terça-feira, 25 de março de 2025

Nightlight / Nightlight - Jogo Fatal (2015)

A única coisa que é preciso saber sobre “Nightlight” é que é filmado à “The Blair Witch Project”, técnica conhecida como found footage, mas pela perspectiva de uma lanterna e não de uma câmara. (Se parece idiota é porque é, mas se fosse só isso até não era mau de todo.) O filme é mau de todo. Quem costuma ler as minhas críticas já sabe que detesto coisas que não fazem sentido. Este filme não tem pés nem cabeça.
Mas começa bem. Uma rapariga aceita o desafio de se encontrar com outros adolescentes numa floresta à noite para o Jogo das Lanternas e desafios semelhantes. A tensão cria-se logo porque ela leva o cão com ela e eu passei o filme todo com medo do que ia acontecer ao pobre animal. Mas compreendo a protagonista. Ela junta-se à expedição nocturna porque está apaixonada por um dos rapazes, e o amor é louco não façam pouco.
Pergunto-me se os miúdos americanos não têm mesmo nada com que se entreter à noite excepto fazer estas parvoíces. A floresta é conhecida porque muitos jovens vão lá suicidar-se mas nunca se percebe se é porque existe uma assombração/presença maléfica ou, pura e simplesmente, porque a floresta dá lugar a um precipício de onde qualquer pessoa se pode atirar.
O Jogo das Lanternas é apenas um jogo de escondidas, em que um deles é vendado enquanto os outros se escondem. Numa floresta com um precipício. À noite. Há uma razão por que até as missões de resgate e salvamento (com peritos, com meios, com luzes potentes, com GPS, com cães) param à noite: porque se podem desorientar ou aleijar e em vez de salvarem um arriscam-se a perder dois ou mais. Estes meninos começam o jogo e, claro, os disparates começam a acontecer. Um deles cai do precipício. Neste momento aparece um lobo na câmara, isto é, na luz da lanterna (era um cão, mas vamos fingir que era um lobo), e eu tive esperança de que saísse daqui um filme “homem versus natureza” com os adolescentes a serem atacados por uma alcateia. Não aconteceu. Já deviam ter esgotado o orçamento para aluguer de canídeos.
Falando em orçamento, este filme deve ter sido feito com 10 euros e roupa emprestada (e se calhar os cães eram do realizador). E o filme é chato e comprido, quase uma hora em que os miúdos andam na floresta e não se vê a ponta de um…, só ramos e troncos e troncos e ramos. A certa altura, a protagonista entra à toa numa caverna que ela não conhece com uma lanterna que falha constantemente. Felizmente não havia um buraco nem um urso a hibernar. Mas temos sons misteriosos, a insinuação de uma presença, ou talvez fantasmas?… Talvez o fantasma de um amigo dela que se suicidou ali há pouco tempo? O cão fugiu, nunca mais o vimos (e ainda bem, pobre bicho). Por esta altura eu já não estava a perceber nada de nada. Os adolescentes vão parar a uma igreja abandonada, aparentemente um último lugar para os suicidas mudarem de ideias, mas não seria melhor que lá estivesse sempre alguém para falar com eles no momento de crise?…
Lembro-me de ver a protagonista a chorar e a pedir desculpa porque acha que está a ser assombrada pelo melhor amigo que se matou depois de ela ter recusado ir com ele a um baile ou uma patetice qualquer que não justifica suicídio nenhum. Acho que o meu cérebro se apagou como as lanternas porque não assimilei mais nada. Na verdade, nem cheguei a conhecer os personagens porque não havia nada para conhecer, eram só carne para canhão. O lobo nunca mais apareceu. Também não posso cometer spoilers porque o filme não dá respostas. Nem sequer tenho coragem de o voltar a ver para tentar perceber melhor porque já foi uma tortura assistir a esta seca da primeira vez.
Arrisque quem quiser e estiver nostálgico por “The Blair Witch Project” e filmes semelhantes.

11 em 20 (mais um ponto porque o cão foi esperto e fugiu)

 

domingo, 23 de março de 2025

De Uskyldige / The Innocents (2021)

As crianças são cruéis. Algumas são sociopatas. Uma criança sociopata com poderes sobrenaturais é um terror imparável que ainda não tem medo de consequências e cede a todos os impulsos egoístas.
Há muitos anos que um filme não me perturbava tanto, o que já é dizer bastante. “De Uskyldige” é uma produção norueguesa, falada nessa língua, que vale a pena ver antes que Hollywood faça o remake histérico do costume e estrague tudo.
Ida é uma miúda de 9 anos que se muda com a família para um novo complexo de apartamentos modernos no meio de uma floresta de abetos. Ida tem uma irmã mais velha, Anna, autista profunda, e ressente que os pais tenham de lhe dedicar mais tempo. É verão, e Ida trava conhecimento com um rapaz da sua idade, Ben, que lhe mostra alguns “truques” mágicos que consegue fazer (é telecinesia mas eles não sabem). A princípio ambos se entretêm com brincadeiras estúpidas e cruéis de miúdos que se vão arrepender em adultos. Ida também não é nenhuma inocente. Por exemplo, quando a irmã a aborrece gosta de a beliscar e de lhe meter vidros partidos no sapato porque sabe que Anna não se consegue queixar, e quando tem de a acompanhar ao parque não se importa nada de a deixar sozinha para ir à vida dela. (Ida tem 9 anos e quer brincar, Anna tem o desenvolvimento mental de um bebé de colo.) Mas Ida começa a reparar que as brincadeiras de Ben talvez sejam demasiado violentas. Ben vive com a mãe, que não lhe dá muita atenção, mas nunca se vê abuso físico ou verbal. (Se calhar o mal é esse, porque Ben bem merecia umas lambadas na tromba, e se julgam que estou a ser má para uma criança vejam o filme e depois digam-me.)
Algo muda quando Ida e Ben conhecem Aisha, uma menina que consegue ouvir pensamentos. Junto de Aisha, ou melhor, através de Aisha, Anna volta a falar e a demonstrar raciocínio, para grande felicidade dos pais. Descobre-se que Anna também tem poderes psíquicos que rivalizam com os de Ben, e que também só os consegue manifestar na companhia de Aisha, o que Ben considera uma ameaça.
(Nunca é explicado porque é que os miúdos têm estes poderes, que eles nem reconhecem como anormais ou especiais, mas eu tenho a teoria de que foi aquela abominação arquitectónica de cimento no meio da floresta que despoletou as forças do Inferno. Imaginem Chelas no meio de um pinhal. É pior um pouco, e feia, feia, feia.)
As brincadeiras infantis depressa se transformam numa tensão de cortar à faca, à medida que Ben desenvolve poderes de verdadeiro terror a que nem os adultos escapam. Ida percebe que correm risco de vida e que o perigo se pode estender aos próprios pais, mas que poderá ela fazer contra os dons aparentemente invencíveis de Ben?
Como disse, este é um filme muito perturbador em que cenas horripilantes se passam num subúrbio ensolarado longe dos olhares dos adultos que não se apercebem do horror que acontece nos parques e bosques e nos apartamentos ali ao lado onde os miúdos interagem. “De Uskyldige” é difícil de ver. Estas são crianças em fase de experimentação e interiorização dos seus conceitos individuais do Bem e do Mal, mas a total falta de empatia (algo que as crianças não conhecem teoricamente mas já sentem nestas idades) não se explica com aprendizagens.
Vejam, mas preparem-se para ficar chocados. Este filme devia ser obrigatório para os adultos com memória selectiva que têm saudades da infância.

18 em 20


terça-feira, 18 de março de 2025

The Curse of La Llorona / The Curse Of The Weeping Lady / A Maldição da Mulher que Chora (2019)


La Llorona é um mito americano com origens no México, uma espécie de Papão no feminino, em que uma mulher que chora aparece para raptar crianças. “Sobrenatural” fez pelo menos um episódio com La Llorona, em que os irmãos Winchester lhe deram o sumiço num instante, evidentemente. Segundo sei, La Llorona é usada para assustar criancinhas que se portam mal.
Este filme enganou-me bem enganada. Pelo aspecto retro do guarda-roupa e até da realização, fiquei perfeitamente convencida de que estava a ver um filme antigo, talvez dos anos 90. Qual não foi a minha surpresa ao reconhecer o actor Raymond Cruz no papel de curandero, nada mais nada menos do que o Tuco Salamanca de “Breaking Bad” e “Better Call Saul”. (Foi difícil reconhecê-lo imediatamente porque de curandero a Tuco Salamanca vai uma diferença abissal.)
O filme é interessante porque conta a história das origens da lenda mexicana, que eu desconhecia de todo. Nesta história, La Llorona dirige as suas intenções a uma mãe viúva de duas crianças, assistente social, que retirou os filhos a outra mãe que os tinha fechados/protegidos após terem sido visados pela La Llorona. Obviamente a assistente social, Anna, não acredita na lenda, até que os seus próprios filhos começam a ser perseguidos. Anna pede ajuda à igreja, mas o padre manda-a falar antes com o curandero. Foi aqui que reconheci o padre, quando ele referiu que outrora também não acreditava em manifestações maléficas até ter um incidente com uma delas. E qual foi o incidente? A nossa amiga Annabelle! Foi então que percebi que este é mais um filme de James Wan (produtor) e passado no mesmo universo de “The Conjuring”. (Mas, sinceramente, tinha ficado a pensar que Annabelle tinha dado o sumiço ao padre, isto é, definitivamente, no último filme, quando ele a tentou levar para uma igreja. Afinal não.) Isto também explica porque é que La Llorona surge aqui tão parecida com “A Freira Maldita”.
Voltando a “The Curse of La Llorona”, Anna pede auxílio ao curandero e o restante do filme é passado a tentarem escapar e derrotar La Llorona.
Tirando a história das origens, “The Curse of La Llorona” não tem grandes pontos de interesse nem nada que meta medo, sendo mais um filme para entreter.

[Nota: No IMDB o filme aparece como “The Curse of La Llorona” mas o filme que eu vi na televisão trazia o título “The Curse Of The Weeping Lady”. Não me perguntem.]

12 em 20

 

domingo, 16 de março de 2025

Cujo, de Stephen King

Cujo é um nome que já faz parte da cultura geral. Sempre pensei que se tratava de um cão possuído por uma força sobrenatural, mas não. Esta é uma história muito triste. Cujo é um São Bernardo simpático, mansinho e amigo de crianças, até que é mordido por um morcego. Sem vacinas, Cujo apanha raiva, e a partir daqui já sabemos o que lhe acontece.
Mais do que triste, esta história é uma tragédia: a tragédia do cão, uma vítima inocente, a tragédia das vítimas inocentes causadas pela doença do cão. O terror, aqui, não é um monstro, nem uma entidade sobrenatural ou malévola, mas talvez seja o maior terror de todos, o terror existencial de sabermos que podemos perecer a qualquer instante e de qualquer maneira, até só por estarmos no sítio errado à hora errada, sem nexo, sem aviso. Eu gosto de lhe chamar a Crueldade de Deus mas também lhe podemos chamar apenas Natureza.
O drama de Cujo não é o único. Os donos de Cujo são uma família em que o marido bate na mulher. A outra família envolvida nos acontecimentos também se encontra em crise, depois de a esposa ter tido um caso extra-matrimonial. As circunstâncias conspiram para a tragédia final: a dona de Cujo consegue convencer o marido (controlador e abusivo) a deixá-la visitar a irmã, e o marido decide também fazer uma viagem de lazer "de homens" com um amigo e vizinho. Todos embrenhados nos seus dramas pessoais, ninguém, excepto o rapaz dono de Cujo, se apercebe de que este está doente. Cujo fica sozinho, já num estado enlouquecido e assassino, pronto a matar tudo o que apanhar.
Gostei principalmente da perspectiva de Cujo, que nos informa do seu estado mental cada vez mais deteriorado. Sem compreender o que se passa, Cujo culpa as pessoas que lhe aparecem à frente de lhe causarem a dor e o sofrimento que o afligem, e é por isso que as ataca. O que é triste, trágico. As cenas dos ataques são perturbadoras o suficiente, mas só consegui sentir pena do pobre Cujo, das pobres pessoas. Confesso que não consegui chorar, mas chorei por dentro. Não era o que esperava de um livro de Stephen King.
Sei que existe uma adaptação cinematográfica, mas quem é que quer ver um desgraçado animal ficar doente, moribundo e psicótico a atacar pessoas? Não há aqui bons e maus, são todos vítimas.
Stephen King revelou que escreveu "Cujo" em tal estado de embriaguez que não se lembra de o ter escrito. Sinceramente, não acredito. Ou Stephen King estava pedrado noutra coisa ou não temos o mesmo conceito de "embriaguez". O meu conceito de bebedeira é quando já não se consegue escrever, literalmente, nem sequer acertar nas teclas. Logo, Stephen King não podia estar assim tão bêbedo. Talvez estivesse sob outras influências. Seja como for, "Cujo" é um grande livro, se bem que não seja o terror sobrenatural a que King nos habituou, e por mim ele podia embebedar-se mais vezes (a família dele é que não ia gostar nada) e escrever mais livros destes.


 

terça-feira, 11 de março de 2025

Hereditary / Hereditário (2018)


Vi o filme e não achei grande coisa. Fui ler as críticas e estas cantam louvores a “Hereditary”, incluindo comparando-o a “O Exorcista” e “Rosemary’s Baby”. Como não dei por nada parecido, fui ver o filme outra vez… e continuo a achar que não é grande coisa.
Até resumir o filme é difícil, de tão confuso. Vou tentar simplificar. Steve e Annie são um casal de meia-idade, pais de Charlie, uma miúda de 13 anos, e do seu irmão Peter, um adolescente mais velho. Quando a mãe de Annie morre, depois de doença prolongada e demência, ninguém na família parece abalado nem tem nada de bom a dizer sobre ela. Annie vai a uma reunião de terapia de luto e confessa que a sua mãe sempre foi tóxica, manipuladora e que constantemente a fez sentir culpada. Revela também que a sua família sempre foi afligida por doenças mentais severas: dupla personalidade, esquizofrenia, depressão psicótica.
Algum tempo depois, o irmão mais velho quer ir a uma festa de adolescentes da idade dele. E, bem, aqui é mesmo culpa da mãe, porque obriga o adolescente a levar com ele a pirralha de 13 anos, sabendo perfeitamente que na festa em causa os jovens drogam-se, bebem e tudo o resto. Peter, o irmão, lá leva a miúda com ele. Para se livrar dela enquanto vai fumar erva, manda-a ir comer um bolo de chocolate. Acontece que Charlie tem uma violenta alergia a nozes e não levaram epinefrina com eles. Charlie sofre uma séria reacção anafilática ao bolo e o irmão arranca com ela para o hospital a toda a velocidade. Na estrada, tem um acidente. Charlie morre em circunstâncias CHOCANTES, e digo mesmo chocantes, eu que já assisti a milhentas mortes chocantes. Peter deixa o corpo da irmã na estrada, volta a casa e vai para a cama, deixando aos pais o choque da descoberta. (Nada nesta família é funcional.)
Annie regressa ao grupo de terapia onde conhece uma senhora muito prestável que perdeu o filho e o neto ao mesmo tempo. É esta senhora, Joan, que convence Annie a contactar Charlie através de uma sessão de espiritismo. No momento em que Annie faz isto, o espírito da filha regressa.
Mas, afinal, o que é que é hereditário? Vou deixar-me de rodeios. Joan era amiga da mãe de Annie e ambas pertenciam a um culto/seita que pretende encarnar um dos Reis do Inferno no corpo de Peter.
Já sei o que estão a pensar, que já vos contei o filme todo, mas nada que se pareça. “Hereditary” tem cenas que realmente metem medo (para quem nunca viu melhor, isto é), mas o cerne do filme é tentar perceber o enredo sem nos perdermos. Aqui é que está o problema de “Hereditary”: algumas coisas não fazem nenhum sentido. São literalmente sem pés nem cabeça (principalmente sem cabeça). Por exemplo, nunca percebi o que raio é que é hereditário. De algumas fotografias, interpreto que a mãe de Annie foi escolhida (?) para ser a mãe ou avó do rapaz (só podia ser do sexo masculino) que iria encarnar o demónio, talvez?… Talvez?… Outras pessoas poderão interpretar de modo diferente.
E o que é que aconteceu ao cão? Eu acho que percebi, mas na verdade prefiro não perceber.
As reviravoltas importantes eu não contei aqui, por isso o melhor mesmo é ver para crer. Eu fico na minha: não é grande coisa.

13 em 20 (mais um pontinho por uma das mortes mais chocantes que já vi em filme)

 

domingo, 9 de março de 2025

Daybreakers / O Último Vampiro (2009)


(Para começar, o título em português não tem nada a ver com o filme. Isto não é a história do “último vampiro”, nem dos “últimos vampiros”, nem sequer dos “últimos humanos”. Fica a clarificação.)
Uma pandemia (alegadamente causada por um morcego) transformou a esmagadora maioria da população mundial em vampiros. Dez anos depois restam apenas 5% de seres humanos, muitos deles mantidos em cativeiro em condições desumanas para extracção de sangue. Os que conseguiram escapar e esconder-se são perseguidos e capturados por um exército de vampiros criado para esse efeito. Mas nem tudo são rosas neste mundo controlado por vampiros. Com a diminuição dos seres humanos vem também a escassez de sangue, que se torna cada vez mais caro. “Daybreakers” não é exactamente um “filme sério” mas existe espaço para a crítica social: nesta distopia, muito semelhante à nossa sociedade, os mais pobres não conseguem acompanhar o preço do sangue. Isto tem consequências graves, uma vez que os vampiros não alimentados se transformam em “nosferatus” (a palavra é minha) de orelhas pontiagudas, asas de morcego, monstros sem emoções nem racionalidade que inclusivamente atacam outros vampiros. Por esta razão, os vampiros que ainda conservam características humanas são os próprios a tentar exterminar esta raça de desprivilegiados (que tiveram o azar de ser pobres).
Um hematologista, Edward, e a sua equipa de uma indústria farmacêutica (de vampiros), trabalha para conseguir fabricar um substituto para o sangue humano, sem grande sucesso. Edward sente compaixão pelos seres humanos aprisionados (recusando beber sangue humano e sobrevivendo de uma dieta de sangue de porco) e tenciona antes encontrar uma cura para o vampirismo. Já o seu chefe nem quer ouvir falar de tal coisa porque tinha cancro antes de ser vampiro e considera que o vampirismo é a cura para a morte.
No entanto, quando Edward já está em risco de se tornar ele próprio num “nosferatu”, um encontro fortuito com um grupo de humanos fugitivos leva-o a apurar que a cura foi acidentalmente descoberta por um deles. Edward submete-se à mesma cura em ambiente controlado e funciona: torna a ser humano. Mas antes de conseguir espalhar a notícia é traído por um colega da farmacêutica que afirma já ter conseguido criar um substituto para o sangue humano. Contudo, é tarde demais. A escassez está a tornar a maior parte dos vampiros em monstros e já nem há rações de sangue suficientes para o exército, o que significa que os militares se estão a transformar em “nosferatus” também. Um aspecto inesperado da “cura” acaba numa carnificina entre vampiros, a melhor cena do filme.
Não sei como é que “Daybreakers” me escapou este tempo todo, mas devo confessar que nem os vampiros me conseguiram aquecer nem arrefecer. “Daybreakers” é demasiado filme de acção para o meu gosto (tiros/setas, perseguições, militares) e os personagens demasiado bidimensionais para me lembrar deles depois de o filme acabar. Serve para entreter e fazer pensar um bocadinho, mas só isso.
Nota curiosa: estes vampiros são em tudo o vampiro clássico que só pode ser morto com uma estaca no coração, tem caninos salientes, arde ao sol e essa lenda toda, incluindo não se reflectir ao espelho. No entanto, conseguem ser filmados em câmaras digitais. Eu sempre pensei que o princípio do espelho se aplicava também a filmagens (e fotografias), mas se calhar estou muito enganada.

12 em 20

 

 

terça-feira, 4 de março de 2025

Malevolent / Hush - Malévolo (2018)


Um grupo de “caça-fantasmas” embusteiros ganha a vida a aproveitar-se da credulidade de pessoas que julgam ter a casa assombrada, vendendo um serviço que “limpa” assombrações. Inclusivamente, o grupo utiliza meios tecnológicos como câmaras e gravadores para criar ruídos e vozes de modo a convencer os clientes de presenças sobrenaturais. Angela, irmã do líder da “quadrilha”, tem de facto dons mediúnicos, e o irmão Jackson também os tem em menor grau porque os herdaram da mãe.
Quando Angela recebe uma chamada de uma senhora a pedir-lhes que a livrem de uma assombração (“As meninas não param de gritar!”) instintivamente recusa o trabalho, mas o irmão Jackson, sabendo que é gente rica, não está disposto a dispensar um cheque chorudo. Angela faz uma pesquisa e descobre que a casa em questão era um lar de acolhimento de três meninas que foram assassinadas pelo filho da dona da casa. Mais uma vez Angela adverte que não se quer meter no assunto mas Jackson acaba por convencer a irmã.
A dona da casa recebe-os numa grande mansão e volta a queixar-se das meninas a gritarem, no entanto não fica muito convencida com actuação da equipa. Por outro lado, insiste em dizer que o seu filho (o que assassinou as crianças) era um bom menino, o que igualmente perturba Jackson. Assim que chega, Angela começa a ver os fantasmas das meninas, e todas elas têm a boca cosida.
“Malevolent” foi um filme que me surpreendeu. Todos pensamos que a equipa de embusteiros vai ter o que merece “às mãos” de fantasmas a sério, mas o que eles encontram são monstros humanos de carne e osso. A reviravolta não tira nada ao terror, que é bastante arrepiante em algumas partes. A fuga desnorteada, de carro, de um dos membros da equipa, lembrou-me muito a cena semelhante de “The Haunting”.
Apesar do orçamento limitado, este é um filme que convence e que recomendo.

