Este é um filme muito controverso, que tanto recebeu prémios como foi arrasado pela crítica por ser ofensivo à memória das vítimas.
O título em português não está muito exacto, devia ser igualmente "a assombração de (que afecta a) Sharon Tate". "The Haunting of Sharon Tate" é a reconstrução dramatizada dos assassinatos sangrentos desta actriz de apenas 26 anos e de quatro amigos, a mando de Charles Manson e executados por membros do seu culto chamado A Família. Não foram os únicos assassinatos da Família, mas foram talvez os mais mediáticos, não só por Sharon Tate ser a esposa do realizador Roman Polanski mas também por estar grávida de oito meses à altura, o que não podia ser mais chocante. Sharon Tate foi esfaqueada 16 vezes, o que nos dá uma ideia da brutalidade do crime. (Curiosamente, o homicídio não foi ordenado para Tate e amigos mas sim para o produtor discográfico Terry Melcher, que arrendava a mesma casa antes deles, por ter negado publicar a música de Charles Manson.)
Neste caso pode mesmo dizer-se que Sharon Tate estava no lugar errado na hora errada, e talvez por esta razão o filme tenha enveredado pela dramatização em que Sharon começa a ter pressentimentos, sonhos e visões com a sua morte iminente, o que a leva a ficar obcecada com o destino e a possibilidade de o alterar. Nestes sonhos, apavorantes, Sharon começa a ver os assassinatos como eles aconteceram na vida real, e aviso já que as cenas são difíceis de assistir e tão sangrentas e brutais como foram os crimes na realidade. Mas depois desta "reconstrução" fiel, ou o mais possível, o filme envereda por um "final alternativo" em que Sharon e os amigos não morrem, antes enfrentam os atacantes e sobrevivem.
É precisamente esta parte que muitos críticos acham ofensiva para as vítimas, como se isto as "culpasse" por não terem feito mais para se defenderem. Eu não diria que é ofensivo. A narrativa do filme centra-se toda na questão do destino, das escolhas, da possibilidade de vidas alternativas. Logo no início, Sharon está a ler um livro sobre reencarnação, tema muito em voga na altura. Tendo em conta este contexto, talvez se quisesse contar uma história mais optimista? A minha questão é: porquê? O que é que se queria dizer com isto? Que as coisas podiam ter sido diferentes? Talvez, mas não foram, e também não vejo o sentido de fazer "sobreviver" as vítimas de um crime tão trágico.
12 em 20 (pela reconstrução, embora dramatizada)
terça-feira, 25 de novembro de 2025
The Haunting of Sharon Tate / O Espectro de Sharon Tate (2019)
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