quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Another Earth / Outra Terra (2011)

[contém spoilers]

Ao ler a sinopse este filme pode parecer ficção científica mas na verdade é um grande dramalhão para chorar do princípio ao fim.
Rhoda Williams é uma jovem que acaba de entrar no MIT com apenas 17 anos. Toda a vida à sua frente e um futuro muito promissor. Depois da festa de celebração, em que houve bebida e possivelmente drogas à mistura, Rhoda conduz de regresso a casa.
Nesse preciso dia foi descoberto um planeta que parece um duplo da Terra, visível a olho nu no céu nocturno. Rhoda distrai-se a olhar para o planeta e choca frontalmente com um carro de uma família parado nos semáforos, matando imediatamente a mãe grávida e uma criança pequena.
Condenada por homicídio involuntário, Rhoda é libertada quatro anos depois por ser menor à altura, mas todo o seu futuro desapareceu. Vive atormentada pela culpa, aceita um emprego em limpezas para se castigar e tenta suicidar-se por hipotermia. Não conseguindo matar-se, decide ir a casa do sobrevivente do choque frontal, o compositor e professor de música John Burroughs (William Mapother, que para mim será sempre o Ethan de “Lost”). O que Rhoda encontra é desolador. O homem desistiu de viver, passa os dias a tomar medicação e a beber, a sua casa parece uma pocilga. Rhoda perde a coragem de pedir desculpa e apresenta-se como funcionária de uma empresa de limpezas a oferecer uma primeira experiência grátis. Burroughs hesita mas acaba por aceitar e “contratar” o serviço uma vez por semana.
Durante meses, Rhoda limpa-lhe a casa e de vez em quando conversam sobre a Terra 2, designação que foi dada ao novo planeta que agora está tão perto da Terra que parece maior do que a Lua. Descobre-se também que a “nova Terra” é um “duplicado” da Terra, em que existem precisamente as mesmas pessoas que existem na Terra e que têm nomes e percursos de vida iguais. É como se Deus tivesse tirado uma fotocópia da Terra.
Ora, é aqui que a ficção científica é mais absurda do que a hipótese da intervenção divina. Um planeta da dimensão da Terra, a orbitar o Sol, nunca passaria despercebido aos astrónomos. E este planeta não poderia ter outra órbita ou imediatamente se tornaria frio como Marte ou quente como Vénus. Nem podia ser como os cometas, a vogar pelo universo gelado para só aparecer uma vez em centenas de anos. Logo, é melhor esquecer qualquer plausibilidade científica e encarar este planeta como hipótese, um “e se houvesse um espelho da Terra algures”?
Uma empresa está a organizar um concurso para uma viagem espacial de visita à Terra 2, e Rhoda candidata-se sem acreditar que pode ser escolhida. Entretanto, a relação com Burroughs torna-se cada vez mais íntima e até romântica. A presença dela reavivou-lhe o interesse pela vida. Mas quando Rhoda lhe conta quem é, inevitavelmente, Burroughs expulsa-a da sua frente. No entanto, Rhoda ganha um lugar na viagem para a nova Terra e coloca-se a questão: talvez os percursos de vida nesse planeta tenham sido iguais até ambos se interceptarem. Nesse caso, a família de Burroughs ainda pode estar viva. Num último acto de redenção, Rhoda oferece-lhe o bilhete e ele aceita ir em vez dela.
Gostei muito do filme, não pelo aspecto da nova Terra, que não passa de um cenário hipotético, mas pelo drama realista na vida destas pessoas. O fim veio estragar o que estava a correr tão bem. Mesmo que a família de Burroughs ainda estivesse viva, não estaria ele lá também, e, logo, não haveria lugar para ele na vida deles? Não era melhor deixá-los em paz? E o que significa o encontro de Rhoda com a sua “dupla” do novo planeta? Desagradou-me que “Another Earth” tivesse deixado estas respostas em aberto e sem sentido. Todo o tema central do filme é a possibilidade de redenção e novas oportunidades. Não percebo como é que o fim se encaixa no tema.

16 em 20
 

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