Máquina herética
Vem, doçura dos
meus passos
Ao aconchego
terno dos meus braços
cheios de tal
dor suprema e cansaços
deixa-me
prender-te em fortes laços
Mas não me peças
que te ame, por favor
de tudo, o que
não tenho é o amor!
Porque não sabes
como sou eu própria
Sou uma bela
máquina de aprender
Aprendi a dançar
e a viver
aprendi a
beijar, rir e sofrer
Cheia de
inteligência me construíram gelada
Edificaram-me
estátua mecânica de prazer
Julgaram-me
nocturna ao som da alvorada.
Sou eu própria
máquina de álcool puro
Sou um copo de
veneno destilado
Sou a serpente
que te espera em pecado
Para te matar,
para te amar em sono escuro
Sou só uma
vítima das noites frenéticas
Destilo em mim
doces trovas heréticas
Não encontro o
pesadelo que procuro.
Oh, amor, para
mim és a doçura
que me acalma as
tristes noites de terror…
Mas tu não sabes
nada do amor
Só sabes que não
entendes a loucura
Não sabes se sou
anjo se demónio
Nem eu sei se
sou possessa ou possuidora
Nem eu sei como
ser de ti traidora.
O que vês de mim
é a verdade!
Sou máquina
correcta de objectividade
Revisto a alma
matemática de sinceridade
Sou poeta louca
de racionalidade
E se te amo é
apenas relativamente
Na minha vida
tudo é consciente.
Analiso-te e a
mim racionalmente
Os dados que tu
lês objectivamente
São os factos
verdadeiramente.
Mas existe um
caos que não conheço
Não consigo
prever os universos
O amor demora
mais do que mereço
Da vida só tenho
sonos dispersos
Como podes
entender o gelo que eu sou
se agora és fogo
que arde selvagem
e eu, fria
ártica aragem.
Eu sou uma
máquina de aprender
Não te esqueças
que te digo objectivamente
Os avisos que
precisas de saber
Sou sincera e
pura e louca e doce
sou a tua irmã,
a alma de prazer,
serei aquela que
tem sempre os braços certos
Mas nunca tentes
saber os meus segredos
a razão de já
estar morta sem morrer.
Ah, quem me dera
ser insensível!
Ser ainda mais
gelo do que sou
ser como tu,
segura e invencível!
8 comentários:
epá, é o que eu digo, tu escreves mesmo MUITO bem!! Isto está brutal, lindo, poderosíssimo!!
http://fashionfauxpas-mintjultp.blogspot.com
Não, és tu que me estás a estragar com mimos. :)
Este poema é muito autobiográfico e muito do que disse na altura continua a ser verdade. Nomeadamente a ultima estrofe:
Ah, quem me dera ser insensível!
Ser ainda mais gelo do que sou
ser como tu, segura e invencível!
Saliento aqui a palavra "segura".
*humbly bows"
Só queria comentar também que existem passagens que, como preveni, te podem lembrar também Florbela Espanca, mas quanto a isso, em minha defesa, tenho de dizer que em certas coisas sinto como ela sentia. Não em todas, mas em algumas. Não podia expressar-me de outra maneira se os sentimentos são idênticos.
Tem graça que eu senti mais José Régio aqui do que Florbela Espanca. Não são mimos, são opiniões ;)
O "Cântico Negro" de José Régio sempre me disse muita coisa.
Está aqui:
http://gotikka.blogspot.pt/2012/10/gotika-arquivos-dezembro-2003_16.html
Mas nunca tinha feito a associação, não senhora.
Olá, Katrina!
Impõem-se(me) dizer que a MintJulep não está a mimar-te: escreves mesmo bem! Eu não estava à espera de ser "recebida" com poesia, pensei que não te dedicasses a esse género, e foi uma surpresa muito boa :)
Não tenho vindo aqui (por "aqui" entenda-se os blogues), não há como habituar-me a isto e até gosto, mas é estranho, aqui não acontece nada e ao mesmo tempo acontece tudo.
Respondi-te lá, há muito tempo, uma resposta a uma pergunta que me fizeste e é algo invulgar, mas nem sei se viste.. Eu achei logo, assim que o escrevi, que gostaria que lesses. Se calhar estou a dar muita importância a coisas que a não têm, mas sou eu, sou eu, sou eu, sou eu (que a dou) :) (quero dizer que sou um pouco louca).
Gostei muito do que li e espero voltar em breve.
Agnes Rubra
mas nem sei se viste
Vi. :)
Hahahahahaha
esse "nem sei se viste" é tão completamente EU, sou tanto assim, nunca sei nada àcerca do que me importa! Ainda bem que viste :)
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