quarta-feira, 26 de junho de 2013

Máquina Herética: poesia e prosa poética, 5


A ouvir o vento, a dançar ao vento
e tu a meu lado
Loucura, sem remédio...
versos esparsos que se desprendem
dessas luzes encaminhadas na brisa
que os teus lábios murmuram

Como podemos nós ser
mais do que pontos pequenos luminosos
no universo desta toda violência
que o vento incita e desprende
desprende os meus cabelos com força...
Que dança poderia ter sido mais bela
que conhecer-te como a voz do vento
e gritar de pulmões à ventania,
que só quero ser feliz...
E como explicar às ondas que batem
que a sua força não me assusta
o medo, o medo é a morte
e a morte não está aqui...
Que luz, o sangue que eu sei arder
sempre consumiu o meu ser
neste sofrimento que nem tu entendes

e se eu te chamar amor o que responderias?
Deixas-me ser a tua menina?
Se eu fugir, matar-me-ás?
Medo de quê hei-de ter?
Diz-me se dentro dos teus olhos,
o fogo que vejo é real, ou se é apenas uma luz,
uma lâmpada rebelde que te guia,
que me toca e reprime deste modo...
Enquanto lá fora o vento nos diz
que no fundo somos tão pequeninos...
E se não nos temos um ao outro
quem mais teremos para cuidar de nós, meu bem?
Sim, porque sós, tão sós... eu sei como tu.
Não me digas palavras de alívio...
que os teus olhos são doces como a brisa...
Dá-me só a doçura para que eu possa
enfim ter o sono que mereço...
Porque o vento, meu amor, também me embala
quando o medo já não tem razão de ser,
porque o medo também morre quando é demais,
e de ti, amor, não tenho medo...
Então dentro em pouco adormeci,
sei que me vais proteger,
porque temes ficar só
porque o vento também apaga
o fogo que te dá vida... e temes como eu.
Só respira comigo, respira e repousa,
no céu que sei ser o meu seio,
e sossega finalmente.


3 outubro 1988

5 comentários:

katrina a gotika disse...

É curioso. Copiei os textos do documento Word e tentei que se parecessem o mais possível com o original, o que nem sempre combina aqui com a formatação do blog. Pensei que a formatação deste ficasse mal mas afinal ficou melhor do que a do anterior, cujas frases ficaram demasiado espaçadas. :)

Fashion Faux Pas disse...

Este poema lá está, é do mais subjectivo que existe. E mesmo se eu tentar interpretar literalmente o texto, parece algo cheio de dúvidas, a pessoa acerca de quem escreves em momentos pareces acreditar que essa pessoa tem sentimentos profundos por ti, noutros momentos pareces achar que essa pessoa apenas não quer estar só e por isso te deixa entrar na sua vida... e tu própria pareces ter mixed feelings por essa pessoa. Gostei, é algo sem certezas, quem ama? quem é amado? e nunca chegamos a saber ao certo quem é o maior sofredor neste texto.

katrina a gotika disse...

Bem, só aqui entre nós (já estou a falar demais, *cough*), existe uma conotação sexual que eu não quis que fosse explícita, nem sequer implícita. Isto é, não quis que ninguém a percebesse. Escrevi o que pude sem ninguém perceber.

Fashion Faux Pas disse...

A sério? Não a senti, vou reler agora com essa ideia em mente e de certeza que vou interpretar de outra forma.

katrina a gotika disse...

Era a tal coisa que eu dizia da "desonestidade". Escrevi com algo em mente que não quis partilhar com o leitor, logo, mais ou menos propositadamente levando-o em erro. Acho que todos os poetas fazem isto, declaradamente ou não, e muitos ficam aborrecidos quando as pessoas não "adivinham" o que não está lá ou é contraditório ou passível de muitas interpretações. Lá está, subjectivo. Por esse motivo, desisti da poesia e comecei a escrever prosa. E também prefiro prosa.