domingo, 12 de abril de 2020
Pet Sematary / Cemitério Vivo (1989)
Gravei este filme ao engano, porque o canal anunciava que era a remake de 2019. Não, era o original de 1989, mas não me importei porque gosto mesmo muito deste filme. Já o vi umas quatro ou cinco vezes, duas delas no cinema, e quanto mais o vejo mais gosto dele.
“Pet Sematary”, adaptação do livro homónimo de Stephen King, pode parecer superficialmente um filme sobre zombies, mas da forma que eu o vejo é tudo menos isso. É uma história profunda e filosófica sobre a morte, o luto, e a dor tão intolerável que leva quem perdeu um ente querido a fazer o proibido para o ter de volta. Várias vezes me vieram as lágrimas aos olhos.
Não vou contar a história, até porque por esta altura já toda a gente viu o filme, mas vou salientar quando no início a filha do casal se revolta ao perceber que o seu gato, Church, ia morrer um dia. “Ele ainda vai estar vivo quando andares no liceu”, diz-lhe o pai, “parece-me uma vida bem longa”. “Não me parece nada longa”, responde a miúda, e tem razão: “Já sei, quem faz as regras é Deus. Se Deus quer um gato que o arranje! Que não me leve o meu gato!”
O que a miúda diz reflecte a grande questão que pesa sobre a humanidade desde que a homem pré-histórico se sentou à volta da fogueira e começou a pensar no assunto. A vida é muito curta. Por longa que seja, é sempre muito curta. Deus e a religião, se quisermos ser incréus, foram invenções da humanidade para solucionar o problema da mortalidade. Morremos, mas a religião diz-nos que, de alguma forma, ressuscitamos, neste mundo ou no outro. Nada é mais difícil para um ser pensante do que a aceitar a efemeridade da vida, e de que tudo continua mas já não estaremos cá para ver o futuro.
A revolta começa na infância, quando as crianças vêem morrer os seus animais de companhia. Continua pela fase adulta, enquanto o homem tenta encontrar a explicação ou a conformação que lhe apazigue esta angústia existencial. Para alguns, como o médico do filme, nada existe após a morte. Podemos mesmo condená-lo por tentar trazer à vida o seu filho bebé, e, apesar dos resultados, insistir ainda em ressuscitar a sua esposa? Pergunto mesmo mais: quem não faria o mesmo naquela situação? O solo do coração de um homem é emperdernido, diz o filme, e nada o demove.
O filme propriamente dito está muito bem feito e continua actual (não percebo os motivos do remake, mas logo comentarei quando o vir), tirando os exageros típicos da época: aquela parte de Zelda, com o cliché "Vou-te apanhar!", era perfeitamente dispensável. E a cena em que o bebé luta corpo a corpo com o pai adulto -- que ridículo e que cena péssima, péssima! Mesmo assim, um bom filme do princípio ao fim, mas por causa destas cenas não é o filme perfeito que podia ser.
17 em 20
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