domingo, 24 de julho de 2022

A Náusea, de Jean-Paul Sartre


"A Náusea” é o primeiro romance do filósofo existencialista Jean-Paul Sartre. O protagonista, Antoine Roquentin, fica abalado quando repara que alguns objectos lhe causam o que ele chama “a Náusea”, e começa a registar as suas experiências num diário. Roquentin está a tentar escrever a biografia de uma figura histórica mas a certa altura até o alvo do ensaio lhe causa a Náusea e tem de desistir. Mas o livro não leva o rumo kafkiano que sugere à partida. Quanto mais analisa a sua relação com os objectos e reflecte nas suas observações do mundo e das pessoas à sua volta (os outros “solitários”, como ele lhes chama) melhor Roquentin percebe que a Náusea não está no exterior, nos objectos, mas que vem antes do interior de si próprio: ele “é” a Náusea.
Filosófico, psicológico, e até sociológico, este não é um livro para toda a gente e não conta exactamente uma história. Consiste em entradas de diário em que o protagonista vai descrevendo o seu dia-a-dia, as pessoas com quem se cruza, as ruas onde passa e os transeuntes que as frequentam (em jeito de comentário social bastante cortante), muitas vezes em estilo de “corrente de consciência” confessional. Anny, um amor do passado, é mencionada as vezes suficientes para que o leitor perceba que foi uma ex-amante, mas sem que o protagonista lhe queira dar a importância que ela realmente tem. Anny é a única “história” do livro, no momento em que convida Roquentin para um encontro. Este vai, fingindo a si próprio que não quer reatar com ela, quando no fundo é tudo o que mais deseja, já adivinhando realisticamente que isso não vai acontecer e preferindo antecipar de antemão como é que as coisas vão correr.
No diário, Roquentin descreve os seus estados de humor e questiona-se sobre o que é existir, e, acima de tudo, o que significa existir. Não no sentido “penso logo existo”, mas numa outra profundidade. Como, por exemplo, a cena da árvore, que o faz questionar até que ponto termina a existência da árvore para começar a sua e se não será uno com a árvore (o que ecologicamente até faz sentido). Por fim, Roquentin confronta-se com o significado da existência e chega a uma conclusão que vai agradar muito aos escritores que lerem este livro.
Não aconselho a toda a gente, mas aconselho vivamente a todos os que gostam de filosofia, psicologia e sociologia, e a quem gosta de pensar profundamente.

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