sábado, 20 de julho de 2013

Máquina Herética: poesia e prosa poética, 12


O doce cheiro da morte

O dia em que bebi o teu sangue
soube-me à morte que me corre nas veias
o dia em que pendurei o pássaro na parede
Cristo alado redentor colado pelas asas
O pássaro que o meu gato matou
Ali está o Pássaro frio ensanguentado
o bico fechado, enfim descansado
as garras furiosas e tão frágeis
que não lhe serviram para nada
penduradas imóveis
O cheio a morte empesta na sala
o cheiro do sangue dos passarinhos mortos
empesta a minha vida
persegue-me, este cheiro insuportável
os passarinhos inocentes e humilhados
pelos gatos pretos
O dia em que bebi o teu sangue
Suguei-o da tua boca instável
arranhei-o das veias do teu peito
e cheirava tão bem, o teu sangue,
como cravos de pétalas rubras.
Os cravos do cemitério
que cobrem os passarinhos mortos que cantam
nos ciprestes
entre as campas
cobertas de cravos vermelhos como o teu sangue,
o teu sangue que eu bebi com prazer.


551989
sexta feira à noite

2 comentários:

Fashion Faux Pas disse...

Pesado. Nem imagino oq ue te estaria a passar pela cabeça. Talvez tudo, talvez nada.

katrina a gotika disse...

Prefiro não explicar.
Posso dizer que os meus amigos de liceu, na altura, fartaram-se de gozar com isto, especialmente a parte dos "passarinhos humilhados
pelos gatos pretos". Foi aí que eu percebi que para fazer alguém sentir alguma coisa não podia ser tão subtil. Tinha que ser mais bruta. E actualmente, quando quero fazer alguém sentir alguma coisa, faço mesmo. Dependendo do grau de brutidade da audiência, assim é o meu grau de brutidade. O grau de brutidade vai aumentando consoante a dureza da casca. Mas atinge.
Às vezes tenho medo de estar a escrever com demasiada brutidade e alienar da minha escrita as pessoas sensíveis, as que não são brutas, as que sentem intensamente e se "aleijam". Ainda hoje não sei exactamente que medida de brutidade usar no geral.
Mas tudo isto aprendi aqui, com os "gatos pretos" e os colegas gozões. Ajudaram-me e nem se deram conta do quanto.

PS: Quando digo "brutidade" não quero que seja interpretado como brutalidade ou violência. É brutidade, mesmo, para entrar na cabeça das pessoas brutas, tipo martelada no crânio.