domingo, 23 de maio de 2021

The Walking Dead: World Beyond

Dizia eu que só acreditaria em spin offs de “The Walking Dead” quando as visse, mal sabendo que já estavam a ser filmadas. E parece mesmo que vêm aí mais. A qualidade é que não é nada por aí além, tirando os próprios zombies, e é por causa dos excelentes zombies de Nicotero que ainda se conseguem ver estas séries. Esta é outra igual.
“World Beyond” é a versão adolescente de “The Walking Dead”. Enquanto que, na Virginia, Carl andava a comer comida de gato e a enfrentar famílias canibais, noutros lados do país as coisas parecem ter-se aguentado melhor depois do apocalipse zombie. É o caso da cidade de Omaha, de Portland, e do campus da Universidade do Nebraska, onde vamos encontrar os protagonistas de “World Beyond”. Isto causa alguma estranheza para quem viu a sociedade desaparecer e a anarquia reinar em “The Walking Dead” e “Fear the Walking Dead”, mas aparentemente ainda há comunidades onde sobreviveu o mundo como o conhecemos. O que coloca desde logo a questão: como é que os sobreviventes ainda não sabem uns dos outros, 10 anos passados desde o apocalipse, uma vez que em “Fear the Walking Dead”, e mais ultimamente em “The Walking Dead” também, toda a gente usa o rádio para comunicar? Estas comunidades sobreviventes não saberiam já da existência umas das outras? Mas no universo “Walking Dead” é melhor não fazer muitas perguntas.
Hope e Iris são duas irmãs (adoptadas) que frequentam a universidade, junto com outros jovens como elas que eu não sei de onde apareceram nem onde vivem os seus pais. Omaha, Portland? Mas lá estou eu a fazer muitas perguntas. O importante é que estes jovens do campus passaram pelo apocalipse num ambiente seguro e resguardado onde sabem que fora dos seus muros existem zombies mas nunca tiveram de se confrontar com eles. O início da série é quase o nosso mundo, e estes jovens do campus estão a ser educados para trazer de volta a civilização.
O pai de Hope e Iris é um cientista que dá aulas nesta universidade pós-apocalíptica até ser recrutado pela sinistra Civic Republic Military. (Como chamar a isto em português, Milícias da República Cívica? República Cívica Miliciana? Parece-me mais a segunda opção. Mas uma República não contém já o conceito de “cívica”, e “militar” não é um dos ramos de poder em que assenta uma república?) A princípio nada nos diz que esta República Cívica seja sinistra, mas há sempre esse suspense de algo pesado no ar quando os helicópteros aparecem. A localização das bases da República Cívica é secreta (o que faz sentido num mundo dominado pela anarquia e o saque) e o tal cientista não está autorizado a comunicar para fora delas, mas antes de partir ele arranja uma maneira de estabelecer contacto com as filhas. Hope e Iris recebem uma mensagem do pai em que este as informa de que corre perigo, e decidem ir salvá-lo (sozinhas contra um exército, porque acham que conseguem). Com elas vão outros dois jovens da mesma idade, Elton e Silas. Nenhum deles alguma vez teve de sobreviver sozinho fora dos muros e não sabem sequer matar um zombie.
Dois dos seguranças do campus, Felix e Huck, vão à procura dos miúdos e conseguem encontrá-los, mas, cada um pelas suas razões, estes recusam regressar. Foi a sorte deles, porque, por algum motivo que ainda não faz sentido, a República Cívica destruiu o campus universitário.
Esta série é sobre os primeiros adolescentes a crescer num apocalipse zombie, mas a República Cívica acaba por ser o enredo (neste caso, sub-enredo) mais interessante. É que foram estes misteriosos helicópteros que levaram Rick Grimes e Anne/Jadis (personagem também conhecida por “senhora da lixeira”, que afinal era uma agente infiltrada). É por isso principalmente, e por outros encontros com a República Cívica em “Fear the Walking Dead”, que os espectadores do universo “Walking Dead” sabem que esta gente não é boa e recorre a métodos chocantes. Por muito que estes digam que o objectivo é o “futuro”, o “bem maior”, reestabelecer a civilização, ficamos perplexos quando destroem um campus universitário onde estava a ser preparada a próxima geração com esse mesmo objectivo em mente. Eu, por exemplo, a princípio nem percebi o que tinha acontecido, de tão contraditório que isto é. E na verdade não se viu acontecer, mas foi dado a entender e toda a gente percebeu assim. Afinal, quem é esta República Cívica e qual é o seu verdadeiro desígnio? Mas a série só nos deu migalhas porque não vai ser aqui que se vai descobrir.
Hope e Iris, e os companheiros Elton e Silas, partem numa daquelas viagens de auto-descoberta e de descoberta dos outros típicas da adolescência. Não digo isto como crítica mas como constatação, é um drama adolescente com temáticas adolescentes, em que os quatro miúdos têm de aprender coisas como conduzir ou matar o primeiro zombie. (Experiências que Carl, na série-mãe, começou a ter na infância.) Há muita conversa e o ritmo pode ser considerado demasiado lento para a grande parte dos espectadores. Cada episódio parece uma aventura separada e os miúdos nunca se encontram em grande perigo como acontece na série original. Só nos últimos dois episódios é que acontece algo minimamente empolgante.
“World Beyond” não é série que se compare às melhores temporadas de “The Walking Dead”, mas pelo menos a história não é o caos sem nexo em que se tornou “Fear the Walking Dead” (já não percebo o que se passa por lá). Vê-se bem, sem grandes expectativas, e só estão anunciadas duas temporadas, o que nos promete um enredo com princípio, meio e fim. Quem esperar mais do que isto vai ficar desiludido.



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