domingo, 19 de fevereiro de 2023

O Querido Lilás (1987)


Como é que este filme me escapou? Tenho a certeza de que nunca o tinha visto antes ou lembrar-me-ia. Deve ter sido daqueles que ficou na lista “tenho de ver isto” e nunca vi.
Estou triste com algumas críticas que colocam este filme como um dos piores filmes portugueses de sempre.
Herman José é o maior actor cómico/humorista da minha geração e não há nada que ele faça que não me ponha a rir às gargalhadas. Não posso falar dos anteriores (Vasco Santana, Ribeirinho, etc) porque antes do 25 de Abril ninguém tinha a liberdade de fazer o que Herman fez depois. Herman José não é apenas um humorista que escreve umas piadas em stand up ou uns textos engraçados nos jornais. Herman é um actor completo, e um actor cómico, ainda mais difícil do que um actor dramático, na minha opinião. Neste filme, e no resto da sua carreira, Herman encarna verdadeiramente algumas personagens inesquecíveis, e digo isto porque as encarna mesmo, como se fossem reais.
“O Querido Lilás” é a história de uma diva do teatro português, Beladona (Herman José), que tem um filho de pai incógnito que lhe é retirado 6 minutos depois do parto (dizem-lhe que morreu), para manter as aparências de respeitabilidade. A criança é levada para ser criada por uma mãe adoptiva.
27 anos depois, Querido Lilás (é o nome do filho, também interpretado por Herman José), conhece a mãe numa casa de fados enquanto esta andava a ensaiar a peça “A Tragédia da Rua das Flores” de Eça de Queirós, e ambos se apaixonam sem terem culpa.
Não posso dizer que passei o filme inteiro a rir, até porque o objectivo de uma comédia é deixar os espectadores relaxar antes da próxima gargalhada, mas há uma cena inesquecível que me fez rir às bandeiras despregadas: Beladona, num recital de poesia, a assassinar “Balada da Neve”. Também me ri bastante naquela parte em que Querido Lilás está a traduzir o fado em alemão, e naquela outra passagem em que Beladona se quer atirar à lareira para morrer “queimadinha como a Joana d’Arc”. Isto só podia sair da mente mirabolante de Herman José, embora a direcção seja de Artur Semedo.
É claro que é um filme propositadamente kitsch, e que Herman José é tão exagerado como em algumas outras personagens posteriores (?). Maximiana (?), por exemplo. Aqui o problema não é o som, mas como Beladona grita histericamente a ponto de não se perceber o que diz, mas também é de propósito.
Eu, pelo menos, ri-me à fartazana e ainda gostava de ver aquela “Balada da Neve” outra vez.
Só achei que o filme foi demasiado longo por causa dos fados. Não desgosto, mas também não aprecio, especialmente o fado castiço. E agora toda a gente relacionada com este filme me vai odiar: detesto musicais. O filme não é um musical, graças a Deus, mas foram mesmo demasiados fados.
Recomendo a toda a gente que gosta de Herman José.

14 em 20


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