Muito depois do cemitério, já escurecia sobre a cidade, vi uma maravilha. Contra um céu carregado de chuva que brilhava na sua radiância alaranjada, uma montanha polvilhada de estrelas de luz, como uma árvore de natal, e ao longe sabia que cada uma delas era uma janela, muitas janelas em muitas casas, e em cada casa uma pequena amostra de alegria. Eram rios, rios de luz a descer as encostas, como um caminho de fadas tirado de um conto para crianças em que as serras estão perfumadas de flores e fontes e árvores milenares. Perante tanta beleza, pensei em ti. Que uma dessas casas devia ser a nossa, e que um dia nos encontraríamos, de mãos dadas, à chegada.
Mas era apenas a miragem de uma alma sonâmbula. Ao perto, as casas eram feias, grotescas. A terra, até a terra do chão, era negra e suja. Não havia caminhos de fadas mas estradas asfaltadas, pretas, cheias de rastos de borracha malcheirosa. Deixei de pensar em ti. Não te quero ali. Deixei de pensar em mim. Não nos quero assim.