13 em 20

domingo, 2 de março de 2025

Evil (2019 - 2024)

Um seminarista em crise de fé, uma psicóloga agnóstica e um cientista muçulmano investigam fenómenos paranormais ao serviço da Igreja Católica. Trabalhando contra eles, Leland Townsend, psiquiatra forense e satânico, lidera uma organização demoníaca que pretende dar origem ao Anticristo.
Dito assim, isto parece os "Ficheiros Secretos" com demónios em vez de extraterrestres, mas a semelhança com os "X-Files" termina antes de começar.
Confesso que vi "Evil" de queixo caído, não por achar a série fantástica mas por me questionar continuamente a quem é que a série era dirigida. Kristen Bouchard, a psicóloga, tem quatro filhas entre os 10 e os 15 anos. Os demónios são fofinhos ou engraçados, nunca assustadores. Seria uma série de "terror para crianças"? Mas ao mesmo tempo, depois da primeira temporada, "Evil" enveredou também por cenas de sexo tão maradas que não podia ser para crianças. À semelhança de "Ficheiros Secretos", alguns casos investigados têm explicação científica, outros não. Muitas das conclusões podem parecer demasiado "beatas" para alguns gostos e quanto às respostas científicas não consigo opinar, mas muitas coisas pareceram-me mais ficção científica do que realidade.
O enredo é completamente desvairado. David Acosta, o futuro padre, tem visões do Céu, do Inferno, de anjos e de santos. Tem também uma atracção por Kristen, e durante algumas temporadas David não consegue decidir entre ela e Deus, sendo atormentado por demónios na forma de Kristen que o tentam sexualmente. Kristen corresponde à paixão de David, apesar de casada, e ao longo da série torna-se cada vez mais destravada e arrogante, a ponto de matar um homem e safar-se porque tem uma amiga na polícia que a encobre. Na verdade, detestei a personagem por uma batelada de razões, mas a principal é que ela tem a mania de que é boa. Nisso sai à mãe, Sheryl Luria, que não olha a meios para conseguir os fins e que também pertence à organização de Leland. A filha mais velha de Kristen, de 15 anos, tem mais juízo do que as duas juntas. O personagem mais simpático é mesmo Ben, o cientista, sempre muito pragmático e leal, que não se deixa levar por superstições e contos do vigário.
Entre os elementos alucinados de "Evil", temos também uma freira que vê demónios e que os mata com o sapato (quando são pequenos e fofinhos, o que até dá pena deles); uma app que as miúdas usam para "detectar" demónios, e que evidentemente os "detecta" para que os utilizadores não deixem de a usar, o que as leva a exigir um "exorcismo porque a casa está cheia de demónios"; demónios peludos e chifrudos na posição de CEOs de empresas e organizações cotadas em bolsa (nisto eu acredito!); lendas urbanas que dizem que durante um furacão os demónios caminham na terra; a freira a dizer que os furacões são obra do Diabo e apenas Ben a explicar que são consequência das alterações climáticas; um demónio numa reunião remota por Zoom que quer falar mas está em mute e têm de o ensinar onde activar o microfone.
Então, o que é "Evil"? Comédia? Se é, eu não achei graça nenhuma. Drama? Demasiado ligeiro. Terror? Só se for para criancinhas, porque não mete medo nenhum. Depois de ver a série toda a tentar perceber o que ia sair dali, concluo que "Evil" é um comentário social que explora os conceitos do que é o Mal, desde o Mal clássico e personificado por diabos chifrudos (pobre deus Pan não tem culpa de nada disto!) aos novos males que podem ser colocados pela ciência, pela tecnologia, pela Inteligência Artificial, pela internet.
Não gostei da maior parte dos episódios, mas um dos meus preferidos foi sobre um programa que, usando Inteligência Artificial e informação de emails, voice mails e redes sociais, permitia manter uma conversa/relação com um falecido, incluindo conversas usando a voz deste. O programa também permitia conversar com figuras históricas e pessoas conhecidas, ou até manter um flirt com uma paixão proibida. Eu já tinha ouvido falar nestes programas e, sinceramente, acho que a possibilidade de continuar a "falar" com um falecido através de Inteligência Artificial é algo arrepiante, já para não dizer que impede a pessoa de fazer completamente o luto. Eis um bom exemplo de uma tecnologia que questiona os nossos princípios éticos e até as nossas noções do que é moral.
A melhor razão para ver "Evil", no entanto, é mesmo Michael Emerson, o enigmático Ben Linus de "Lost", no papel de Leland Townsend. Michael Emerson é uma boa razão para ver tudo, até uma telenovela mexicana. Este é um daqueles actores grandiosos que enchem o écran sem precisarem de dar muito nas vistas, e Michael Emerson parece que nasceu para fazer papéis maléficos. Deste modo, "Evil" assenta-lhe como uma luva.

Curiosity note: our friend George Grant from Black Rose Burning worked as a grip in "Evil".
 

ESTA SÉRIE MERECE SER VISTA: 1 vez

PARA QUEM GOSTA DE: Os Ficheiros Secretos, The X-Files, exorcismos, paranormal, ciência, ficção científica, sexo marado, Michael Emerson (Lost)


 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Heist / Autocarro 567 (2015)

Quem conhece este blog sabe que geralmente não vejo nem gosto de filmes de acção, mas este tem um pano de fundo dramático. E, para começar, há duas grandes razões para o ver: Jeffrey Dean Morgan e Robert De Niro.
Jeffrey Dean Morgan (John Winchester, Negan) é Vaughn, funcionário de casino, que tem uma filha a precisar urgentemente de uma operação que o pai não consegue pagar. Em desespero de causa, vai pedir um empréstimo ao patrão, Robert De Niro, que lhe diz que o casino é um negócio e não uma caridade. Pior um pouco. Quando Vaughn se exalta, apelando à lealdade que sempre demonstrou no seu emprego, o patrão despede-o. Robert De Niro faz o papel de um mafioso do piorio a quem chamam The Pope (papel que De Niro faz de perna às costas, há que dizê-lo) que usa o casino para lavar dinheiro (para que outra coisa serve um casino?).
Sabendo disto, Vaughn e alguns colegas decidem roubar o casino, no que seria um trabalho fácil e “interno”, mas as coisas correm mal e os assaltantes têm de fugir sequestrando um autocarro que ia a passar e todos os seus passageiros. (No fim questionamos se o aparecimento deste autocarro foi mesmo uma coincidência ou se fazia parte do plano mas… spoiler.)
Perseguidos pela polícia e pelos capangas do casino, bem como por um polícia corrupto a soldo de Pope, um dos assaltantes quer começar a matar reféns, no que é detido por Vaughn, a voz da calma e da razão. Afinal, ele precisa mesmo de sair dali com o dinheiro para salvar a vida da filha.
“Heist” não é uma obra-prima (apesar da presença do peso-pesado Robert De Niro) e muitas vezes parece demasiado “Velocidade Furiosa” para o meu gosto, mas é interessante e vê-se bem. Quando dão diálogos de jeito aos actores, tanto Jeffrey Dean Morgan como Robert De Niro mostram o que valem. Achei o final um pouco irrealista e “conto de fadas”, mas ninguém quer ver o herói fracassar, pois não?

12 em 20


domingo, 23 de fevereiro de 2025

Halloween (2018)


