terça-feira, 16 de novembro de 2004

"Queen of the Damned" - o filme


(Uma das cenas não inseridas.)


O filme "A Rainha dos Malditos" ("Queen of the Damned", 2002) tencionava ser a adaptação do livro com o mesmo nome da série Vampire Chronicles de Anne Rice. Estrondoso fracasso. Qualquer semelhança parece coincidência.

A história segundo o livro: Lestat acorda de um sono de 60 anos, torna-se numa estrela rock e através da sua música tenta chamar os outros vampiros dispersos pelo mundo. Este chamamento acorda Akasha, a primeira de todos os vampiros, em cujo corpo está o espírito primordial que os mantém vivos. A destruição de Akasha significa a destruição de todos os vampiros descendentes desse espírito primordial. Akasha, rainha egípcia de há mais de 6000 mil anos, decide voltar com um plano: tomar Lestat como seu consorte, eliminar da Terra a maioria dos homens (por acreditar que a guerra e a ganância são causadas pelo ímpeto masculino) e instituir na Terra uma nova religião em que ela e Lestat seriam adorados como deuses.
Lestat não aceita mas não tem força suficiente para se revoltar. Só depois de consumir o sangue de Akasha é que se torna no vampiro poderoso dos livros seguintes. Antes, não era sequer capaz de voar.
O destino de Akasha cruza-se com o de duas gémeas, Maharet e Mekare, suas contemporâneas, que assistiram à transformação da rainha e foram transformadas também em vampiro por um dos servos antes leais de Akasha, Kayman, exactamente com o propósito de a combater em plena igualdade, uma vez que Akasha já demonstrava (na verdade, ainda em vida mortal) as suas tendências ditatoriais. São as gémeas que acabam por destruir Akasha e uma delas, Mekare, toma para si o espírito primordial, tornando-a assim na nova Rainha dos Malditos e impedindo que toda a descendência acabe com Akasha.
Durante a sua vida mortal, Maharet tem uma filha que por sua vez se torna mãe, e assim continuamente, até que 6000 anos depois, nos nossos dias, Maharet toma conta de uma Grande Família humana, espalhada por todos os pontos do mundo. Maharet vive para a protecção dessa sua família humana. Jesse, que vem a ter uma papel mais importante no filme do que no livro, é uma descendente de Maharet e membro da Talamasca, organização que estuda os fenómenos paranormais, incluindo os vampiros. É assim que a sua curiosidade é despertada pelo vampiro Lestat que ela julga poder dizer-lhe alguma coisa sobre a sua própria família (Jesse é órfã). No livro, Jesse e Lestat nunca chegam a falar-se.

O filme
Onde começar a dissecar as chocantes diferenças? Lestat não é criado por Marius mas sim por um vampiro louco chamado Magnus que se imola no fogo após a tranformação de Lestat.
A cena comovente que sustenta todo o filme (a morte da cigana na praia) nunca acontece. O violino de Lestat não é dessa cigana mas é sim o violino do seu amigo Nicholas, que também pôs fim à vida pelo fogo pouco depois de Lestat o ter transformado em vampiro.
O violino, fio da meada de todo o filme, é destruído por Enkil (rei e legítimo marido de Akasha) quando Lestat acorda a sua rainha ao tocar para ela, no século XVIII, e sim, coincidente com a acção no filme, quando se encontra em casa de Marius algures numa ilha no Mediterrâneo.
Logo, adeus violino. Uma das primeiras cenas do filme, em que Lestat se levanta do túmulo com o violino na mão, é inventada.
Lestat também não cria Jesse. É Maharet que cria Jesse quando esta se encontra à beira da morte. Lestat e Jesse só se encontram por breves instantes quando este está em palco a cantar no famoso único concerto da banda O Vampiro Lestat, e nem chegam a conversar. Lestat nunca esteve sequer num bar da Vampire Connection. É Louis quem o informa de que a rede de bares onde os vampiros se encontram existe, e que é frequentada por góticos.
Por falar em Louis, não entra sequer no filme.
Por falar no concerto, o ataque dos vampiros que querem destruir Lestat não acontece durante o concerto e Lestat e Marius não são vampiros mestres de karate. Isso é outro filme e chama-se "Blade". O ataque dos vampiros dá-se depois do concerto. Lestat e Louis estão a sair do recinto, de carro, quando são atacados, e Gabrielle, mãe natural de Lestat, aparece ao volante e ajuda-os a fugir. A própria Akasha não se faz anunciar senão na primeiras horas da madrugada do dia seguinte ao concerto. Não, não aparece em palco como no filme, longe disso.
Ah, e os vampiros Riceanos são conhecidos por não deixarem cair uma gota de sangue. Toda aquela encenação de leão após uma caçada serve apenas para alimentar o cliché. Os rugidos e o som de asas de morcego durante o voo, idem.
Algumas das cenas filmadas foram pura e simplesmente removidas do filme e agora divulgadas em DVD, como por exemplo as cenas em que os imortais antigos são apresentados. O que faz uma confusão desgraçada a qualquer pobre mortal que veja o filme sem ter lido o livro. Armand, Pandora, Kayman, Mael e Maharet estão no concerto, mas ninguém os apresenta. Logo, ninguém sabe quem eles são. Ademais, embora tenha sido uma opção do realizador para os "mostrar" antigos sem gastar palavras e tempo, estes vampiros aparecem envelhecidos, o que não se passa no livro. A sua aparência é tão jovem como a dos vampiros mais recentes.
E por falar em aparência, a suprema heresia do filme, para os fãs incondicionais, é que Lestat é louro, Marius também é de um louro nórdico e tem cabelos longos, Armand é arruivado, não louro, e tanto Maharet como Jesse são puramente ruivas como só as ruivas naturais podem ser. Nos dias que correm, custa apenas uma hora e uma embalagem de Garnier... Não se perdia nada em manter os personagens iguais a si próprios...
Por falar em personagens, Mekare, a gémea que de facto se torna na nova Rainha dos Malditos, não é vista nem achada.
Uma parte importante do livro, a relação - muitas vezes erótica - entre Armand e Daniel (o entrevistador de Louis) é completamente ignorada. Agora, isso sim, merecia um filme exclusivamente dedicado aos dois. Se o livro vale a pena, a ambos o deve.

