O suicídio é o último tabu. Já repararam que não se fala em suicídio nas notícias? As estatísticas do suicídio são guardadas a sete chaves. Porquê? Porque fizeram um estudo no século passado que relaciona notícias de suicídio com um aumento de tentativas. Os media adoptaram esta atitude de “mãezinhas” e é proibido falar do assunto. Eu discordo completamente. A política de silêncio faz com que as pessoas em risco se sintam ainda mais isoladas e anormais. Além disso, se se considera que fazer um aborto é ter “controlo sobre o próprio corpo”, o suicídio é um direito ainda maior. Não há maior controlo sobre a própria vida do que lhe pôr termo. Mas achei bem explicar isto dos suicídios e dos media.
É daqui que vem a controvérsia acerca desta série em que uma adolescente se suicida e deixa 13 gravações em cassete a explicar a sequência de eventos que a levou a essa decisão. E ela deixou as explicações em cassete “para não ser fácil” ouvi-las, como ela diz, para implicar esforço da parte de quem as recebe.
Hannah é uma jovem linda que se acha feia e invisível, para começar. As primeiras K7s são sobre coisas quase insignificantes. Sim, Hannah foi alvo de bullying, mas quem não foi alvo de bullying na escola? Só os bullies, e talvez nem isso. Gera-se uma mentalidade de alcateia: se não caças connosco és uma presa também. Toda a gente passou por isso.
De seguida, um amigo tem a estúpida ideia de a incluir numa lista de “melhor” e “pior” como “melhor rabo da escola”. Sei que há muitas raparigas verdadeiramente invisíveis, numa altura da vida em que atrair alguém romanticamente é um caso de vida ou morte, que adorariam ser o “melhor rabo da escola”. Mas Hannah está convencida de que todos pensam nela como “a rapariga fácil” e fica bastante magoada.
A princípio podemos pensar que não são razões para ninguém se matar, mas à medida que a história avança começamos a saber de coisas muito mais graves que se acumulam às coisinhas pequeninas. Ao mesmo tempo, os pais de Hannah têm problemas financeiros. É preciso nunca descurar esta parte. Muitos adultos cometem suicídio por causa de dinheiro (ou da falta dele).
Gostei que a série não tenha evitado a cena do suicídio propriamente dito. Mostra como Hanna morreu sozinha, em dor, no frio, em lágrimas. Não é exactamente algo de muito apetecível e duvido que algum adolescente se sinta tentado a imitá-la.
O que me tocou mais foi a angústia dos pais, que de repente perderam uma filha e não percebem porquê. Mas houve momentos em que Hannah disse coisas que ecoaram perfeitamente, coisas que eu própria pensei. Como quando ela diz “já nada me interessa na vida, e aqueles que amo ficariam muito melhor sem mim”. Estes são pensamentos depressivos que pediam intervenção profissional imediata, mas Hannah não a teve. Na verdade, muita gente pensa que os miúdos dizem isto para chamar a atenção. O pior mesmo é quando os miúdos se isolam e deixam de falar sobre o assunto. Foi o que Hannah acabou por fazer.
Tirando Hannah, o protagonista da história é Clay, seu quase-namorado, a quem as K7s são entregues por último. Clay quer justiça, mas desconhece que os outros implicados (de forma mais ou menos grave) se estão a organizar numa autêntica conspiração para o desacreditar (e a Hannah) de modo a protegerem os seus próprios segredos.
Na adolescência é tudo um caso de vida ou de morte e 5 minutos duram anos. Tudo é para sempre. Gostei desta representação realista de meia dúzia de miúdos a aprender a navegar a vida. Clay, por exemplo, no início parece ter uma mentalidade de 13 anos. Pelo fim da série, não sendo ainda adulto (e não obstante continuar a ver o mundo a preto e branco) parece ter amadurecido 10 anos.
Recomendo “13 Reasons Why” mas achei que muitos episódios se debruçaram demais sobre personagens secundários que não nos interessavam assim tanto. Talvez por isto a série tenha durado mais três temporadas.
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