O ÚLTIMO PATAMAR
I
Daqui não se
pode descer mais
Para baixo não
existe mais nada
é o ponto de
nenhum retorno.
Chegámos às ruas
da cidade
onde as luzes
não se acendem
nem quando a
noite cai escura.
E os fantasmas
da sombra ressuscitam,
deambulam
solitários na escuridão,
até a luz do sol
lhes ferir a vista,
obrigando-os a
recolher aos seus túmulos,
nem as criaturas
têm descanso.
Segurança não
existe no patamar
onde finalmente
nos encontramos, aqui,
e daqui para
baixo não existe mais nada.
Não há hipótese
de queda, aqui nem a gravidade existe,
mas daqui não
saímos mais.
Não saímos
vivos, nem mortos, nem zombies.
O nosso lugar é
aqui, pelo menos não podemos
cair mais.
II
Como descrever
então este local sem nome
sem nada ao qual
compará-lo
só as brumas se
assemelham à mente
dias de intenso
nevoeiro
com luzes
estranhas e incompreensíveis
que se acendem
até à loucura
dias estranhos
só de cinzento
indescritíveis e
incomparáveis,
sem gemido
algum,
a angústia que
já nem se sente
que
possibilidade há em sentir
os pingos de
cera que caem
na pedra fria de
mármore?
tornam-se
pedaços moldados,
frios, duros,
sem vida,
pedaços de alma
que caem,
perdem o calor e
a força
desprendem-se
aos poucos do todo
todos eles são
tão poucos!
Ignoráveis,
removíveis, como nós os condenados
a quem caíram
todos os poucos
lentamente
perdemos a alma.
III
Pois aqui é o
sítio
donde não se
pode descer mais
só há escuro,
trevas, e não há luz.
Ainda assim
vemos tudo tão claro
que só queremos
apagar estas luzes
brilham-nos no
cérebro até enlouquecer
são um carrossel
de verdades,
montanha russa
de tragédia,
velocidade, luz
e derrota
nos prendem aos
grilhões da liberdade
onde nos
prendemos e condenámos
Só aqui somos
livres
na forma que
concebemos liberdade
e porque não
estamos sozinhos
tocamo-nos na
escuridão
e compartilhamos
as nossas luzes
e sofremos todos
juntos
em silêncio,
para a tortura ser maior
presos no nosso
carrossel, presos na nossa liberdade
seguros no sítio
onde segurança nunca existiu
onde não podemos
cair mais
sem sonhos, sem
fé, sem lei
sem degraus mais
para baixo.
Abaixo de zero,
acima de nós.
4 e 7 outubro
1988
4 comentários:
Há dias em que me sinto exactamente assim. Fora a pontuação - ou falta dela - que imagino ter sido propositada - mas eu gosto muito de virgulas e ponto e virgulas - consigo absorver a essencia deste escrito, e é como digo , ele há dias em que me sinto exactamente assim, e desafio alguém a dizer que nunca passou por isto. Escusado dizer que adorei, e confirma-se a noção que sempre tive de ti: escreves mesmo MUITO bem.
Mais uma vez, bondade tua!
Este fala de ambientes fumarentos e de noites góticas... e de drogas.
Sim, a pontuação, e até a gramática, foram ignoradas. As "quebras", as transgressões gramaticais, também fazem parte da totalidade do caos psicológico que quis transmitir.
Bondade nenhuma, que de bondosa não tenho nada ;)
http://fashionfauxpas-mintjultp.blogspot.com
Olá, estou passando para parabenizar seu Blog. Gostei muito da atmosfera daqui. Se quiser, dê uma conferida no meu. Obrigada!
http://madamshadow.blogspot.com.br/
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