domingo, 8 de maio de 2022

Passengers / Passageiros (2016)

Não sei se existe um género chamado ficção científica romântica, mas, se não há, passa a haver. Este filme não é outra coisa, se bem que o princípio nos remeta para a ficção científica clássica e um espectador incauto pode ser levado a esperar daqui um filme de acção ou de terror tão típicos do género.
A nave de luxo Avalon dirige-se para uma colónia num planeta distante da Terra com 5 mil passageiros a bordo, todos em estase, bem como a própria tripulação, quando embate num meteorito de alguma dimensão. A princípio a nave não parece danificada, mas uma das cápsulas de estase abre-se sozinha. O seu ocupante, Jim, acorda para descobrir que ainda lhe faltam 90 anos para chegar ao fim da viagem que o levaria à colónia distante. Sendo engenheiro mecânico, faz tudo por pedir ajuda e tentar acordar a tripulação, sem sucesso. Ou seja, tem de se resignar de que vai morrer de velhice muito antes de chegar ao destino. A sua única companhia é um andróide bartender que proporciona alguma conversa. (Por falar neste bartender, recordei-me muito das cenas de “The Shinning” em que Jack Torrance conversa com o bartender imaginário/assombrado.) Parece a típica história do náufrago na ilha deserta, do homem privado de companhia humana que quase perde a cabeça e alguns meses depois começa a contemplar o suicídio, mas com uma reviravolta.
Jim apaixona-se por uma passageira ainda em estase, Aurora, bonita e inteligente (ele tem acesso a gravações feitas por ela), e começa a considerar acordá-la. Isto coloca uma questão ética. Jim sabe que por estar condenado (nunca chegará ao destino e morrerá sozinho) não tem o direito de ser egoísta a ponto de sentenciar outra pessoa à mesma solidão, roubando-a também da vida nova que esta almeja na colónia para onde a nave se dirige. Jim resiste o mais que pode, mas acaba mesmo por acordá-la. No momento em que o faz, arrepende-se, envergonha-se e esconde-se. Nunca tem a coragem de lhe confessar que a acordou porque estava sozinho e apaixonado.
Começa aqui a história romântica. Aurora apaixona-se também por Jim, nesta ignorância, e vivem o melhor romance que se pode experimentar nestas circunstâncias. Mas até quando é que Jim vai conseguir manter o segredo? E se contar, não a perderá?
Mas o filme é ficção científica, afinal, e a nave começa a dar problemas. A princípio quase imperceptíveis, depressa se agravam. Tal como no caso do Titanic (que era “insubmergível), a companhia que desenhou a nave cometeu a arrogância de pensar que a inteligência artificial dos sistemas de navegação bastaria e que os tripulantes humanos não seriam necessários à viagem. Acontece, com a degradação progressiva causada pelo embate com o meteorito, que a nave se encontra prestes a explodir.
Mais do que a acção (necessária para que os passageiros salvem as vidas e a nave), o importante no filme continua a ser a vertente romântica: desesperado, arrependido, Jim quer acima de tudo provar que é “merecedor” do sacrifício que impôs a Aurora, arriscando a vida sem pensar duas vezes. Mas será mesmo merecedor? Poderá Aurora perdoá-lo? E deverá?
Não são questões que se esperem de um filme de ficção científica e os amantes do género talvez não apreciem muito esta telenovela espacial. Mas o filme é o que é, quase todos os clichés dos filmes românticos por aqui desfilam, e é preciso ter isto em consideração.
Por causa desta misturada de temas (o náufrago, a nave espacial que precisa de ser salva por amadores, os clichés românticos) eu fiquei com a sensação de não ter visto nada de original. Já vi muito melhor em todos os temas mencionados.


13 em 20

 

Sem comentários: