terça-feira, 4 de novembro de 2025

Yesterday (2019)

Jack Malik é um músico a tentar iniciar uma carreira, mas sem sucesso. Depois de um apagão global de 12 segundos, Jack acorda para um mundo onde os Beatles nunca existiram. Jack é a única pessoa que se lembra das canções e não resiste à tentação de começar a tocá-las como se fossem suas. Para sua surpresa, a reacção dos ouvintes não é tão efusiva como seria de esperar. Isto muda quando Jack obtém a atenção de Ed Sheeran (no papel dele próprio), que o convida para fazer a primeira parte dos seus concertos. O êxito das canções dos Beatles é de tal ordem que Jack Malik é logo abordado por uma manager da indústria discográfica e em questão de meses é admirado e famoso... mas sente-se culpado por estar a receber os louros de um trabalho que não é seu. No entanto, e ao mesmo tempo, Jack sente-se na obrigação de não deixar o mundo perder a música dos Beatles.
"Yesterday" é claramente um filme sobre os Beatles, não tanto sobre como seria o impacto provocado pela sua falta no panorama musical (a não ser que o filme diz que os Oasis também nunca existiram) mas mais sobre como as pessoas reagiriam à música dos Beatles se a ouvissem pela primeira vez nos dias de hoje. Segundo o filme, as reacções variam entre o fascínio e a indiferença quando Jack as interpreta perante família ou amigos, e só são verdadeiramente apreciadas quando Jack se torna um fenómeno mundial com a ajuda mediática. O que nos leva à mesma pergunta, até que ponto é que os Beatles seriam relevantes hoje em dia, e seriam um fenómeno da mesma dimensão que atingiram nos anos 60? Eu nunca fui fã dos Beatles. É um tipo de pop demasiado ligeira, alegre e optimista para o meu gosto (quando na minha opinião a única coisa musical saída dos anos 60 que se aproveita são os Doors, exactamente por serem pesados, depressivos e pessimistas), mas por outro lado acredito que os Beatles não fariam música da mesma maneira se tivessem existido hoje, logo, quem sabe? O que é inegável é o legado e influência que tiveram na música em geral, e não é preciso ser-se fã para reconhecer isso.
É claro que eu já estava à espera de uma injecção de música dos Beatles neste filme (e, para quem gosta, "Yesterday" assegura quase todos os êxitos), o que não esperava era uma injecção de Ed Sheeran, pessoa que conheço da "Guerra dos Tronos" e que prefiro não conhecer de mais lado nenhum, apresentado aqui como o melhor compositor do mundo a seguir aos Beatles, o que me informa de que os realizadores do filme não conhecem Nick Cave (já para não falar de Leonard Cohen). Nem vou dizer que têm mau gosto porque os gostos não se discutem, lamentam-se, e o panorama da música ligeira de massas sempre foi para lamentar desde o tempo de Elvis Presley até hoje, pelo que é fácil perceber onde eu me situo nesta questão.
"Yesterday" também é uma suposta comédia romântica (que não tem graça nenhuma) entre Jack e uma amiga de infância, Ellie, que sempre foi a sua maior fã. Incompreensivelmente, Jack só percebe que ela gosta dele quando Ellie já desistiu e já tem outro namorado, e Jack faz a grande canalhice de se declarar em público e em directo durante um concerto de estádio, sem se ralar nada com os sentimentos do desgraçado do namorado que ficou ali todo encavacado. Isto comigo, se fosse a Ellie, era razão para nunca mais falar a Jack, só pela falta de delicadeza se não por mais razões, mas, como isto é uma comédia romântica, Ellie não apenas adora a declaração de amor como larga o namorado logo ali. O manso do namorado até aceita tudo muito bem, dizendo que sempre soube que era a segunda escolha. Coitado, é de ter pena.
Por causa desta rom com o filme é muito levezinho, mas há uma passagem com um personagem inesperado perto do final que me impressionou bastante, e que pode emocionar grandemente os fãs dos Beatles. De resto, "Yesterday" nunca aprofunda a premissa de nos mostrar um mundo sem os Beatles e, na minha opinião, vale pelas canções e por alguns momentos humorísticos, mas nada por aí além.

13 em 20

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