domingo, 18 de setembro de 2022

Outlander (2014 - ?)

Comecei a ver esta série por engano, confundindo o título com “Highlander”. Queria ver se era desta que percebia porque é que “só pode haver um”. (Ainda não percebi. Quem quiser explicar, gentilmente deixe em comentários.)
“Outlander” não é nada disso, embora se passe na Escócia (pelo menos a princípio).
No pós-Guerra, uma enfermeira da linha da frente reúne-se enfim com o seu marido, Frank Randall, numa tentativa de reanimar o casamento após a longa separação imposta pela guerra. Decidem visitar a terra dele, a Escócia, onde este tem parentes e conhecidos e onde vivem uma segunda lua-de-mel enquanto visitam as ruínas e paisagens da região. Claire, é o nome dela, assiste acidentalmente a uma dança de druidas em torno de um círculo de pedras durante um festejo pagão. Tomada de curiosidade, ou atraída ao círculo de pedras por motivos misteriosos, regressa no dia seguinte e toca na pedra principal. E puff! É transportada para o século XVIII.
O marido, Frank, procura-a durante anos, embora todos o tentem convencer de que o mais provável é que Claire tenha fugido com outro homem. E aqui há um enorme plot hole que a série nunca resolveu, embora já vá na 6ª temporada (e sabe-se lá quantas mais se seguirão). Frank não sabe que a esposa foi transportada para o passado, mas na véspera, à noite, repara num homem escocês, todo vestido a preceito e à antiga, a olhar para a janela do quarto deles. Inclusivamente, Frank farta-se de falar disto às autoridades, suspeitando que o estranho tenha raptado Claire, o que só convence mais as pessoas de que Claire o deixou por este suposto amante.
Ora, nós sabemos o que acontece no passado e como Claire se apaixona por Jamie, o homem da sua vida, pelo que sempre pensei que este observador seria Jamie, também ele a viajar no tempo, que de alguma forma a foi ver de longe após ela ter voltado ao tempo dela.
Afinal não, nada disto aconteceu, e o tal estranho misterioso nunca mais foi explicado. (Se alguém percebeu isto, já sabem: comentários.)
Entretanto, no século XVIII, e depois de recobrar do choque de se encontrar 200 anos no passado (e que choque deve ter sido), Claire é apanhada no conflito histórico entre ingleses e escoceses que daria lugar à sangrenta batalha de Culloden em que estes últimos são definitivamente derrotados. Claire apaixona-se por um fora-da-lei (porque combate os ingleses), Jamie Fraser, que é implacavelmente perseguido pelo oficial Jack Randall. Jack Randall é um violador e um sádico, mas Claire tem de impedir a todo o custo que alguém o mate precisamente porque este Randall é antepassado de Frank, o seu marido no futuro que Claire ama igualmente, e se Jack morrer Frank nunca chega a nascer. Paradoxos das viagens no tempo.
Tanto Jack como Frank são interpretados por Tobias Menzies. Gostei muito de o ver outra vez, e de o ver inteiro, porque da última vez que o vi só lhe vi uma bota, em “The Terror”...
Menzies é um óptimo actor e a série aproveita-o ao máximo. Em “Outlander”, assisti a cenas chocantes que jamais julguei ver numa história maioritariamente romântica (com todo o erotismo e mais algum) dirigida sobretudo a um público feminino. Aqueles kilts sem nada por baixo, aqueles peitos viris a desafiarem o frio das montanhas…
Mas admito: estou farta deste tipo de heroína, a que alguns chamam Mary Sue, a mulher atraente (todos a querem, mesmo todos), talentosa, forte, boa amante, que faz sempre e diz sempre o mais acertado, que não tem fraquezas, que em alguns casos até possui super-poderes. E até super-poderes Claire possui, porque depois ficamos a saber que não é qualquer pessoa que pode “passar pelas pedras”. Como cereja no topo do bolo, Claire é enfermeira mas acaba por ser também médica e cirurgiã. É a perfeita Mary Sue.
Por outro lado, Jamie Fraser não lhe fica atrás em termos de estereótipos. Jamie é um sonho molhado de heroísmo e masculinidade. Nas primeiras temporadas Fraser é um combatente, pelo que as proezas militares são de esperar, mas numa temporada mais à frente Fraser consegue comandar um navio durante uma tempestade medonha, dando ordens aos marujos como se fosse um experiente capitão de mar e guerra. Ora, tenham dó! Jamie pode ser um bom guerreiro, um bom líder, um bom lavrador, e como tal é perfeitamente possível que tenha jeito para cavalos (muitas vezes trabalha como moço de cavalariça para ocultar a sua identidade), mas um navio durante uma tempestade no oceano é outra fruta. E ainda bem que ele lá estava, ou teríamos Super-Claire a fazer também o papel de Capitã Gancho.
É óbvio que esta série é para senhoras (e alguns senhores) que gostam de aventuras românticas, realidade à parte. Eu continuei a ver quando percebi que Claire ia regressar ao seu tempo, os anos 50, depois de passar por experiências inigualáveis numa Escócia quase medieval. Como premissa, é muito interessante. Penso mesmo que a série deveria supostamente ter acabado aí, mas o sucesso fez com que renovassem. Claire volta ao passado de vez para ficar com Jamie, e é assim que as temporadas se têm estendido interminavelmente. Jamie e Claire têm andado a percorrer o mundo muito à custa de enredos “à medida” para empurrar a história para a frente, e nem sempre são os desenvolvimentos mais orgânicos e naturais. Nota-se a marosca. Ademais, surgem personagens a torto e a direito que tão depressa aparecem como vão à vida delas. Por esta altura já perdi a conta e já não sei quem é quem. (O que também se passa com outra série estendida artificialmente, “The Walking Dead”.)
“Outlander” tinha uma boa premissa: viajantes do futuro que tentam alterar o curso da História e falham inevitavelmente, mas actualmente “Outlander”é uma telenovela. Isso mesmo, uma telenovela erótica e de época, mas uma telenovela.
O pior é que uma pessoa fica viciada nestas coisas e não consegue largar (que é o objectivo de qualquer telenovela). Na última temporada Claire e Jamie estabeleceram-se na América, o que foi interessante porque pudemos ver o início da colonização, mas ambos sabem que vem aí a Revolução e uma vez mais Jamie vai ter de combater os britânicos. Essa parte, pelo menos, é consistente. Tudo o resto dá a entender que alguém vai inventando histórias de episódio para episódio, o que nunca é bom. As séries da Starz (“Spartacus”, “Black Sails”) costumam manter padrões de qualidade muito superiores, tanto em termos de enredo como de personagens. Só compreendo as seis temporadas de “Outlander” (e mais virão) numa lógica comercial. Teve sucesso, continua-se.

ESTA SÉRIE MERECE SER VISTA: 1 vez

 

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