Estava muito empolgada com este filme porque nos apresenta uma Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) 40 anos mais velha e um Michael Myers igualmente envelhecido (a máscara desgastada, pelo menos, porque nunca lhe vemos a cara). Mas desde logo deparei-me com algumas perplexidades:
1) Michael Myers está há 40 anos internado num hospital psiquiátrico de alta segurança; mas ele não tinha morrido numa das sequelas, ou não era uma entidade sobrenatural que não morria?
2) o filme refere-se sempre “àquela noite” (a primeira noite em que Michael Myers fez a sua aparição e respectivos assassinatos); então e os outros “Halloweens” todos?
Só ao ler as críticas fiquei informada. Este filme simplesmente ignora todas as outras sequelas, intitulando-se a única sequela depois do filme original de 1978.
Portanto esqueçam tudo o que viram na catrefada de sequelas de “Halloween”. Para este filme, nada disso aconteceu.
De acordo com esta narrativa, a seguir aos acontecimentos de 1978, Michael Myers foi internado num hospital psiquiátrico para ser estudado, onde permaneceu durante 40 anos sem dizer uma palavra.
Por outro lado, Laurie Strode utilizou esse tempo para se preparar para o regresso de Myers, tipo Sarah Connor no “Exterminador Implacável”: vive numa casa cercada de vedação e vigilância electrónica, tem uns sete ferrolhos na porta e uma cave a abarrotar de armas e munições. Mas Laurie é uma mulher traumatizada, divorciada duas vezes, com uma má relação com a única filha que a acusa de lhe ter destruído a infância a tentar treiná-la e prepará-la para enfrentar Myers. Actualmente a filha quase não lhe fala, mas a neta Allyson não cortou os laços com a avó.
Entretanto, no hospital psiquiátrico, dois jornalistas/podcasters visitam Michael Myers (completamente acorrentado e isolado) e o seu médico, no intuito de escreverem um artigo sobre ele, no que parece um piscar de olho a “O Silêncio dos Inocentes”. O médico informa-os de que o Estado já desistiu de estudar Myers devido à sua falta de cooperação e que o vão transferir para instalações muito piores. Ora, acontece que decidem transferi-lo precisamente no dia de Halloween. Michael Myers consegue escapar durante a transferência e dirige-se direitinho na direcção de Laurie e da sua família.
Fiquei um bocado chocada ao ler críticas a queixar-se de que o filme não é assustador o suficiente. Bem, não se podia esperar o impacto do original, pois não? Mas quanto a violência, não me lembro de um “Halloween” tão gratuitamente violento como este. Myers mata os jornalistas que o visitaram, e depreendo que o faça porque estes o provocaram com a máscara para tentar obter uma reacção. Pelo caminho mata indiscriminadamente e aparentemente sem razão, inclusive uma criança a quem parte o pescoço e a quem não precisava de matar. É difícil ver essa cena, admito. Mesmo que o miúdo fosse uma testemunha, por aquela altura já toda a gente sabia que Myers tinha escapado e que carro tinha usado na fuga porque ele acabara de matar o dono do veículo também. Logo, o miúdo foi uma morte escusada, como muitas outras que se seguirão. Myers está mais perigoso do que nunca. Se é assustador? A nível de surpresa, ou até mesmo a nível de uma hipotética possibilidade sobrenatural, não. Mas a nível de pensarmos que um psicopata qualquer nos pode entrar em casa e matar-nos (sem qualquer motivo) com uma faca da nossa própria cozinha, sim. Mas obviamente que o objectivo último de Myers é Laurie, e de preferência a família dela também, como bónus, e Laurie está à espera dele. Na verdade, esteve à espera dele durante 40 anos, a ponto de se encontrar igualmente bastante neurótica.
Gostei deste aprofundamento da personagem de Laurie como uma mulher marcada e traumatizada que vive em função do que lhe aconteceu e não o consegue ultrapassar, mas admito que não gostei que o mesmo não fosse feito também com Michael Myers. Esta sequela é mais séria a nível psicológico do que todas as outras (incluindo o original), mas Michael Myers continua a não ter personalidade excepto a máscara e a faca. Até o Exterminador Implacável tinha mais personalidade do que Myers. Tal como vimos uma evolução em Laurie, eu gostaria de ter visto uma evolução igual em Myers.
Aliás, o filme continua a não conseguir decidir se Myers é uma entidade sobrenatural ou não. A princípio é-nos apresentado como apenas mais um serial killer, mas ao longo do filme, como já acontecia nas sequelas, Myers sofre ferimentos a que nenhum ser humano sobreviveria, muito menos continuar a andar e a matar, já para não falar da grande força muscular que ele apresenta. Há uma cena em especial, no hospital psiquiátrico, em que um dos jornalistas tenta aliciar Myers a falar mostrando-lhe a máscara, e no momento em que a máscara é exibida os outros pacientes ficam muito agitados e até os cães de guarda desatam a uivar. Ora, isto são reacções que sugerem uma máscara com poderes sobrenaturais, mas todo o filme nos tenta convencer de que Myers é o puro Mal, mas um Mal humano, não sobrenatural. No entanto, uma pessoa má e uma máscara velha não fazem cães uivar de medo. Então, em que é que ficamos? Myers não pode ser apenas humano às 2ªs, 4ªs e sábados e sobrenatural às 3ªs, 5ªs e domingos, conforme dá jeito. O filme anda por ali na corda bamba e muitas vezes, na minha opinião, estatela-se no chão.
Por outro lado, Laurie Strode é muito humana, especialmente nesta sua encarnação como mulher madura, mãe e avó. Como humana que é, e retratada como durona, comete erros. Eu não esperava de uma civil a perícia de uma Clarice Sterling agente do FBI, mas são mesmo erros de palmatória. Quando nos dizem que ela tem uma casa blindada e uma cave segura, pensei mediatamente num bunker de cimento. Mas não. É apenas uma cave com tecto de madeira, e com tais frestas no tecto que se consegue ver o andar acima. Isto não é uma cave segura. Se Michael Myers não fosse tão obcecado por facalhões poderia muito bem incendiar a cave com toda a gente lá dentro (o que vai ser importante mais à frente).
Outro erro crasso de Laurie é andar à procura de Myers dentro de casa com uma espingarda enorme, em espaços apertados e escuros. Se ele lá estivesse poderia subjugá-la facilmente, de surpresa, agarrando-lhe o cano da espingarda. O que se precisava aqui era de uma pistola. Enfim, Laurie Strode não é nenhuma Clarice Sterling e muito menos uma Sarah Connor, excepto pela paranóia.
No geral gostei do filme, mas achei que ficou muita coisa interessante por explorar.

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