sábado, 8 de dezembro de 2018

Dracula Untold / Drácula: A História Desconhecida (2014)


Em vez de “untold” e “história desconhecida”, o subtítulo devia ser “versão alternativa que a malta inventou”. Com isto em mente, dói menos ver este filme.
Então, por onde começar? Historicamente, o filme é inqualificável. Começa por ser a história do verdadeiro Vlad (mais ou menos) com datas e tudo. Mas depressa percebemos que este personagem é tudo menos Vlad. Vlad Tepes foi um monstro de sadismo. Um dos maiores entre os mais infames monstros da humanidade. O protagonista deste filme é um amor. Um marido amantíssimo, um pai meigo e extremoso. Um herói que se sacrifica pelos outros. Sem dúvida um personagem pelo qual apetece torcer.
Quem me conhece sabe que não gosto nada de misturas entre a realidade histórica e a ficção mirabolante. A romantização de um personagem histórico para efeitos dramáticos é admissível numa obra biográfica, desde que não seja tão excessiva que fuja à realidade. Neste caso, e em casos idênticos, mais valia terem enveredado pelo género Fantasia e criado um personagem original. Até porque já estamos todos fartos das mesmas histórias repetidas vez após vez. Eu, pelo menos, estou fartíssima.
Já que historicamente não há ponta por onde se pegue, vou falar do Vlad Drakul, o vampiro.
Os turcos estão à porta, ameaçando invadir o principado da Valáquia. Vlad descobre que numa gruta na montanha existe um vampiro com enorme poder e força sobrenatural. Sem capacidade de responder à ameaça turca, Vlad procura este vampiro para lhe pedir os mesmos poderes. Esta cena na gruta lembra muito a cena do Mestre na série The Strain (ou será o contrário?). O vampiro, um homem que vendeu a alma ao Diabo em troca de imortalidade, dá-lhe o seu sangue, mas Vlad tem de resistir à tentação do vampirismo durante três dias para não se transformar em vampiro também. Por isso, Vlad tenciona derrotar os turcos em três dias. (Historicamente, um insulto para ambas as partes do conflito.) Para tal, Vlad ataca os exércitos turcos com nuvens de morcegos. Sim, leram bem. Morcegos verdadeiros. (Como se já não bastasse o preconceito e a maldade que certos animais sofrem da parte de pessoas ignorantes, ainda há estes filmes idiotas a ajudarem à superstição. Os morcegos não fazem mal a ninguém. Comem insectos e são muito úteis ao ecossistema.) Quando os morcegos não chegam para derrotar os turcos (porque é que será?) Vlad decide aceitar o vampirismo de modo a transformar outros súbditos em vampiros. Com os morcegos e uma dúzia de vampiros consegue derrotar os turcos em três dias, mas não sem sacrifício.
Toda esta história dos “super-poderes” (domínio sobre os morcegos, poder de atrasar o nascer do dia, o próprio Vlad a transformar-se numa nuvem de morcegos) ficaria melhor num filme de super-heróis. Talvez o Homem-Morcego. Tive a sensação de que estava a ver um filme Disney, sanitizado para um público de 13 anos. Até a prata age sobre ele como a kriptonite no Super-Homem. Não há uma única cena que não passe este crivo infanto-juvenil. Toda a gente pode ver à vontade. Não há aqui nenhum empalamento ou outra malfeitoria mais desagradável.
Mas pelo contrário, e incompreensivelmente, a cena em que Vlad bebe o sangue da mulher que ama (a pedido dela e em circunstâncias completamente heróicas) não podia ser mais absurda. Esta era a cena que devia ter sido romântica. Ela é a grande paixão da vida dele. A sua esposa, a mãe do seu filho. E está a morrer. Vlad atira-se-lhe ao pescoço como um lobisomem. Não, não, não. Está tudo errado neste filme. Tudo. Errado.
O fim é decalcado de “Drácula de Bram Stoker”. Só falta a frase “atravessei oceanos de tempo para te encontrar” mas há outra semelhante.
De repente aparece o primeiro vampiro (o que criou Drácula) não se percebe muito bem de onde nem porquê, com a ameaça mais assustadora do filme: uma sequela. Este filme nem devia ter visto a luz do dia quanto mais uma sequela!
Não percebo mesmo qual foi o objectivo deste filme. Não foi um bom Vlad, não foi um bom Drácula. Foi uma manta de retalhos de filmes anteriores e bem melhores. Vi porque sou vampiro-dependente. Não aconselho a ninguém.
Só por causa dos actores, que bem se esforçaram em dar vida a este enredo estapafúrdio, dou

11 em 20



Sem comentários: