domingo, 24 de outubro de 2021

Convergente / Allegiant (2016)


Geralmente chego aqui e escrevo um testamento, mas no caso de “Convergente” (série “Divergente”) só tenho uma palavra a dizer: detestei.
Detestei o primeiro filme, detestei ainda mais o livro, detestei de tal modo o segundo filme, “Insurgente”, que tive de ir ali à lista lembrar-me se tinha escrito sobre ele. Não escrevi muito porque não há muito para dizer.
Mas vamos lá a um bocadinho de contexto. Beatrice acaba de saber que é divergente e que é a única que consegue manipular as simulações a que a população lá da terra (Chicago, no futuro) é constantemente submetida. Aquilo não é vida, é um jogo de vídeo. A classe dominante quer matar todos os divergentes “porque sim”, e Beatrice tem de fugir e perde os pais. Entretanto descobrimos que o namorado dela, Quatro, também é um bocadinho divergente. (Foi isso, não foi?) Beatrice é a única que pode decifrar uma mensagem surpreendente: há vida fora de Chicago.
Em “Convergente”, Beatrice e Quatro saem de Chicago à procura dessa civilização humana que julgavam extinta e descobrem outra distopia. Afinal o sistema de castas de Chicago foi tudo uma experiência para provar que os seres humanos não podem ser catalogados em estereótipos de personalidade porque todos têm um pouco uns dos outros (olha o que eles descobriram!). Nesta outra distopia, Beatrice é a única considerada Pura, por ser divergente, enquanto que as pessoas mais adaptadas às castas são consideradas Danificadas. (Não me perguntem!) Beatrice é, pois, a prova de que… de que… não sei do quê, porque os autores da experiência são todos divergentes também. A prova de que mesmo num sistema de castas há alguém que não pertence ao rebanho? (Olha o que eles descobriram!)
Aqui perdi-me, confesso. Acho que a principal razão para não gostar destes filmes é um excesso de ficção científica que me distrai da história a ponto de deixar de acompanhá-la. Por exemplo, aquela redoma invisível que impede os habitantes de Chicago de verem que existe mundo para lá da cidade. Um mundo destruído, mas existe. Muito do filme/série se passa em torno destas coisas que não me interessam nada: carros voadores, redomas invisíveis, simuladores, drones, chips. Muito espectáculo, pouco conteúdo. Numa distopia, o importante seria a análise filosófica e sociológica da sociedade disfuncional. Eu quero lá saber da redoma invisível quando o mais interessante mal é abordado!
Com a implosão do sistema de castas rebentou a guerra em Chicago, e Beatrice descobre que os autores da experiência podem intervir mas não o fazem. Ou seja, a civilização em que ela punha todas as esperanças de escapar é tão má, ou pior, do que aquela que já conhecia.
Em Chicago, as coisas estão mesmo muito más. Há execuções sumárias de todos os que participaram na tentativa de golpe de Estado. Parece a União Soviética em plena revolução bolchevique ou a França depois da queda da Bastilha, só faltando as guilhotinas. Mas Beatrice chega, aponta o verdadeiro inimigo fora das fronteiras da cidade, e todo o sangue derramado é imediatamente esquecido. Não, meus senhores, não. É por causa deste sangue derramado na vingança que se dão as guerras civis. Não basta chegar uma miúda e dizer que os Maus são aqueles. Em Chicago já não havia volta a dar. Era a guerra civil mesmo.
E com este momento de história infantil com final feliz que não respeita o que acontece na História real termina esta série medíocre, com um enredo medíocre e personagens medíocres. Uma perda de tempo descomunal.

10 em 20

 

 

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