domingo, 23 de dezembro de 2018
Midnight, Texas
[crítica à primeira temporada]
Sobrenatural, vampiros, sangue, sexo tórrido. Era o que eu esperava de “Midnight, Texas”, série baseada na colecção homónima de Charlaine Harris, autora dos livros que deram origem a “True Blood”. Nem acredito que estou a dizer isto, mas a “Midnight, Texas” talvez falte mesmo o sexo tórrido para a acção abrandar. Tudo acontece a um ritmo tão alucinante que nem temos tempo para conhecer devidamente os personagens, muito menos envolvermo-nos com eles.
Por exemplo, a história de Manfred, o protagonista. Um verdadeiro médium, mas também capaz de “aldrabar” os seus dons para agradar a clientes ricas. Por causa de uma dívida contraída para pagar os tratamentos da avó com cancro, é obrigado a fugir para a pequena terriola de Midnight na esperança de escapar ao credor. Este credor promete ser um vilão terrível, mas afinal dão conta dele num só episódio. Tudo é assim em “Midnight, Texas”. A série é uma sucessão de monsters-of-the-week e tudo se resolve no próprio dia. Fez-me pensar que se calhar queriam rivalizar com “Sobrenatural”, mas a diferença é que em “Sobrenatural” os personagens são extraordinários: interessamo-nos por eles, sofremos por eles. Em “Midnight, Texas” mal os conhecemos. Nem parece haver muito para conhecer. Todos os personagens são bidimensionais.
Há o vampiro bonzinho, Lemuel, um antigo escravo que encontrou a liberdade no vampirismo. Esta podia ser uma história boa e dramática, mas não merece mais do que cinco minutos de flashback.
A outra fulana (a Lexi de “Diários do Vampiro”, mas nesta série nem lhe consegui fixar o nome), assassina profissional com um passado pesadíssimo, também nunca é desenvolvida a esse nível.
Depois temos o Reverendo, que é um tigromem. (Lobisomem, mas em versão tigre.) Este deve ter uma história bem interessante, se alguma vez a conhecermos.
Entretanto há também um casal gay, ele um anjo e ele um demónio, e amam-se. Mais outra história fofinha de que nunca conhecemos nada. Eu ia adorar assistir a como é que estes dois se apaixonaram e decidiram assumir um amor tão proibido.
E finalmente temos a bruxa Fiji, cujo gato é um familiar (espírito familiar) que fala. O gato é o meu personagem preferido. Nem querem imaginar a minha raiva quando em certo episódio decidiram sacrificar o gato. Sim, é verdade que foi o gato que pediu que o sacrificassem num acto altruísta e heróico, e que este não é um gato “normal”, mas com a ignorância e a maldade que ainda existem neste mundo preferia não ver estas atrocidades em obras de ficção. Felizmente, por qualquer razão que não fez sentido nenhum, o sacrifício não matou o gato. Pelo menos isso.
Tirando estes personagens “sobrenaturais” e/ou complicados, existem os normais. E os normais ainda são menos interessantes do que os outros e nem merecem que os mencione.
O verdadeiro enredo da série, afinal, não é a dívida que levou Manfred a Midnight. Midnight é daqueles locais em que o “véu” entre este mundo e o outro é mais ténue, e este véu está a ficar cada vez mais fino. O anjo prevê que quando este véu se romper o inferno passará através dele para reinar na terra. (Um enredo muito “Sobrenatural”.) Mas existe uma profecia, de que apenas um homem que fala com os vivos e os mortos pode deter o inferno. Este é Manfred, e esta é a verdadeira razão da sua presença em Midnight.
Contado assim até parece interessante, mas deviam ver o demónio medíocre que aparece em representação do inferno. Se calhar sou eu que estou mal habituada. Já vi tão melhor!
Se ao menos as personagens fossem profundas e cativantes a série ainda se aproveitava. Não basta deitar lá para dentro um sortido de criaturas sobrenaturais e julgar que basta. Não basta. É preciso que nos interessemos por elas. Se a série acabasse agora nunca mais pensava nesta gente.
“Midnight, Texas” é uma série para ver sem interesse nem expectativas. Daquelas que servem para olhar para a televisão e pensar noutras coisas. Para ser muito sincera, nem percebo como é que foi renovada.
Do mal o menos, resta-nos François Arnaud (César Bórgia de “Os Bórgias”) que me levava para todo o lado se eu tivesse a idade dele. Mal empregado neste papel.
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