[contém spoilers]
Louis Drax parece ser o miúdo mais azarado do mundo. Quando desta vez cai de um precipício, a equipa médica pronuncia-o morto. Algumas horas depois, na morgue, quase a ser colocado numa arca frigorífica, Louis acorda por momentos e de seguida mergulha num coma profundo. Para investigar o fenómeno, é chamado o dr. Allan Pascal, especialista em coma infantil.
A acreditar na mãe do miúdo, a bela e frágil Natalie, tudo indica que foi o pai de Louis quem o empurrou do precipício durante um piquenique em que celebravam o aniversário do filho. O casal estava separado e após o acidente o pai do miúdo desaparece, o que convence toda a gente da sua culpa.
Entretanto, um romance desenvolve-se entre Natalie e o médico, cujo casamento também já não andava bem. É então que coisas estranhas começam a acontecer.
“The 9th Life of Louis Drax” apresenta-nos um mistério que merece ser desvendado, mas não é o que promete. Na verdade, o filme é uma salada russa de realismo mágico (muito devendo a “Pan’s Labyrinth” e ao mais recente “A Vida de Pi”), investigação policial e promessas de sobrenatural. Infelizmente, nada disto se interliga de forma satisfatória e o filme falha redondamente. Saliento aquela cena em que o médico segue um monstro marinho pelos corredores do hospital. Isto é tenso e digno de um filme de terror. Mas nunca percebemos qual é o objectivo desta cena porque afinal o médico acorda e não passa de um pesadelo. Era só para nos assustar gratuitamente. Estas coisas repetem-se constantemente no filme. É para acreditarmos que o miúdo em coma possuiu o médico enquanto este dormia, e que o fez escrever mensagens? Porque neste caso a coisa ainda é mais sinistra.
Gostei da revelação de quem é o “monstro marinho” (Aaron Paul, conhecido como Jesse Pinkman em “Breaking Bad”), a projecção psicológica em que Louis encontra a verdade.
A verdade, infelizmente, não podia ser mais prosaica. Não me importo de a dizer aqui uma vez que a meio do filme já toda a gente percebeu menos o médico. Até é bastante interessante observar como ele é manipulado. Nem o intelecto o salva. Enfeitiçado pelo charme da femme fatale Natalie, é o último a acreditar que foi ela quem causou os “acidentes” ao filho. Isto chama-se Munchausen by proxy. [Há tradução em português?] Munchausen by proxy é também uma patologia praticamente desconhecida entre nós, o que torna este filme acima de tudo educativo e recomendo a toda a gente.
Afinal o miúdo não era misterioso. Todo o ambiente surrealista que o rodeia (alucinação, técnica cinematográfica, sonho?) acaba por não ter relevância narrativa. Sim, é verdade, no fim o monstro marinho explica tudo em termos mais simples para o miúdo perceber. Mas nada que não tenhamos percebido já.
Esta foi uma tentativa ambiciosa e alternativa de abordar uma patologia ainda pouco conhecida. É de louvar, mas não funcionou tão bem como devia.
13 em 20
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