos caçadores de monstros (o negócio de família, como eles dizem), um monstro da semana, 23 episódios do mesmo todas as temporadas. Mas a certa a altura a coisa cresceu, muito por responsabilidade dos excelentes actores capazes do mais dramático e do mais cómico, Jared Padalecki e Jensen Ackles, a que brevemente se juntou Misha Collins que imediatamente nos “convenceu” de que era mesmo um anjo.
As interpretações, das personagens principais às secundárias, são extraordinárias e envergonham muitas outras séries mais vistas e ditas de qualidade. (Vou ter de recorrer a cábulas para isto, porque foram muitas, muitas personagens. Quinze temporadas!) Mark Pellegrino foi um dos melhores Lúciferes que eu já vi, em filme ou televisão. O mesmo posso dizer de Julian Richings no papel de Morte (a Morte mesmo, um dos cavaleiros do Apocalipse). Julian Richings fez uma Morte tão sinistra que a partir de agora não o vou conseguir ver de outra maneira. Mas não descuremos a Morte que o substituiu quando a primeira Morte morreu (sim, nesta série a Morte foi para o Outro Mundo), a fantástica Billie (Lisa Berrie) que quase conseguiu ser tão sinistra como o seu “patrão”, mas a actriz é demasiado bonita para ser tão ameaçadora, diga-se a verdade, e mesmo assim fez uma Morte de meter medo.
Não nos podemos esquecer do carismático Crowley (Mark Sheppard), primeiro um humilde Demónio de Encruzilhadas promovido a Rei do Inferno, que sempre que entrava em cena roubava o cenário todo. O que me lembra a mãe dele, Rowena (Ruth Connell), bruxa centenária, umas vezes vilã outras aliada, conforme lhe dava mais jeito.
Receio cometer a injustiça de me esquecer de alguém, porque algo que “Sobrenatural” sempre fez bem foi desenvolver excepcionalmente as personagens, dos heróis aos vilões. Quando alguém morria a gente sentia, e de que maneira. Por exemplo, Bobby (Jim Beaver). Custou-me uns dois episódios a acreditar que ele tinha morrido mesmo. (E penso que foi a primeira vez que Dean disse que se Bobby morresse ele matava Deus, mas toda a gente pensou que era um desabafo do luto…) Mas em “Sobrenatural” ninguém morre mesmo, o que ainda deu umas cenas hilariantes no Céu.
Para não descurar ninguém, remeto os leitores para a página dos créditos do IMDB, onde poderão recordar todos os personagens e actores. Inesquecíveis, mas é impossível lembrar todos de uma vez só para este post. Por mim, tenciono ver a série toda outra vez, desde a primeira temporada. Foi muito riso, muita emoção. Quando via um episódio de “Sobrenatural”, sabia que ia ficar bem disposta. Tirando aqueles em que morria mesmo gente. Esses não eram divertidos. “Sobrenatural” tinha uma faceta cómica, é inegável, mas o drama podia ser pesado.

Mais Sobrenatural não há
Sam e Dean são heróis imbatíveis, mas nunca super-heróis. Como humanos que são, correm todos os riscos que qualquer pessoa correria. Mesmo assim, evitaram o Apocalipse, foram ao Inferno, foram ao Céu, morreram várias vezes, foram ao Purgatório. Para além da legião de vampiros, lobisomens, djinns, wendigos e que tais que eram os ossos do ofício, enfrentaram entidades cósmicas cada vez mais poderosas: demónios, Lúcifer, anjos e serafins e arcanjos, o Rei do Inferno, a bruxa mais competente do planeta, eles próprios quase se transformaram em demónios também (entre outros monstros que os “infectaram”), Hitler (que não é uma entidade cósmica mas é sem dúvida um super-vilão), a Escuridão, irmã de Deus (Amara, Emily Swallow) sim, Deus tem uma irmã! Ainda estou de boca aberta por uma cadeia de televisão americana ter deixado isto passar. Se calhar por causa do humor não perceberam o potencial blasfemo, ou porque a série teve o cuidado de nunca tocar no nome de Jesus, ainda mais sensível para os cristãos do que o próprio Deus, aliás, um Deus muito à Velho Testamento. No fim, os irmãos Winchester tiveram de enfrentar o Ser mais sobrenatural de todos, o Ser que criou o Natural, logo, está acima dele: tiveram de combater Deus!
É verdade que o Deus de “Sobrenatural” não é o “nosso” Deus, antes um escritor falhado e caprichoso que insiste que o tratem por Chuck, mas não deixa de ser o Todo-Poderoso. Como poderiam Sam, Dean e Castiel, auto-intitulados Equipa Livre-arbítrio, contrariar o destino que Chuck tinha delineado para eles e para toda a Criação?
Que mais dizer de uma série que durou quinze anos e quinze temporadas, que nunca se tornou irrelevante, que manteve sempre o suspense e acabou enquanto era boa? Confesso que esperava outro fim. Por muito que os protagonistas avisassem que o fim seria sangrento, eu sempre tive esperança de um final feliz para os rapazes… E foi um fim feliz, mais ou menos. Mas para compreender isto é preciso aceitar a sólida mitologia da série. Quem diria, na quinta temporada, quando a sinistra Morte comentou que um dia Deus também seria “ceifado”, que os variados escritores que vieram depois nunca tivessem deixado cair essa ideia? É tão raro ver um enredo bem construído, sem pontas soltas, especialmente numa série desta longevidade!
Só posso aconselhar a que se veja do princípio, desde o primeiro episódio até ao último. Vou sentir falta do divertimento (muitas vezes negro e amargo) que “Sobrenatural” me trazia todas as semanas. Mas se é para acabar, e tudo acaba, mais vale acabar enquanto é bom.


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