domingo, 22 de dezembro de 2024

The Walking Dead: The Ones Who Live (2024)

 

De todas as spin-offs que saíram de “The Walking Dead”, esta era sem dúvida a mais aguardada: o que aconteceu a Rick quando A Senhora da Lixeira/Jadis/Anne o levou de helicóptero, e a reunião com Michonne, que deixou tudo para o ir procurar. De certa forma, estes seis episódios são o verdadeiro final da série original, a conclusão da história daquele que foi o protagonista desde o primeiro momento, Rick Grimes.
Os fãs já desconfiavam, pelo que nem é um spoiler. Rick foi levado por Jadis para a CRM, que alguém traduziu melhor do que eu como Exército da República Cívica, o que não significa nada porque não é uma república e muito menos cívica.
Comecemos já por aí. Não é preciso ver “The Walking Dead: World Beyond” (a spin-off “adolescente” de “The Walking Dead”) para compreendermos a CRM, mas quem viu já ficou perfeitamente elucidado quando a CRM destruiu toda a cidade de Omaha, uma cidade aliada, e o seu Campus Universitário cheio de jovens. Em “The Ones Who Live” ficamos a perceber a ideologia subjacente a esta chacina: em primeiro lugar, este exército tem a sua base em Filadélfia, cidade que sobreviveu ao apocalipse e que é supostamente a tal República Cívica mas na verdade é a ditadura militar da CRM (Civic Republic Military). Segundo a CRM, a sobrevivência e segurança da cidade dependem do maior segredo em torno dela, pelo que quem lá entra já não é autorizado a sair e quem tenta fugir é abatido. Isto explica, finalmente, porque é que Rick nunca conseguiu regressar a Alexandria apesar das muitas tentativas de fuga. Rick não foi apenas levado, mas raptado e mantido em cativeiro, forçado a tornar-se um cidadão e, posteriormente, soldado da CRM. Jadis conseguiu que a CRM o aceitasse classificando-o como um “B”, isto é, um seguidor. Os “As”, os líderes, os que pensam pela própria cabeça, são abatidos, à semelhança da ideologia dos Khmer Rouge.
Mas a CMR é capaz de atrocidades piores, como já se viu em “World Beyond”. A princípio aliados de Omaha e Detroit, sem que estas duas cidades conhecessem a base da CRM, o exército decide pura e simplesmente bombardear Omaha, e Detroit está na calha a seguir. Porque é que a CRM bombardeia os seus aliados? Porque tem uma ideologia, a que só posso chamar nazi, de terra queimada: destruir o mundo velho para criar o novo, com pessoas submissas, que não se insurjam, que não questionem, dispostas a abdicar da liberdade em troca de segurança. A missão da CRM é, efectivamente, destruir todas as comunidades do país, e, a acreditar no que vimos em “The Walking Dead: Daryl Dixon”, em que tudo indica que a CRM tem ligações à Europa, talvez até do mundo (o que é confirmado aqui em “The Ones Who Live”). O mais grave é que a CRM, organização que herdou o poderio militar do exército dos Estados Unidos, tem à sua disposição os meios para o fazer. Nunca “The Walking Dead” conheceu um adversário tão temível e perigoso. Disto tudo, conseguimos perceber que “The Ones Who Live” faz a ligação com outras spin-offs e a série original.

