Quando fiz aqui a crítica à primeira temporada, questionei-me até que ponto a série ia conseguir convencer-nos de que este puto adorável, Norman, se ia transformar num serial killer. Nesta segunda temporada começamos a chegar lá. A mente de Norman está cada vez mais fragmentada, os episódios dissociativos são cada vez mais frequentes e graves. E continuamos a sentir simpatia por ele porque, afinal de contas, Norman não sabe o que faz. No seu estado normal, Norman não era capaz de fazer mal a uma mosca. Mesmo assim, quando Norman está zangado, o actor Freddie Highmore transfigura-se e mete medo. Ele semicerra os olhos, as pestanas escuras a encobri-los, de uma maneira que os próprios olhos parecem ficar totalmente negros, tudo isto sem efeitos especiais, ao mesmo tempo que contorce os lábios num esgar de raiva que pode rebentar a qualquer momento. Não admira que o jovem actor tenha conseguido este papel. Quando ele faz isto vimos o verdadeiro Norman Bates, aquele que é capaz de matar. Nesta segunda temporada somos levados a crer que ele já matou durante um dos seus apagões dissociativos, e não vou revelar quem, ou pelo menos ele está convencido disso devido a memórias que recordou. A questão é que também não podemos confiar nas memórias de alguém que frequentemente tem alucinações. Continuo sem saber se de facto ele já matou alguém ou se apenas fantasiou essa “memória”. Na série ainda não o vimos cometer o acto propriamente dito, excepto em legítima defesa ou para defender a mãe.
Mas começa a ser óbvio que Norman está a piorar. Se ainda não matou, pouco falta.
Norma
Esta série podia chamar-se “The Vera Farmiga’s” show. Norma continua a mesma de sempre, quando mais esbraceja mais se afoga. Não conhecia esta actriz e fico boquiaberta com a versatilidade com que ela faz tudo, dos apontamentos cómicos às cenas dramáticas mais pesadas. Graças a Vera Farmiga e Freddie Highmore, conseguimos ver a relação cada vez mais imprópria desenrolar-se entre mãe e filho e perceber como é que eles chegaram até ali. O que mesmo assim não se torna menos desconfortável quando os vemos discutir como um casal de namorados, ou deitarem-se lado a lado na cama e dormirem abraçadinhos, ou quando dançam juntos, ou aquele beijo nos lábios com que Norma beija o filho. Para eles é tudo tão puro e platónico que nem se apercebem de como aquela relação já ultrapassou todos os limites do que é saudável, pouco a pouco, um gesto e uma palavra de cada vez.
Dylan, o xerife Romero, e os outros bandidos
Nesta segunda temporada a série já não comete erros como os das escravas sexuais chinesas. Finalmente encontrou o seu espaço e sabe onde pisa. O sub-plot do tráfico de droga e da cidade em que toda a economia vive de actividades ilegais está lá apenas como pano de fundo, mas graças a Dylan, irmão mais velho de Norman, acaba por se integrar nos problemas da família, magnificando-os.
A primeira temporada enganou-me quanto ao xerife Romero. Podia ter jurado que era ele próprio o grande chefão da droga, acima de todos os chefões. E de certa forma não me enganei assim tanto. Romero não é um criminoso, mas é ele quem manda em todas as actividades ilegais de White Pine Bay para que elas não passem de certos limites. E quando é preciso o xerife não olha a meios para atingir os fins, mesmo que não sejam os meios mais legais. De outra forma, como ele diz, toda a cidade estava atrás das grades. Romero quer impedir isso. Dylan está em White Pine Bay há pouco tempo, mas até ele percebe que com Romero não se brinca. O xerife é mesmo o chefão lá do sítio.
Mas isto é cenário. Tudo o que interessa e empolga nesta série acontece entre quatro paredes, na casa dos Bates, onde a família continua a aprofundar uma dinâmica disfuncional que psicólogo nenhum já poderia resolver.
Apesar de a primeira temporada ter andado ali um bocado aos tropeções, “Bates Motel” está cada vez melhor e recomendo vivamente.
Tenciono voltar a comentar aqui a série inteira depois de ver as cinco temporadas.
domingo, 22 de novembro de 2020
Bates Motel [segunda temporada]
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