Durante uma exibição da ópera “Roberto do Diabo”, um folhetinista (título que dá a si próprio) é abordado por um companheiro de camarim que lhe relata uma ignominiosa história de parricídio, caso este a queira escrever. O folhetinista interessa-se e o companheiro conta-lhe a história de Ricardo, que mata o pai no único intuito de lhe roubar a herança. Pior do que isso, consegue acusar um inocente do homicídio, inocente este que é enforcado por um crime que não cometeu. Ricardo é o Mal em pessoa. Mas sobrepujado pelos remorsos, acaba por se arrepender.
No drama em palco, temos a história inversa. Roberto é filho de Bertran, que se intitula diabo (“um diabo subalterno, um diabo inferior, um diabo de segunda qualidade, um pobre diabo! A licença com que veio à Terra expira nesse dia; dentro em poucas horas tem de abandonar o filho e voltar às trevas e às chamas, ao fogo e à escuridão, à alegria infernal e à dor maldita!”), e que gosta tanto do seu filho que quer levá-lo para o inferno para não se separar dele.
Este é um conto que promete mais do que oferece. Entretanto, o companheiro do folhetinista confessa que o tal “Ricardo” é ele próprio (o que já todos tínhamos percebido) e promete dar mais pormenores. Contudo, no dia seguinte, o folhetinista descobre que este estranho homem é um louco do manicómio. Ficamos sem saber se a história era verdadeira, se foi uma invenção do louco, se foi o parricídio que o fez enlouquecer. Não aprecio este tipo de fim que não nos dá nada em forma de conclusão. Justifica-se, em certos casos, mas aqui não percebo mesmo porque é que o fim fica “à interpretação do freguês”.
Salvam-se algumas considerações sobre o Bem e o Mal que vão sendo feitas a meio da narrativa. Não há muito mais a dizer sobre este conto e não quero fazê-lo parecer mais interessante do que é.
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Este conto encontra-se na compilação “Dentro da Noute –
Contos Góticos”, do Projecto Adamastor. O download gratuito pode ser feito AQUI.
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