domingo, 18 de dezembro de 2022

Kiss Me (2004)


Foi um sacrifício ver este filme. Sem exagero, demorei umas duas semanas a assistir a uns 15 minutos de cada vez porque não conseguia aguentar mais. Lembro-me vagamente de ter lido críticas arrasadoras a “Kiss Me” na altura em que estreou. Por uma questão de cultura geral, insisti em ver até ao fim.
Havia aqui muita coisa para explorar se fosse esse o objectivo. Cheguei ao fim do filme sem perceber muito bem que objectivo era esse.
Esta é a história de Laura, que foge da sua terra (Alentejo, parece-me) por ser maltratada pelo marido. Aqui temos o cenário da pequena mentalidade de aldeia dos anos 50/60 e uma história bastante vulgar. Laura vai para Tavira, onde fica a viver com uma tia muito sofisticada que morou na América e gosta de dizer umas palavras em inglês em cada frase só para mostrar que sabe. (Também não percebi muito bem como é que esta tia, irmã da mãe de Laura, conseguiu sair da terrinha e tornar-se uma mulher tão diferente da pacóvia da irmã, mas se calhar não é importante. Não é a história dela.) A tia ensina Laura a transformar-se numa grande P-U-T-A que se aproveita dos homens. Ou talvez não. A tia ensina-a a ser sedutora; a putice é opcional. Influenciada pela tia, Laura apaixona-se pela actriz Marilyn Monroe a ponto de pintar o cabelo e de se vestir como ela. A partir daqui, desata a seduzir este e aquele, um porque é bom na cama, outro porque daria um marido conveniente, outro porque lhe paga as contas. O filme é passado nestas seduções de femme fatale de cliché a quem os homens não conseguem resistir porque sabem que vão ter cama. E vão mesmo ter cama.
Conheci muitas Lauras ao longo da vida. Isto não é liberdade nem emancipação feminina, é simplesmente putice. O filme ainda se mete por um sub-plotezinho com a PIDE, mas tão mal exploradinho que mal se dá conta de que ele existe (e isto não é o “Até amanhã, camaradas”, antes fosse).
Não consegui empatizar com a personagem, achei o enredo (?) longo e chato, não percebi o propósito. No fim, Laura casa com o homem mais velho que lhe banca as contas. Podia ter logo casado com ele e acabava o filme mais cedo. Ah, mas precisávamos de umas cenas de cama para encher.
De facto, Laura é daquelas pessoas que me dá urticária e de quem só quero distância. Uma drama queen, sem querer parecer a tia dela. A cena do carro, por exemplo. Para pedir a um dos amantes que prove que a ama, Laura manda-o atirar um carro novo de um penhasco abaixo. Isto não me entra na cabeça. Para lá de ser irresponsável (já não digo anti-ecológico porque naquele tempo ninguém pensava nestas coisas), um carro novo custa dinheiro. Não se atira de um penhasco abaixo. Vende-se, por exemplo. Para provar que a ama, o gajo deixava a mulher dele e casava com ela (o que não faz, porque só a quer para a cama). Então, o que é que Laura ganha com isto? O dramalhão de telenovela e o sexo, se calhar? Porque afinal não é ela quem ultimamente se aproveita dos homens, mas o contrário. À excepção do sr. Almeida, que a aceita e lhe paga as contas porque já não tem idade para grandes escolhas. Laura paga-se bem, quanto a isso não há nada a dizer. Já que todos se aproveitam, estão bem uns para os outros. Cada qual tem o que merece.
E assim esta é a história de uma Marilyn de salão de cabeleireiro que quer ser uma mulher fatal mas parece mais outra coisa. THE END.
Só tenho algo de bom a dizer deste filme. Ao contrário das produções nacionais mais recentes, em ”Kiss Me” não notei os problemas de som de que me tenho vindo a queixar ultimamente. Parece que é mesmo coisa de há poucos anos para cá.

10 em 20

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