domingo, 30 de dezembro de 2018

Pompeii / Pompeia (2014)

 

Neste tipo de filmes-desastre, geralmente, o personagem principal é o desastre em si. Tudo o resto são personagens secundárias que só ali estão para enfrentar a calamidade. Foi uma surpresa que Pompeia não tenha sido assim. A história é tão interessante que a certas alturas até me esqueci completamente do Vesúvio.
Tive muitas vezes a sensação de estar a assistir a um épico à antiga, daqueles dos anos áureos de Hollywood, com perseguições em quadrigas e tudo. E não é todos os dias que vemos Jack Bauer vestido de Senador romano. Elegantíssimo, e malvadíssimo, como fica tão bem a Kiefer Sutherland.


A história não é original. Milo é o único sobrevivente de uma revolta Celta esmagada pelos invasores Romanos. Feito escravo, é agora um gladiador famoso a quem levam precisamente para a arena de Pompeia nas vésperas da erupção do Vesúvio. Por coincidência, Pompeia é visitada nessa mesma altura pelo homem que massacrou a sua tribo e os seus pais. Assim que o vê, Milo só pensa em vingança.
Nota acerca dessa cena inicial em que Milo, ainda criança, assiste à decapitação da sua mãe. É sempre difícil dizer se foi propositado ou não, mas é tão semelhante que não pode deixar de lembrar o início de “Conan o Bárbaro” (o de 1982, com Arnold Schwarzenegger). Muitas partes do enredo podiam também ter saído da série "Spartacus". O dono dos gladiadores chega mesmo a dizer: “Estes trácios só dão problemas.” E de facto, 100 anos antes, um certo trácio conhecido por Spartacus deu água pela barba aos romanos. Mas sabemos como isso acabou. Na arena, os gladiadores já não falam em revolta. Atticus, o campeão, acredita mesmo (ou quer acreditar) que lhe falta apenas uma vitória para lhe ser concedida a liberdade. Para tal, tem de combater com o Celta (Milo) e derrotá-lo. Nenhum dos dois tem qualquer interesse em matar o outro, mas é a vida de um gladiador.
Este enredo é bastante interessante por si só. Mas sabemos que um personagem “oculto” não tarda a intervir e a estragar os planos a toda a gente. Nesta altura estamos a torcer para que o vulcão expluda e safe os dois gladiadores.
A história é cativante mas isto não quer dizer que os personagens sejam muito desenvolvidos. Num filme-desastre, histórico, cheio de acção e efeitos especiais de grande magnitude, alguma coisa teria de ficar para trás. Os personagens são apenas desenvolvidos o suficiente para contar a história mas não deixam de ser bidimensionais. Os vilões são maus como as cobras. As personagens dividem-se entre opressores e oprimidos. A família aristocrática de Pompeia, para ser mais simpática ao espectador, é também oprimida pelo poder imperial. Cássia, a heroína, manifesta-se contra os jogos na arena, para sabermos que alguns romanos são “bonzinhos”. Não há tempo para muito mais.
Lamento dizer que os efeitos especiais me desapontaram, nomeadamente os da destruição da cidade e os da tsunami. Nota-se que é feito por computador, e quando se nota é mau. (Se nos lembrarmos da destruição da arena em "Spartacus", por exemplo, foi muito mais realista do que aquilo que acontece aqui.) Os efeitos especiais do vulcão, ao menos isso, já são realistas o bastante. Mesmo assim esperava mais.
Também não gostei dos clichés debitados a torto e a direito. Já basta que as personagens sejam bidimensionais. Os diálogos não precisavam de ser tão fracos.
O final surpreendeu-me. Não pensei que tivessem coragem de acabar assim. Neste aspecto, o filme diverge muito do fim “clássico”.
Pompeia não será certamente um dos filmes da minha vida mas vê-se bem e é mais original do que dava a entender a princípio.


14 em 20

1 comentário:

katrina a gotika disse...

Eu sabia! A música que se ouve durante a festa romana é da série Spartacus. Sei porque tenho a OST. Boa música étnica para quem aprecia. Fui consultar o IMDB e lá está, em Did You Know?

https://www.imdb.com/title/tt1921064/

Soundtracks
Going Off
from Spartacus: Blood and Sand (2010)
Written by Joseph LoDuca
© Starz Entertainment, LLC.
Courtesy of Warner/Chappell Music Canada, Ltd.

Pensei que era imaginação minha mas afinal tenho melhor ouvido do que julgava.