A “escrita Gimple”…
Infelizmente, tenho de confessar que de entre os spin-offs do pós-Walking Dead, “The Walking Dead: Daryl Dixon”, “The Walking Dead: Dead City” e até “Tales of the Walking Dead”, “The Ones Who Live” foi do que gostei menos, e, lamento dizê-lo, porque foi o que me recordou mais dos problemas narrativos de “Fear The Walking Dead”. “Fear The Walking Dead” tornou-se uma coisa tão absurda que eu já só via para me rir e para ler as críticas a gozar com a série e rir mais. Em comum a “The Ones Who Live” e “Fear The Walking Dead” está a escrita de Scott Gimple, o mesmo que conseguiu arruinar a série original antes que Angela Kang tomasse as rédeas em modo de “controlo de danos” e tentasse endireitar o enredo e as personagens na medida do possível.
Em “The Ones Who Live” nota-se perfeitamente a “escrita Gimple”. Por exemplo, no segundo episódio, que eu detestei completamente, Michonne está à procura de Rick e encontra uma comunidade. Uma dúzia de pessoas preferem acompanhá-la. Michonne torna-se próxima de alguns destes personagens, e é suposto que os achemos simpáticos, mas 10 minutos depois estão todos mortos e nem conseguimos decorar-lhes os nomes quanto mais simpatizar com eles. Antes disso, porém, avisam Michonne de que existe uma horda de zombies de 5km de largura entre ela e o seu destino, e que ela devia antes esperar que a horda se deslocasse. Mas Michonne tem pressa e decide romper por entre esta horda descomunal sozinha, a cavalo, no que seria o seu suicídio e o “suicídio” do cavalo. Nunca perdoarei que tivessem posto Michonne a fazer esta estupidez. Mais tarde, à medida que se aproximam da CRM, Michonne e os viajantes são bombardeados com gás de cloro. Morrem todos, menos Michonne e um único sobrevivente, e ambos passam um ano inteiro num centro comercial a recuperar das queimaduras nos pulmões e na garganta, apenas com um tanque de oxigénio. Nem sei se isto é possível, mas na “escrita Gimple” tudo é possível, até uma espécie de radioactividade selectiva que só afecta os personagens quando dá jeito ao enredo (não estou a inventar, é só ver “Fear The Walking Dead”). Mais tarde ainda, no mesmo episódio, que já vai atribulado, Michonne chega ao fim das pistas que seguia em busca de Rick, fica desanimada, chora, decide voltar para casa. Já no caminho para casa, por coincidência, dá de caras com ele. É mesmo assim, Michone não encontra Rick, encontram-se por acaso. Ora, eu acho que se podia ter arranjado uma histórinha qualquer com os personagens desta comunidade, em que eles ajudassem Michonne a combater os zombies e a descobrir pistas que a levassem a Rick, sem que ela passasse um ano enfiada num centro comercial e sem que os dois se encontrassem só porque o enredo assim ditava. Péssimo, péssimo episódio.
Mas passemos à frente. Sem cometer muitos spoilers, direi apenas que Rick não quer regressar com Michonne porque isso faria com que a CRM o seguisse e destruísse Alexandria, e Rick acredita que tem de ficar para trás para o impedir. Na verdade, Rick está a ser chantageado por Jadis, que pertence à polícia militar como sabemos de “World Beyond”, e que tem as suas razões para que ele fique. Se Rick fugir, Jadis revelará a localização de Alexandria. Por outro lado, depois de anos de cativeiro traumático, Rick acaba por ser convencido por Okafor, um oficial da CRM, de que conseguirão mudar a ideologia da CRM por dentro. É isto que Rick pretende fazer: ficar, proteger Alexandria e trabalhar para mudar a CRM. Obviamente, Michonne não anda à procura dele há uns dois anos para o deixar ficar, e atira-se com ele de um helicóptero abaixo, sem pára-quedas, em mais um “momento Gimple”. Foi uma sorte terem caído na água porque não se notou que Michonne estivesse a prestar atenção a esse “pormenor”.

… e a boa escrita…
Chegamos ao meu episódio preferido da série, escrito pela própria Danai Gurira (Michonne). Não fazia ideia de que Danai Gurira escrevesse para teatro e televisão, mas depois disto teria sido melhor que ela tivesse escrito a série toda. Esquecendo a coisa do helicóptero, que é melhor não lembrar, Rick e Michonne encontram refúgio num edifício que parece ter escapado às pilhagens do apocalipse e que ainda tem electricidade e água corrente (mais um momento improvável), e aqui, sozinhos, desatam numa discussão das antigas, com acusações, recriminações e gritaria, e foi tão tenso, tão realista, que eu cheguei a temer que houvesse porrada, e na verdade até houve um empurrão. Michonne revela que Rick tem um filho que não conhece, e que RJ tem quase 8 anos. Isto indica-nos que Rick esteve desaparecido durante uns 9 anos. Depois de quase uma década de separação, Michonne não reconhece o homem à sua frente nem reconhece as suas razões. A briga torna-se tão feia, mas tão feia, que ela o deixa. Ela deixa-o! Adorei este episódio em que pela primeira vez vimos a mulher de carne e osso, vulnerável e magoada, por trás da heroína da catana. Confesso que nunca acreditei muito na relação entre Rick e Michonne, sempre pensei que tinha sido uma coisa de conveniência (eu estou sozinho, tu estás sozinha, é o fim do mundo, não há muito por onde escolher, e nós até nos damos bem, porque não juntamos os trapinhos?) mas uma coisa que “The Ones Who Live” conseguiu foi vender-me este romance, e isto graças a este episódio escrito por Gurira. Sei que muitos fãs se vão queixar e dizer que é “telenovela”, mas sobre eles falo depois.
O que acontece a seguir já não me agrada tanto. Rick e Michonne fazem as pazes e decidem ir destruir a CMR, sozinhos contra o mundo. Aqui aproveito para falar na representação de Terry O'Quinn, o John Locke de “Lost”. (Aliás, as representações são todas muito boas, e saliento igualmente Pollyanna McIntosh como Jadis. Se esta série vale alguma coisa é graças aos actores, não ao enredo.) Terry O'Quinn, como dizia, lembra-me um pouco Bryan Cranston de “Breaking Bad”, ambos com aquele arzinho sonso de quem nem sabe que é actor e que está num filme. Terry O'Quinn não tem muitas cenas mas quando aparece causa impacto no papel do Major General Beale, o topo da hierarquia da CRM, que num briefing a Rick expõe todos os planos secretos da organização: a CRM tenciona destruir os aliados e comunidades pelos recursos e superioridade numérica, tem espiões em todo o mundo para influenciar as políticas e sabotar os aliados (como vimos em “Daryl Dixon”), e é possivelmente a maior força militar do continente ou até do mundo. Só assim a CRM acredita que é possível salvar a raça humana da extinção.

… e o regresso à “escrita Gimple”
Rick e Michonne têm um plano: expor a CRM perante o Conselho da cidade de Filadélfia e as pessoas da cidade revoltar-se-ão. Afinal existe mesmo uma República Cívica e um Conselho, mas, admitamos, este plano é infantil. Este Conselho não manda nada, quem manda é a CRM, o que o torna um governo fantoche. A CRM tem oficialmente 17.000 efectivos, fora a polícia militar e as forças especiais e secretas, tem uma hierarquia militar com muitas chefias espalhadas pelo país, tem helicópteros, veículos, combustível, provavelmente até tem acesso a satélites ainda em funcionamento e talvez até ao arsenal nuclear pré-existente. Para derrotar Negan e duas ou três centenas de capangas e associados, uns bandidos de beira de estrada, foram precisas duas temporadas e dezenas de pessoas. Sobrepondo estes cenários, onde é que alguma vez Rick e Michonne, sozinhos, poderiam derrotar um exército com ramificações mundiais? Em “Daryl Dixon” ninguém pôs Daryl a superar o exército Pouvoir des Vivants sozinho; ele ajudou, mas não tinha conseguido nada sem a Resistência e numerosos aliados. E isto faz logo de “Daryl Dixon” um enredo de maior qualidade do que temos em “The Ones Who Live”, infelizmente, porque este spin-off é mesmo o verdadeiro final de “The Walking Dead”.
Quando a série acabou eu pensei: “Ok, isto não pode ficar assim. Quando é que começa a nova temporada?” Não há nova temporada planeada. É mesmo para acabar assim. Não vou dizer como termina, apenas que a levar a sério é ridículo e infantil. Prefiro considerar que não é um “felizes para sempre” mas um “felizes por agora”, e tirei da cabeça qualquer vontade de uma segunda temporada.
Acho a CRM maléfica uma história fascinante mas, sinceramente, não acredito que a série tenha o orçamento e a criatividade para se meter numa saga em que é travada uma guerra mundial, muito embora “Daryl Dixon” já tenha deixado algumas pistas de como fazer isso. Desde que não entre a “escrita Gimple”, talvez eu me engane.

O grande problema de The Walking Dead não são os zombies
“The Ones Who Live” ajudou-me a tecer algumas reflexões sobre o universo Walking Dead em geral. Desde a segunda temporada da série original que tem havido uma cisão entre os fãs que gostam do realismo e do drama (como o episódio da discussão entre Rick e Michonne) e os fãs que só querem sangue e miolos (como o episódio de Michonne a cavalo contra uma horda de zombies) e que acham que o drama é uma “telenovela”. Penso que a série sofreu devido a esta cisão, tentando agradar a uns e outros e não agradando a ninguém. Quando “The Walking Dead” estreou, quase há 15 anos, havia uma distinção muito clara entre séries dramáticas e séries de acção, distinção que já não faz sentido hoje em dia e que, ironicamente, “The Walking Dead” ajudou a destruir. No entanto, em todo o universo Walking Dead, nota-se claramente que há duas linhas de escrita: a irrealista e estapafúrdia que faz uma mulher inteligente atirar-se de um helicóptero sem pára-quedas, e a dramática e realista que aborda o aspecto emocional dos personagens. Tenho para mim que quem escreve os episódios delirantes, como a radioactividade selectiva, preferia estar a escrever sobre super-heróis para um público infantil ou pouco exigente que só quer ver bonecos de acção. Como a série se destina a adultos e os personagens são de carne e osso, acontecem coisas absurdas como “Fear The Walking Dead”. E desta forma “The Ones Who Live”, com o protagonista principal da saga inteira, conseguiu ter um enredo mais fraco do que “Dead City”, uma série que aliava Maggie e Negan e pela qual eu não dava mesmo nada, mas que funcionou porque o enredo não era completamente estrambólico e as motivações das personagens eram sólidas. Sim, é possível ter drama e acção sem cair no ridículo, mas não com desvarios de super-heróis sozinhos contra o mundo.
De “The Ones Who Live” salva-se o episódio escrito por Danai Gurira, um dos melhores da saga toda, um final para a história de Rick, a integração dos enredos de várias spin-offs, e o grande potencial que existe na ameaça planetária que é a CRM (oxalá houvesse meios para o desenvolver). Mas, pelo menos, não morreu nenhum cavalo.
Peço desculpa pelo testamento, tive de referir várias sub-séries para explicar onde queria chegar e mesmo assim acho que me esqueci de qualquer coisa.

PS: Descobri que Pollyanna McIntosh cresceu, em parte, em Portugal, o que é sempre interessante saber.


ESTA SÉRIE MERECE SER VISTA: 1 vez

PARA QUEM GOSTA DE: The Walking Dead, Fear The Walking Dead, The Walking Dead: World Beyond, The Walking Dead: Daryl Dixon, The Walking Dead: Dead City, Lost, zombies, pós-apocalíptico


terça-feira, 17 de dezembro de 2024

400 Days / 400 Dias (2015)

[contém spoilers]

Quatro aspirantes a astronautas participam num programa de treino para uma viagem de 400 dias ao espaço profundo. O objectivo é analisar os possíveis efeitos psicológicos do isolamento. A experiência ocorre num bunker subterrâneo que simula uma nave espacial.
Pouco tempo depois os astronautas sentem um tremor muito forte e perdem contacto com o comando central mas julgam que é um teste (como tinham sido avisados que aconteceria) e continuam com o programa.
Depois de 300 dias já existem os conflitos e efeitos expectáveis (mau humor, alucinações, paranóia), nada que os astronautas não estivessem à espera e ninguém quer desistir porque a simulação é um primeiro passo para conseguirem ingressar numa viagem espacial a sério.
Tudo muda quando alguém consegue penetrar no bunker/nave. Trata-se de um homem desnutrido e desidratado que desfalece imediatamente. Os tripulantes não têm qualquer contacto com o exterior mas começam a desconfiar que algo de muito errado se passa à superfície. Depois de uma discussão, decidem mesmo sair e investigar o que se passa.
[spoilers]
Descobrem um planeta árido, sem qualquer vegetação. Os poucos sobreviventes que encontram agem de forma muito estranha e revelam que sabiam que os tripulantes estavam no subsolo e que têm recursos. Contam-lhes uma história de como um asteróide colidiu com a Lua, desintegrando-a, o que matou toda a vida na Terra, mas nunca divulgam como é que sobreviveram. Entretanto percebemos que estão a recorrer ao canibalismo. Neste momento já estamos no filme “The Road” sem tirar nem pôr.
“400 Days” era um filme promissor e interessante com muitas alternativas de desenvolvimento mas os argumentistas esqueceram-se de escrever o fim. A certa altura os tripulantes são perseguidos até à nave e conseguem vencer os invasores. E agora? Agora vemos o filme “The Road” para saber o resto.
Uma boa premissa desperdiçada e um final ultra-decepcionante.

11 em 20

 

domingo, 15 de dezembro de 2024

Ice Age: Scrat Tales (2022 - 2024)

Atenção mamãs e papás, entretenimento para toda a família!
Quem lê este blog há algum tempo já deve saber que adoro este desenho animado como o esquilo Scrat adora a Bolota. Sinto-me identificada com a obsessão desde a primeira vez que o vi (embora as minhas obsessões não se relacionem com bolotas). Fiquei contentíssima por descobrir que há mais seis episódios de 4 minutos, só e inteiramente de Scrat!
Em “Ice Age: Scrat Tales”, Scrat encontra um Scrat bebé. É amor à primeira vista entre os dois e agora Scrat torna-se papá. Mas muito em breve o pequeno Scrat começa a competir com ele pela Bolota, e torna-se mais sádico de episódio para episódio. O que vai ganhar, o amor ou a Bolota?
Antes de mais, “Ice Age” é um desenho animado extremamente bem feito. Embora a série possa ser vista por toda a família, é claro, sempre pensei que apenas um adulto consegue perceber todo o âmbito da comédia de Scrat. Pergunto-me mesmo a que idade é que uma criança começa a compreender todas as implicações de sadismo, ganância, egoísmo, e que as personagens já deviam ter morrido umas 30 vezes em cada episódio. Lembra-me um pouco do clássico Coiote e Bip-Bip da minha infância, mas muito mais sádico.
Nestes episódios Scrat morre, quase vai para o Céu, até a Bolota morre, mas não se preocupem, eles voltam.


terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Pressure / Pressão (2015)


Quatro mergulhadores profissionais que trabalham para uma empresa de reparação de cabos submarinos fazem um mergulho de emergência a 200 metros, dentro de uma cápsula. A cápsula está ligada ao navio da empresa por um cabo.
A princípio seria um mergulho rotineiro, quando uma tempestade afunda o navio de apoio à cápsula. Esta tem um localizador GPS, mas àquela profundidade o sinal mal chega à superfície e não tem grande alcance. Por alguma razão que não percebi muito bem, não era seguro fazer flutuar a cápsula até à superfície. O cabo com o navio está cortado e os destroços da embarcação, incluindo cadáveres, estão espalhados pelo fundo do mar. Os mergulhadores têm fatos especiais, mas do que entendi não era viável emergirem com eles. Resta-lhes esperar que a companhia para a qual trabalham venha resgatá-los, mas ao contactarem um navio chinês percebem que esta decidiu ignorá-los por motivos de má publicidade. Agora só podem contar com eles próprios, com o oxigénio e todos os outros recursos a esgotar-se.
Sozinhos no fundo do mar, os quatro colegas que nunca se deram muito bem têm a oportunidade de confrontar as suas opções de vida e os seus arrependimentos. Todos sabem que muito possivelmente não conseguirão sair dali vivos. Alguém conseguirá escapar, mesmo que à custa do sacrifício dos outros?
“Pressure” é um daqueles thrillers do tipo filme-desastre em versão limitada, que permite abordar o drama de cada um dos personagens e compreender por que motivo tomam as decisões que os movem. Sem dúvida um filme para roer as unhas e muito possível de acontecer na vida real.

13 em 20

 

domingo, 8 de dezembro de 2024

Mayfair Witches (2023 - ?)

 

Apesar de ser uma completa fanática das Vampire Chronicles de Anne Rice, nunca consegui interessar-me o suficiente pelo universo das Mayfair Witches e nunca li nenhum livro da saga. Dito isto, não consigo avaliar até que ponto esta série respeita ou não o original, excepto por alguns pormenores.
Em “Mayfair Witches”, Rowan, uma cirurgiã em ascensão na carreira, começa a desenvolver dons letais que não sabe controlar: matar alguém só com o poder da mente. Rowan pede ajuda à mãe adoptiva, doente com cancro, que lhe assegura (falsamente) que ela não tem poderes nenhuns e que é tudo imaginação. Após a morte da mãe, Rowan está mais determinada do que nunca a encontrar os pais biológicos mas esbarra com barreiras inultrapassáveis. Cada vez mais perdida e perplexa, e depois de já ter matado um homem e três corvos sem querer, Rowan é finalmente abordada por um agente da Talamasca, Ciprien Grieve, que lhe explica que ela é descendente das bruxas Mayfair de New Orleans. Rowan e Ciprien vão a New Orleans mesmo a tempo de Rowan conhecer a mãe verdadeira, Deirdre, que é assassinada em circunstâncias misteriosas. Rowan descobre que não é apenas descendente mas a herdeira da família, e que as Mayfair têm uma estranha ligação a um ser chamado Lasher, mais demónio do que outra coisa, que parece ser a fonte dos seus poderes mas que as mantém sob o seu controlo. Com a morte de Deirde, Lasher quer apossar-se de Rowan, mas Rowan não foi criada como Mayfair e fará tudo para se livrar dele.
À medida que acompanhamos as descobertas de Rowan, vemos também as passagens relevantes da vida da sua mãe, Deirdre, e de Suzanne, uma curandeira da Escócia do séc. XVII que parece ter sido a primeira das bruxas Mayfair.
(Falando em Deirdre, Annabeth Gish continua a brilhar em papéis discretos e secundários como brilhou em "The Fall of the House of Usher", "Midnight Mass", "The Haunting of Hill House" e "The X-Files".)
A certa altura nas Vampire Chronicles, Anne Rice começa a fazer um cruzamento entre os dois universos. Em “Blood Canticle”, Lestat apaixona-se por Rowan, uma cirurgiã da família das Mayfair, e inclusivamente decide torná-la vampira mais tarde (mas nunca aconteceu até ao penúltimo livro da saga). Claro que pensei que a Rowan da série pudesse ser a mesma, e não me lembro dos pormenores nem vou fazer a batota de pesquisar, mas uma coisa garanto: esta Rowan não é a mesma Rowan. Até que ponto é que a Rowan das Mayfair Witches é a mesma das Vampire Chronicles também não imagino. (Nem estava à espera de ver Lestat nesta série, mas se ele aparecesse também não fazia mal nenhum, quanto mais Lestat melhor.)
Tendo tudo isto em conta, devo dizer que gostei muito da série. É verdade que não li os livros das Mayfair, mas o que li sobre elas nas Vampire Chronicles pareceu-me tão estranho, mas mesmo tão… estapafúrdio, que perdi qualquer vontade de investigar mais. Tinha um certo receio quanto a estes elementos estapafúrdios (que também existem nas Vampire Chronicles, admito) mas a série simplesmente os descartou e fez muito bem. Desta forma a vida das Mayfair desenrolou-se de forma mais realista, à parte a magia, e interessante. Gostei principalmente do ambiente e costumes de New Orleans, a fazer justiça ao universo geral de Anne Rice, e adorei a Talamasca. A Talamasca, uma organização de investigadores do sobrenatural comum às duas séries, é tudo o que eu tinha imaginado e se calhar até mais um bocadinho.
Não me importava nada de ver o cruzamento dos dois universos mas, considerando as atrocidades que fizeram ao original de “Interview With The Vampire”, até tenho medo de sugerir.

PS: Já depois de escrever este artigo li uma crítica à série de alguém que conhece os livros a fundo. A pessoa disse de “Mayfair Witches” as cobras e lagartos que eu disse de “Interview With The Vampire”: história original destruída, adaptação inferior. Fica o aviso.


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PARA QUEM GOSTA DE: Anne Rice, Lives of the Mayfair Witches, Vampire Chronicles, bruxas, sobrenatural, Interview With The Vampire (série de televisão)

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Incarnate / A Encarnação do Mal (2016)

“Incarnate” não é o típico filme de exorcistas, é mais uma espécie de “Exorcista na Matrix”. Tentarei explicar. Dr. Ember é um cientista que já conhecemos destroçado, numa cadeira de rodas, após um acidente de automóvel que lhe vitimou a família provocado por um demónio que este quer caçar desalmadamente.
Dr. Ember não acredita em demónios no sentido cristão. Para ele estes são entidades parasitárias que se alimentam do hospedeiro. Da mesma forma, ele não faz exorcismos de “fora para dentro” mas antes de “dentro para fora”, entrando na mente do possuído através de medicação e de um dom especial, e convencendo-o de que tudo o que o demónio lhe está a mostrar é aquilo que o hospedeiro quer ver (a tal “Matrix”) de modo a levar o hospedeiro a rejeitar o parasita. O seu próximo desafio é libertar um jovem rapaz de um desses parasitas que Dr. Ember está convencido ser exactamente aquele que lhe matou a família.
Achei “Incarnate” uma abordagem interessante e original ao tema, sem deixar de ser um filme de possessão e exorcismo, seja lá o que o protagonista lhe queira chamar, com um fim em concordância e tudo.

13 em 20

 

domingo, 1 de dezembro de 2024

Sisi / Sissi (2021 - ?)

A vida de Sissi, a imperatriz Elisabeth de Áustria, podia ser um romance do Romantismo. Tudo sobre ela é interessante, até ler a Wikipedia. Sissi podia encarnar a típica heroína do Romantismo, principalmente se incluirmos também o seu primo Ludwig, rei da Baviera, que acabou por se isolar do mundo e morreu em circunstâncias misteriosas, talvez um ultra-Romântico se não mesmo um gótico da altura. Sissi podia muito bem ter sido o modelo para a imagem de Cinderella como a imaginamos hoje: bonita, em traje de baile, os longos cabelos apanhados em penteados perfeitos. Mas a vida de Sissi não foi um conto de fadas.
Casou aos 16 anos com o imperador da Áustria, Franz Joseph I, entrando na família dos Habsburgos que eram os Donos Disto Tudo na Europa da época, com gente na monarquia de todos os países e mais algum. Sissi vinha de uma educação mais informal e ressentiu-se da vida na corte, mas eventualmente adaptou-se. O mais fascinante, porém, é o quão moderna ela nos parece agora. Sissi era obcecada com o seu peso e a sua figura, era anoréxica e fazia ginástica e equitação. Passava horas a ler e a escrever durante a noite, e até começou a fumar, o que era chocante para uma mulher. Até a sua morte é a de uma heroína Romântica.
Esta série alemã/austríaca foi feita à semelhança de “Victoria”, um misto de realismo e muito do glamour e aura da época. Uma pessoa fica deslumbrada com os vestidos, as festas, os bailes, os banquetes, as paisagens. Até a guerra é filmada como um vídeo de música. Por outro lado, quer mostrar-nos a realidade desconfortável e consegue ser perturbador, de formas que se calhar nem acredito. Por exemplo, nesta série Sissi torna-se amiga de uma prostituta para aprender coisas para agradar ao marido, e leva-a consigo para a corte. As cenas entre as duas são… de amigas muito modernas, digamos assim, sem as tornar lésbicas. O final desta amizade foi uma das coisas mais difíceis que já vi em filme ou televisão. Mas acreditar que isto aconteceu na realidade? Nem pensar. Também não acredito na paixão entre Sissi e o marido, um casamento arranjado entre primos. Mas, tal como em “Victoria”, a série não resultaria tão bem sem o par romântico, não é?
Tal como gostei de “Victoria”, é impossível não gostar também de “Sissi”. No entanto, apesar da base histórica, esta é uma série grandemente ficcionada para encher o olho e todos os clichés românticos da nossa imaginação colectiva desses tempos de damas antigas, coches e princesas a cavalo com os cabelos a esvoaçar. É bonito, não pode ser real, mas estimula o interesse por descobrir mais.

PS: Agora que já vi duas temporadas posso esclarecer que qualquer semelhança desta série com a realidade é pura coincidência. Sabendo isto, é entretenimento.

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PARA QUEM GOSTA DE: História, século XIX, Romantismo, Victoria (série de televisão), Maria Theresia (série de televisão)

terça-feira, 26 de novembro de 2024

A Monster Calls / Sete Minutos Depois da Meia-Noite (2016)


Durante muito tempo tive relutância em ver este filme no canal SyFy porque por alguma razão julguei que era um filme de “terror” para miúdos. Não podia estar mais enganada.
Esta é a história de Conor, “demasiado crescido para ser uma criança, demasiado novo para ser um homem”, que inventa um monstro-árvore que o ajuda a lidar com a doença da mãe, em cancro terminal. O monstro conta-lhe três histórias em troca de Conor lhe contar uma quarta, história esta que é simplesmente a experiência que o miúdo está a passar.
Muitas partes do filme são efectivamente em desenho animado, nomeadamente as histórias que o monstro vai contando e que vão ensinando a Conor que nem tudo é preto e branco como ele pensava.
Escusado será dizer que “A Monster Calls” é um filme sensível, de grande qualidade e para toda a família, mas um filme que faz chorar, especialmente se alguém passou pela situação de perder um ente querido.

14 em 20

 

domingo, 24 de novembro de 2024

Limetown (2019)

Em 2004, mais de 300 neurocientistas e suas famílias trabalhavam num projecto secreto na cidade privada (e ficcional) de Limetown. Em três dias, depois de uma chamada aflita para os serviços de emergência, todos os habitantes de Limetown, homens, mulheres e crianças, desapareceram sem deixar rasto. Bem, nem todos. O corpo do líder da comunidade foi descoberto amarrado a um poste e queimado. Um dos desaparecidos era o tio da futura jornalista Lia Haddock. Depois de muitas investigações, as autoridades nunca conseguiram descobrir o que se passou. Entre muita especulação, circulou mesmo a teoria de que foram levados por extraterrestres.
Quinze anos depois, Lia Haddock continua obcecada com o sucedido. Tenta investigar, como jornalista, mas o mistério parece impenetrável até ser contactada por uma alegada sobrevivente de Limetown, que lhe conta tudo o que pode porque sofre de amnésia. Contudo, é o suficiente para que Lia comece a desvendar uma sequência de acontecimentos que culminaram num final horripilante.
“Limetown” é uma série de ficção científica perturbadora, especialmente na parte que envolve os porcos (e não só), e tive dificuldade em ver uma segunda vez. Porém, aviso que os dez episódios de 30 minutos tornam a série viciante e impossível de largar para quem tenha estômago para continuar. Decididamente, não é para todos.
A protagonista tem uma tara sexual curiosa, que não tem nada a ver com a história, e que só foi incluída para efeito de choque. Não me lembro de um momento descontraído em “Limetown”, é só tensão do princípio ao fim.
A série devia ter sido renovada mas não foi. Mesmo assim, vale por si.
Passa no SyFy.

