sexta-feira, 7 de outubro de 2005

Autárquicas

(Olho para o relógio. Ainda se pode, não pode? Pode. Mesmo que não pudesse, fazia-se batota na hora do Blogger e passava a poder. Se há algo em que um bom português é especialista é em aldrabar o sistema. O que vem mesmo a propósito das autárquicas.)

Ora aqui em Lisboa os candidatos não entusiasmam. Até ao debate na RPT1 não tinha ideia das propostas de cada candidato... e depois do debate também não.
Pensar que um túnel vai resolver o problema do trânsito em Lisboa e perder meia hora (não sei ao certo, perdi o interesse e andei a fazer coisas mais apelativas na internet) a discutir isso... ò meus amigos, ide passear.
Lisboa à noite está deserta. Há meia dúzia de moradores no Rossio e deitam-se às 9 da noite. Tirando os sem abrigo, que dormem nas estações de comboio e de metro.
Uma casa (leia-se "andar") de madeira, cheia de baratas e ratos e aranhas, sem casa de banho excepto uma pia (com sorte, das antigas, aquelas redondas com o buraco no meio) e tomando banho de alguidar, num bairro histórico como Alfama, Graça, Castelo, Mouraria, da época pós-terremoto do Marquês de Pombal, é alugada pelo disparate de 300 a 500 euros. Daqui para cima nem quero imaginar.
O que Maria José Nogueira Pinto (CDS-PP) disse a este respeito é um facto indiscutível: criaram-se em Lisboa guetos de ricos e guetos de pobres. (Adivinham a qual gueto pertenço?) Destes guetos de pobres, os dos bairros históricos são constituídos por idosos cuja família já desapareceu para os subúrbios. As casas estão a cair e os senhorios não arranjam. Os senhorios não arranjam porque as rendas são baratas. As rendas são baratas porque estiveram congeladas durante anos e agora continuam baixas porque reformados e pensionistas com 200 ou 300 euros de reforma ou pensão não podem pagar os tais 300 euros que o vizinho brasileiro imigrante paga por mês por uma casa nas mesmas condições onde dormem meia dúzia de pessoas em colchões ou esteiras no chão numa assoalhada onde não viveriam em decência um casal e seu único filho.
Isto a Maria José Nogueira Pinto não disse, porque não sabe. Isto digo eu. Lisboa não se tornou favela. A favela é que chegou a Lisboa. Aí, meu chapa!
E quem diz brasileiros diz africanos e emigrantes de Leste. É nas casas mais baratas dos bairros pobres e históricos de Lisboa que se alojam às dezenas numa casa sem condições, desde que paguem os tais 300/500 euros. Não há fiscalização. O Recria só actuou quando e onde os senhorios pediram.
E até agora ainda ninguém teve tomates para resolver a situação senhorios/inquilinos. Essa é que é essa. E também não me parece que agora alguém os vá ter. Devem estar à espera que os velhos morram. Tendo em conta que muitos velhos duram até aos noventa e tal anos, isto dá ainda uns bons vinte anos até a situação ficar resolvida. Digo eu que conheço a situação de perto.
O que disse Maria José Nogueira Pinto faz sentido. Não é trazer jovens para Lisboa, mas sim a classe média activa, pais e filhos, aqueles que moram na linha de Sintra, Carregado (Carregado!!!), Loures (!!!) e toda a margem sul até Setúbal. Aqueles que entopem e continuarão diariamente a entopir todos os túneis que foram e forem abertos até agora e no futuro. Trazer essa gente para perto do trabalho e pô-los a usar os transportes públicos. Tirar os milhares de carros do congestionamento para os autocarros não passarem de meia em meia hora. (Eu já assisti a situações em que de carro também não se andava, então para que serve o carro? Para gastar gasolina?... Para poluir a atmosfera?...)
Fiquei com vontade de votar na senhora, mas não sei se a criatura terá algum tipo de imunidade anti-lobby. Seja como for, visto que o povão vota PS ou PSD, o meu voto não conta muito e vou votar na senhora por solidariedade feminina.
Quanto à minha junta de freguesia, que é comunista, por mim continuará a sê-lo. Não há local que eu conheça onde a junta seja comunista que os moradores não estejam satisfeitos. Pelo menos não temos felgueirices.
E assim vai o meu voto, à extrema esquerda e à extrema direita, tirando o Bloco de Esquerda porque já não os suporto.
Os do meio, para mim, estão cortados. Não existem. Venham outros.

3 comentários:

Anónimo disse...

Por momentos pensei em fazer o mesmo que o meu pai...não votar!!! "Para quê?" - diz ele, "são todos a mesma cambada de gatunos que apenas decidem fazer obras à última da hora, mal e porcamente! Trabalhos assim nem pensar!!! Não pago para fazerem estas merdas, chega!!!" Bem, na verdade acabei por ir votar...ia na mesma nem que fosse em branco! E o que é verdade é que continuam a ganhar os gatunos...

Fernando disse...

Muito curiosa, esta tua declaração de voto... Mas não acho que se possa qualificar a MJNP de "extrema-direita" ou o teu presidente de junta de "extrema-esquerda". Aliás, a dicotomia esquerda-direita tem muito que se lhe diga, sobretudo a nível autárquico. Veja-se a, apenas aparentemente estranha, aliança Rui Rio-Rui Sá no Porto durante o último mandato. Acho que o eleitorado do Porto e de Lisboa demonstrou grande clareza de espírito e capacidade para reconhecer a evidência: os candidatos do PS eram fracos. O Assis ainda respeito; já o Carrilho é execrável.

katrina a gotika disse...

Bem, o CDS-PP é a nossa extrema direita. Mais à direita, tirando os grupos neo-nazis, que são ilegais, o que há? O PND do Manuel Monteiro?
Quanto à estrema-esquerda, não sei se hei-de eleger o PCP ou o BE.
É um facto que estava a referir-me aos partidos com representação parlamentar. Não contei com o POUS, o PCTP-MRPP, a UDP (ainda existe?) e outros que tais.