quarta-feira, 15 de junho de 2005

I'm a loser baby

Perdi o direito de me queixar sobre a minha pobre situação profissional.
Estou doente e estou de baixa. Finalmente, o cérebro ganhou.

Talvez se a história tivesse sido outra a situação não seria tão grave e tão dramática. Mas as coisas não são o que deviam ser mas o que são.
Hoje cheguei ao meu local de trabalho e, incapaz de funcionar, voltei para casa.

Não me vou queixar da falta de oportunidades. Faltaram, sim, é verdade, mas agora também já não adiantavam. Podia ter sido diferente, sei lá, mas agora também já não importa.
Para mim, acabou. Tornei-me inútil. Deixei de ser uma peça na máquina para ser um resto na sucata.
Durantes estes meus 11 onze anos de trabalho, em que estava cheia de força, se eu tivesse tido um ordenado em condições, podia ter contribuído imenso para a Segurança Social. Mas como tive ordenados de miséria e de exploração (fora os estágios não remunerados), acabei por não contribuir quase nada antes de me tornar inútil. Mas a culpa não foi minha. Eu fiz a minha parte enquanto pude.
Se não conseguir fazer mais, paciência.

Mas, definitivamente, agora é tarde para oportunidades. Já não sirvo. Acabei.

Ainda no sábado dizia a alguém "A minha vida acabou". Referia-me à vida familiar, ou melhor, à possibilidade de constituir família. Agora digo adeus a mais uma etapa da minha vida útil.
Numa sociedade perfeita, estaria na hora de alguém me dar um tiro na cabeça. Por alguma razão que desconheço, não me apetece fazê-lo eu própria.

Soy um perdedor
I'm a loser baby
So why don't you kill me?


Pois é, hoje o meu cérebro parou de funcionar racionalmente. Deixei de me importar com o futuro. A dor de cabeça era insuportável.
O cérebro é um mecanismo delicado e misterioso. O que vêem aqui, não é a parte racional do cérebro mas a sua capacidade lógica de coordenar uma frase coerente atrás da outra. Será esta a parte do cérebro que tenta mostrar aos outros que existe sanidade (ou normalidade) por baixo da fachada?
Não sei. Não faço a mais pequena ideia. Mas não interessa nada porque não é a parte do cérebro que paga as contas. Por isso, que se foda.

Não é irónico? Consigo estar aqui a escrever num blog (que até é apreciado por aí algures) sobre o meu fracasso, e fazer um brilharete, mas não consigo executar a simples tarefa de trabalhar todos os dias.
O Malcheiroso (o meu colega) não escreve duas palavras seguidas mas não falta um dia ao trabalho.
Isto é o karma a dar-me na cabeça. Mas valha-me esta consolação. Eu não cheiro mal. (Acho eu.)

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