Não vi “Dawn of the Dead” mais cedo porque sempre pensei, pelo título, que este era o filme de 1978. Afinal é um remake, desta vez dirigido por Zack Snyder. Até parece que George A. Romero não teve nada a ver com este filme, apesar de ser mencionado nos créditos como escritor do original. O filme de 1978 é um clássico, mas na minha opinião tão mauzinho, comparado com o fantástico “Night of the Living Dead” (1968), que nunca me passou pela cabeça que quisessem fazer um remake.
Não sei o que teria pensado deste filme de 2004 se o tivesse visto na altura. É oficial, “The Walking Dead” estragou-me todos os filmes de zombies que já vi depois da série. A qualidade de “The Walking Dead” deteriorou-se, é verdade, e a série actualmente tem dificuldade em viver à altura das primeiras temporadas, mas essas primeiras temporadas foram tão marcantes, e deixaram uma mitologia tão bem estabelecida, que tudo o que se fez antes e depois me faz encolher os ombros.
Com a excepção do primeiro dos filmes, “Night of the Living Dead”, de 1968, a preto e branco, que ainda prefiro não ver sozinha porque aquilo é mesmo de meter medo.
Este “Dawn of the Dead” de 2004 é mais um para ver e esquecer. Primeiro que tudo, este foi um daqueles em que alguém achou que os zombies metiam mais medo se fossem mais rápidos. Isto deu em “zombies de corrida”, como já disse aqui mal suficiente em “World War Z”. Neste filme os zombies também correm e saltam (de esconderijos no tecto, ainda por cima) atrás dos sobreviventes. A certa altura parecia que estavam a ser perseguidos por um bando de gente enfurecida em vez de zombies. Ora, por alguma razão o filme de 1968 foi tão eficaz. Porque os zombies são lentos, aparentemente pouco perigosos e acéfalos, mas quando são muitos é que a porca torce o rabo. “The Walking Dead” percebeu isto desde logo, que o clássico é que era bom, e foi assim que se tornou um clássico também.
“The Walking Dead” foi buscar outra coisa à mitologia de “Night of the Living Dead”, e explorou-a. Todos têm o vírus, todos se transformam em zombies depois de mortos. Isto agora já me parece tão óbvio que fiquei desapontada quando neste filme de 2004 só os mordidos por zombies se transformam em zombies. Assim é muito menos perigoso. Em “The Walking Dead” não há mortos “seguros”. Todos têm de levar uma facada no cérebro, até amigos e família, para aumentar o drama.
Mas “The Walking Dead” foi buscar coisas a este filme também, em que uma meia dúzia de sobreviventes se refugiam num supermercado à espera que os venham salvar. Em frente ao supermercado há um prédio onde um jovem está a observar tudo do telhado, com binóculos, e a dar conselhos aos outros sobreviventes. Este jovem, não há volta a dar, pareceu-me o Glenn que salva a vida a Rick Grimes em Atlanta.
Por outro lado, “The Walking Dead” não esconde as suas influências. Em “Dawn of the Dead” os sobreviventes escrevem nas paredes: HELP ALIVE INSIDE. O que se torna, no hospital onde Rick Grimes acorda do coma, no enigmático:
DON’T DEAD
OPEN INSIDE
Já a deixar antever que esta não ia ser apenas mais uma série de zombies em que não era preciso pensar muito, como começava a ser expectável dos filmes do género pós-“Night of the Living Dead”.
Diria mesmo que o melhor que o remake “Dawn of the Dead” conseguiu foi dar ideias a “The Walking Dead”. De resto é um filme esquecível. Um filme até a querer mais ser um slasher do que um filme de zombies, como mostra a parte da serra eléctrica, completamente dispensável. Personagens estereotipados, alguns até pouco credíveis não obstante o estereótipo, os bons e os maus e os heróis, um enredo previsível. No fim, como num bom slasher, morrem todos à mesma, apesar dos grandes esforços para escapar, ou pelo menos é isso que se dá a entender. Mas a verdade é que não há aqui um único personagem por quem a gente se interesse, e aquele que ainda nos interessa mais já tem o destino traçado ainda antes da fuga final. Isto não é bom drama, nem o pretendia ser. Mas o público já estava preparado para mais do que isto, e “The Walking Dead” teve o mérito de ir explorar os personagens em vez dos zombies, a sociedade a desmantelar-se em poucos dias em vez das serras eléctricas. O público estava preparado para “The Walking Dead”.
Ver “Dawn of the Dead” agora parece-me um exercício injusto, um filme que mirrou à sombra de uma série que o suplantou. Recomendo apenas aos grandes fãs do género. A quem quiser ver um filme antigo de zombies que mete mesmo medo, recomendo “Night of the Living Dead” (1968).
14 em 20 (mais alguns pontos porque deu tantas ideias a “The Walking Dead”)
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