domingo, 30 de junho de 2013

Máquina Herética: poesia e prosa poética, 6


A QUEDA

Quando eu sinto que as asas se partem
e aterramos em queda livre, risco de vida,
pergunto-me a razão da existência,
porque voamos tão alto e depois caímos,
e ainda que a culpa não seja nossa
e nos culpem pela culpa que não temos,
de que modo podemos fugir?
Como voltar ao voo visando as nuvens
diz-me, meu amor, as alvas asas,
como levantá-las levemente
sem medo de voltar a cair?
Desta vez nada existe lá em baixo
que amortize a nossa queda tenebrosa
a não ser o manto materno da morte.
O amor, para nós, só o amor
ampara a amargura de existir.


3-10-1988

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