As comparações ao "Corvo" são mais que muitas e bem fundadas. Os diálogos são de um embrutecimento atroz ("Boo!", "Boo back!") que dá dor de alma. A cena de pancadaria vampírica durante o concerto... Um disparate. Uma descaracterização completa dos vampiros de Anne Rice que actuam através do poder da mente.
O próprio Lestat (Stuart Townsend, na imagem) representa um Lestat arrogante, adolescente e afectado, à la Corvo, um rebelde com causa e angústia juvenil. O teenager revoltado com os pais. Sobra de verdade a arrogância, que é muito pouco comparado ao Lestat desesperado e determinado a reencontrar os amigos que perdeu durante os seus dois séculos de existência, após tomar consciência, através do relato do vampiro Louis, que ambos foram separados por uma teia de mentiras e imcompreensão para a qual muito contribuiu o vampiro Armand.
É um filme a pensar na audiência gótica - basta olhar para os "personagens" que vão ao concerto - e especialmente na audiência gótica americana, alimentada no biberão da MTV. Todo o filme parece um videoclip. Recorda-me um outro filme de vampiros feito de propósito para a minha geração de adolescentes, "The Lost Boys" (tradução "Os Rapazes da Noite"), com Kiefer Shuterland, em que se invocava a imagem de Jim Morrison a torto e a direito e de onde saiu uma das melhores versões de "People are Strange" que todos os tempos, assinada pelos Echo and the Bunnymen.
Também não era para pensar, apenas para ver. Tal como este "Queen of the Damned".

A banda sonora
Se o filme é para góticos...
É difícil não gostar da banda sonora. Confesso que entre os dois - filme e som - fiquei com aquela tristeza de existir que só um ambiente gótico pode evocar.
"Not Meant For Me", "Forsaken", "Redeemer" (com a colaboração de Marilyn Manson), "Slept So Long" e "Cold" já são clássicos.
Vale a pena adquirir a banda sonora mesmo sem ver o filme porque, afinal, o filme vive dela como os vampiros vivem de sangue.

12 em 20, porque Stuart Townsend é muito bom... actor.

4 comentários:

LETICIA disse...

Muito bom o seu comentario disse tuuuuudo que precisava ser dito,
O filme foi uma lastima, mas as musicas e video clipes são bons.

Jeiber disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jeiber disse...

mesmo o filme saindo do livro
como foi dito
o espirito do ator como lestat foi incrivel.. afinal como diz no livro o vampiro lestat e rainha dos condenados lestat eo principe dos moleques ele e revoltado...
stuart so nao tem a aparencia do vampiro lestat mas na sua forma de agir no filme foi muito proximo do q eu tinha imaginado o vampiro lestat antes mesmo de ver o filme
agora a musicas foram feitas apenas pro filme foram totalmente dedicada e praticamente escuto a voz... sobrenatural do vampiro nelas fora quase q todas escrita por jonathan davis da aclamada banda norte americana korn

Unknown disse...

Olha eu amo o Stuart como Lestat! Sei que Tom Cruise chegou mais próximo do Lestat do livro, mas de verdade o Stuart ficou sexy, nórdico e envolvente! É simplesmente fantástico a maneira como ele consegue envolver, assim como um vampiro deve ser, adoro a maneira arrogante e imatura dele, tudo nele me atrai e eu sei que o filme foi muito pobre em relação ao livro, mas a atuação de Stuart é simplesmente fantástica, fora que ele fica lindo em calças de coro!