Artigo de
Gabriel Branco, Diretor do Servico de Neurorradiologia do Hospital Egas Moniz. no Observador de 6 de Junho de 2020. Transcrito integralmente.
Bases científicas sobre o uso de máscaras para proteção individual e social
As máscaras são para ser usadas por pessoas doentes em contacto com pessoas saudáveis, pelos cuidadores de pessoas doentes e por quem desinfeta zonas hospitalares referenciadas, por mais ninguém.
A população em geral tem sido aconselhada ou obrigada por Lei a usar máscaras que cobrem a boca e nariz, sem que as autoridades responsáveis por essas sugestões ou ordens tenham fundamentado de forma clara as provas da eficácia dessa prática, no que se refere à prevenção de doença respiratória viral.
Parece ser útil no interesse da saúde pública conhecer os dados científicos disponíveis sobre a eficácia dos diversos de tipo de máscaras na proteção contra estes agentes.
Existem basicamente 3 tipos de máscaras:
Máscara têxtil reutilizável após lavagem;
Máscara de tipo cirúrgico, de elásticos ou atilhos;
Máscara filtro respiratório, designadas P1 a P3;
As máscaras cirúrgicas foram concebidas para proteger o campo operatório, filtrando 95% das bactérias expiradas, por reterem partículas a partir de 1000 nm. Não foram concebidas como filtros respiratórios de proteção individual.
A letra P é uma abreviatura de FFP (Filtering Face Piece); estas são as únicas máscaras que podem ser consideradas como filtros respiratórios. A maior parte das máscaras FFP contêm um filtro plástico central, mas muitas máscaras correntemente em uso em Portugal, com código KN300, não têm esse componente, embora possam ser classificadas como P1 ou P2.
Nos EUA a sigla N95 é equivalente a P2 ou P3 na Europa. Os números 95 e 300 significam que há uma capacidade de filtrar 95% ou mais de partículas de dimensão igual ou superior a 300 nm.
Revendo a literatura científica, devemos considerar a superioridade dos RCT sobre os artigos gerais. RCT são Estudos Randomizados Controlados e representam o grau de prova máxima que é possível obter em ciências médicas e biologia.
Especificamente sobre a proteção de máscaras contra os vírus da gripe, destaca-se um grande artigo de revisão crítica sobre a eficácia das máscaras, cuja conclusão passo a citar: “Nenhum dos estudos estabeleceu uma relação conclusiva entre o uso de máscara/respirador e a proteção contra a infeção por gripe (influenza): Influenza Journal (DOI:10.1111/j1750-2659.2011.00307.x)
A eficácia da máscara cirúrgica é definitivamente colocada em causa num RCT de boa qualidade, que compara a eficácia da máscara cirúrgica com os filtros respiratórios: A cluster randomized clinical trial comparing fit-tested and non fit-tested N95 respirators to medical masks to prevent respiratory virus infection in health care workers. Influenza and Other Respiratory Viruses (DOI:10.1111/j.1750-2659.2010.00198.x)
Ou seja, a utilização de máscaras têxteis no âmbito da prevenção de doença respiratória viral é prejudicial, pelo que a sua circulação deveria ser proibida.
Assim, a Organização Mundial da Saude (OMS) publicou em 6 de Abril de 2020 uma reavaliação sobre o uso das máscaras de proteção individual, sobre o assunto específico do Coronavirus. E concluiu: “as máscaras continuam a estar recomendadas apenas para certos grupos específicos – doentes infetados com o SARS-Cov-2, pessoas com sintomas, cuidadores ou profissionais de saúde em contacto com doentes infetados ou suspeitos.”
Nos estudos científicos as máscaras cirúrgicas são utilizadas por um máximo de 4h. O uso continuado de máscaras, sobretudo em exercício, reduz a oxigenação e aumenta a taxa de CO2. A acumulação de humidade e a concentração de partículas captadas do ar disponibiliza na máscara um maior número de agentes nocivos ao utilizador, portanto confere um risco maior de infeção do que o da respiração livre.
Não é assim compreensível a posição da DGS e do Governo português, que emitem ordens sobre o uso de máscaras contra os dados científicos, mas também contra as próprias diretrizes da OMS, o que constitui um atentado contra a saúde pública.
As máscaras são para ser usadas por pessoas doentes em contacto com pessoas saudáveis, pelos cuidadores de pessoas doentes e por quem desinfeta zonas hospitalares referenciadas, por mais ninguém.
Não há qualquer indicação para o uso generalizado de máscaras em pessoas saudáveis na comunidade, podendo mesmo ser afirmado com propriedade, que o seu uso acarreta riscos tangíveis.
1 comentário:
"As máscaras são para ser usadas por pessoas doentes em contacto com pessoas saudáveis, pelos cuidadores de pessoas doentes e por quem desinfeta zonas hospitalares referenciadas, por mais ninguém. "
Não seja assim... então e aqueles que são assintomaticos, que não sabem que já estão infectados, e que por essa razão se não usarem mascara, podem facilmente passar o COVID-19 para terceiros?!?
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