ESTA SÉRIE MERECE SER VISTA: 1 vez

PARA QUEM GOSTA DE: ficção científica, Ficheiros Secretos/The X-Files

 

terça-feira, 19 de novembro de 2024

Great White / Tubarão Branco (2021)

Confesso que cada vez me custa mais fazer críticas a estes filmes de tubarões porque são todos iguais, iguais, iguais. Antes do princípio já sabemos como vai ser o fim. Esta crítica vai incidir nas originalidades que “Great White” ainda assim consegue trazer.
Um casal de guias turísticos passeiam turistas num hidroavião sobre as paisagens paradisíacas da Austrália. Se há algo de positivo a dizer de “Great White” é o grande aproveitamento da paisagem, quase um anúncio de férias em praias de águas verdes, azuis e translúcidas, vegetação luxuriante e areia branca. Até as filmagens subaquáticas estão muito bem feitas e com grande beleza (tirando as cenas sangrentas, isto é).
Os guias turísticos são contratados para conduzirem um casal a uma enseada deserta e remota que parece um postal turístico… até encontrarem um corpo masculino semi-comido e já sem pernas. O dono do hidroavião descobre que o homem não estava sozinho porque este tem fotografias de outra pessoa no telemóvel. (A primeira cena do filme são estes dois a serem atacados por um enorme tubarão branco, mas não falei nisso aqui.) Imediatamente decide ir à procura do barco onde os dois sinistrados deviam estar, mas comete um erro colossal: tem rádio no avião mas nunca comunica a descoberta do corpo à polícia nem as coordenadas para onde se dirige.
Acaba por encontrar um veleiro naufragado e faz uma amaragem. Depois de inspeccionar o interior do barco descobre o segundo cadáver.
É então que salta das águas o enorme tubarão branco e finca uma dentada no trem de amaragem e afunda o hidroavião! A tripulação tem de fugir para um daqueles salva-vidas de emergência de plástico e borracha antes de conseguir pedir ajuda pelo rádio (o que já devia ter feito ao encontrar o cadáver…). À deriva, dependem da maré e de remos improvisados para chegar a terra. Entretanto, vai-lhes acontecendo o que acontece em filmes de tubarões, especialmente porque estão a ser caçados não por um mas por dois tubarões brancos. (Fui pesquisar e a internet diz que é verdade: os tubarões podem caçar em grupo. Sempre deu para aprender alguma coisa que eu não sabia).
Agora vamos às absurdidades (ainda estou para ver um filme de tubarões sem elas).
Vamos admitir que por sorte o tubarão abocanhou o trem de amaragem no sítio certo e que não foi “esperteza”. Mas a certa altura outro tubarão (ou o mesmo) tem a feliz ideia de virar o salva-vidas, fazendo com que todos os sobreviventes vão parar à água. Boa estratégia, mas naquele cérebro tubarónico não lhe ocorreu fazer o mesmo uma e outra vez até os ter todos na água: refeição fácil e rápida. Da mesma forma, não ocorreu ao tubarão genial que afundou o hidroavião que bastaria uma dentada no salva-vidas para os apanhar a todos.
Sinceramente, tive pena dos tubarões por lhes terem passado um atestado de estupidez. Por falar nisso, os sobreviventes também não são muito espertos ou dois deles não teriam desatado aos murros num salva-vidas periclitante perseguido por tubarões. É uma questão de inteligência selectiva que dá jeito ao enredo.
“Great White” não é um grande filme, tresanda a clichés e a todos os erros convenientes, mas se quiserem ver um tubarão a afundar um hidroavião é aqui.

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PS: Muitas espécies de tubarões estão em extinção. Uma das coisas que podemos fazer para travar isto é deixar de comer espécies protegidas, por exemplo, na sopa de barbatana de tubarão. Sim, a sopa é boa, mas o que fazem aos tubarões é horrível. Pescam-nos, cortam-lhes a barbatana e atiram-nos de novo ao mar ainda vivos, sem poderem nadar e sem se poderem defender dos outros predadores que os comem vivos. Vi com os meus olhos num documentário. Fiquei horrorizada. Entre nós o tubarão é chamado cação e entra na caldeirada. Rejeitem. Informem-se. Os tubarões são necessários ao ecossistema marinho como os leões são necessários na savana. Sim, eu sei que os leões são mais fofinhos e é fácil detestar tubarões, mas o princípio é o mesmo.