domingo, 5 de abril de 2020

Only Lovers Left Alive / Só os amantes sobrevivem (2013)


Cheguei a este filme através da música de Jozef van Wissem, quando este veio tocar ao festival Fade In 2019 (Leiria). A banda sonora é tão boa que quando descobri que “Only Lovers Left Alive” era um filme de vampiros, ainda por cima, tive de ver.
E o filme não desaponta no que diz respeito à música. Diria mesmo o contrário, que às vezes o filme tem tanta música que mais parece um videoclip e se eu quisesse ver videoclips ia ao YouTube.
Mas não é este o grande problema do filme. Ninguém jamais me vai ouvir dizer mal de personagens tridimensionais e bem construídas, como é o caso. O que falta a este filme é outra coisa igualmente crucial. Este filme não tem história. Ou não tem história que chegue, o que vai dar ao mesmo. É um filme-retrato, que se vê pela estética e pelo “ambiente” criado e por interesse nos personagens, à maneira daqueles filmes europeus em que dois personagens se sentam à mesa da cozinha e discutem Filosofia, mas não é o meu tipo de filme. Se os personagens não fossem vampiros muito provavelmente eu nem teria visto o filme até ao fim.
Mas vamos então ao pouco de história que “Only Lovers Left Alive” nos apresenta. Os protagonistas são um casal de vampiros, Eve e Adam, ela a viver em Marrocos, ele a viver numa zona deserta de Detroit, consequência do fecho das fábricas. Nunca se explica porque é que não estão a viver juntos, se aparentemente ainda se amam como no princípio, mas talvez como vampiros tenham tanto tempo à sua frente que estas separações temporárias são normais. Eve é alegre, entusiástica, apaixonada pela vida. Adam é melancólico, filosófico, introvertido. Como acontece aos vampiros muito antigos, Adam frequentemente se deixa cair no ennui de existir, e desta vez chega mesmo a mandar fazer uma bala de madeira para se suicidar. Eve percebe-lhe a depressão e viaja até ele, num voo nocturno, as malas cheias de livros em vez de roupa. Se a paixão de Eve são os livros, a de Adam é a música, bem como outras engenhocas científicas. A casa de Adam é um pesadelo de desarrumação, mais parecendo uma oficina caótica, com peças e fios e aparelhos em todo o lado, até na banheira e no frigorífico (desligado). Eve e Adam vivem à parte da humanidade (a quem chamam zombies, a nós!), observando de longe a passagem dos séculos e os progressos e retrocessos da sociedade. Bons vampiros, daqueles que se alimentam nos bancos de sangue dos hospitais, não fazem vítimas. Mas têm um problema. O sangue dos seres humanos está cada vez mais contaminado, o que leva os vampiros a adoecer e até mesmo à morte. Esta contaminação nunca é explicada de forma explícita, mas tanto pode ser drogas como SIDA como até a dieta do ser humano moderno. Penso que sejam drogas, porque a certa altura um deles diz que o sangue veio de alguém ligado à música, logo, “era de esperar”. Drogas é a hipótese mais provável.
O filme não tem realmente muito enredo. A certa altura a irmã mais nova de Eve, Ava, igualmente vampira e antiga mas com uma irresponsabilidade e um egoísmo de adolescente, visita o casal em Detroit e faz uma vítima. Eve e Adam têm de se ver livres do corpo, mas entretanto foram vistos com a vítima e têm de fugir para Marrocos. Onde os espera outro problema. O médico que arranjava sangue puro para Eve entretanto já não está lá, e pela primeira vez no filme Eve e Adam estão em grandes apuros.
E então o filme acaba. E fez-me pensar: “Era só isto?” Agora que estava bom, que Eve e Adam tinham de recomeçar do zero e arranjar outra rede de apoio, acaba assim? Pelo menos façam uma sequela.
“Only Lovers Left Alive” é um filme-retrato que vai agradar certamente aos amantes de vampiros, especialmente aos amantes de vampiros riceanos, que compensa em ambiente e banda sonora o que peca por falta de enredo. Eu, confesso, esperava mais, e gostaria muito de ver uma continuação.

15 em 20



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