quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O fogo das cinzas

Christian Death 1334, Caixa Económica Operária, 1.12.07

Confesso que fui para este concerto sem grandes expectativas e apenas para satisfazer uma certa curiosidade. Sempre apreciei mais a fase de Christian Death com Valor Kand, enquanto os primeiros álbuns, com o fundador Rozz Williams, ao fim de um certo número de anos e audições intermináveis, se tornaram demasiado depressivos (até para mim) a ponto de actualmente já não os ouvir de todo. Isto não quer dizer que não os tenha todos "gravados" na cabeça, do princípio ao fim, como acontece com toda a música que ouvimos muito e gostámos muito.
Mas verdade seja dita, Rozz morreu e não me dei ao trabalho de sequer ir à internet ouvir a banda que se batizou Christian Death 1334, com três dos muitos membros que passaram pela banda: Eva O (vocalista), Rikk Agnew e James McGearty. (Para pormenores sobre a história atribulada da banda Christian Death, que ironicamente insiste em manter-se muito viva contra ventos e marés, favor consultar a Wikipedia que eu não tenho paciência.)
Foi de facto um mergulho no escuro, daqueles a que gosto de me dar ao luxo de vez em quando. Sem rede. Como se fosse uma banda totalmente nova. Como começar do início. Às vezes corre mal, principalmente com reuniões de bandas antigas. Por muito que se tente, não se consegue sair de lá sem uma enorme desilusão.
O que tenho para dizer sobre este concerto, no entanto, é apenas isto: quem não esteve lá devia ter estado e não sabe o que perdeu! A única coisa lamentável foi a falta de público, uma audiência que nem encheu a pequena sala da Caixa. Temo que tenha sido por falta de fé nesta encarnação da banda que muitos preferiram não pagar os 15 euros.
Assim que abriu o concerto, já lá para a meia noite, também fiquei de pé atrás. A vocalista, toda vestida de negro com um véu de tule negro e uma tiara de brilhantes, a lembrar uma noiva já viúva, recordou-me a voz de Gitane Demone e Diamanda Galas: grave, envolvente, possante. Mas que raio era aquela roupa?, pensava eu, quando já ninguém se veste assim nem para concertos? Confesso que me causou um certo choque. Mas à medida que as músicas decorriam, não iguais mas fiéis aos originais, exemplarmente interpretadas, o público começou a dançar, a aplaudir, e a certa altura todo o velho chão tremia de forma não muito tranquilizante... Não foi a nostalgia, foi mesmo a energia do "aqui e agora" e o carisma de quem acredita no que está a fazer que elevou este concerto da previsível apresentação de covers e remakes ao nível de banda que vale por si própria e nos proporcionou uma noite inesquecível.
Por mim, voltem sempre e voltem assim e que haja mais público para a próxima porque bem merecem.
Foi simplesmente o melhor concerto a que assisti em muitos anos: as profundas minhas vénias.

Favor visitar a banda aqui para fotos e vídeos.

1 comentário:

Lord of Erewhon disse...

Foi excelente, de facto! Um momento alto que me fez recordar muita coisa.

Não suporto é ter de levar sempre com aquelas esguedelhadas e aqueles putos lambedores de palcos que o João aka Treccine leva para todo o lado como cortejo!!

Whatever!