domingo, 30 de dezembro de 2012

Gotika: arquivos Fevereiro 2004

fevereiro 11, 2004

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Hoje vou falar sobre mim, para variar. *ironia*
Antes de ter o blog escrevia no diário do computador. Claro que não falava de filmes nem de livros. Essas impressões guardava-as para mim e para as conversas de café. Porque não havia ninguém a ler o meu diário. E escrevia muito menos mas de assuntos muito mais íntimos.
Sabendo que estava a escrever um diário aberto, sabia também que as pessoas se iam interrogar sobre a minha personalidade. É absolutamente natural. E não me incomoda nada.
Escolhi o título Gotika (gótica) porque explica logo um terço da minha personalidade e maneira de ver o mundo. Sabendo isto de mim é muito mais fácil perceber o resto. Tudo se torna imediatamente mais claro - neste caso, mais escuro. *piada*
Eu sou, como toda a gente, o resultado da minha personalidade e do meio em que cresci e fui educada, e das experiências porque que passei. Com o tempo, estes factores moldaram também a minha personalidade e a minha forma de agir e reagir perante os outros e o mundo. Tenho passado por experiências mais complexas do que a maioria, o que me transformou numa pessoa mais complexa do que a média mas não por mérito ou demérito pessoal; apenas porque de facto passei por mais experiências complexas que a maioria dos outros, experiências que tive de integrar e incluir na minha forma de ver o mundo.
Sinto uma dificuldade enorme em dar-me a conhecer aos outros de modo a ser compreendida. E sou de facto alvo de uma incompreensão colossal por parte dos outros. Essa incompreensão fez-me sofrer bastante durante a adolescência, altura da vida em que é mais importante sentirmo-nos compreendidos e aceites como parte de um grupo semelhante. Já na infância a incompreensão me provocava crises de verdadeira raiva e agressividade. Na infância não fazia a mínima ideia de porque é que os outros não compreendiam. Na adolescência ainda não percebia muito bem que de facto não se pode exigir aos outros que compreendam experiências porque não passaram mesmo que se lhes explique muito bem e se desenhe um esquema com setas. Actualmente a incompreensão já não me faz sofrer. Tornei-me mais tolerante com a incompreensão dos outros. Mas continuo a não concordar que as pessoas não façam um esforço para compreender o que lhes é estranho. Talvez por ser tão incompreendida, eu faço esse esforço para compreender os outros. Quando não compreendo, porque às vezes também não consigo, tento respeitar, na certeza de que há sempre uma razão para as pessoas serem como são. Disso não tenho dúvidas.
Muitas vezes apresento ideias e atitudes que parecem contraditórias, mas só aos outros. Era preciso ter acompanhado o meu percurso de vida desde que nasci para compreender todas as pequenas nuances que separam a incoerência da complexidade. Não posso, nem quero, contar a minha vida toda a alguém que conheço há pouco tempo.
Na vida é preciso ter disponibilidade para compreender os outros. É preciso ter tempo, paciência, tolerância, muita sensibilidade e até perspicácia. É preciso puxar pela cabeça para conhecer os outros. Exige pensar neles.
É estranho estar a dizer isto tudo como se fosse uma novidade mas vivemos numa sociedade demasiado rápida, que nos tira o tempo, que nos obriga a viver de fast food. As pessoas não trazem uma descrição dos seus compostos nem têm prazo de validade.
Eu sou uma espécie de produto complexo com vários rótulos que desconcerta os repositores do supermercado que nunca sabem em que prateleira me colocar. A secção “gótico” já dá muitas pistas. Coloquemo-nos aí, portanto. Sem perigo de o consumidor acusar o produto de publicidade enganosa.

Publicado por _gotika_ em 12:36 AM | Comentários: (27)


~~§~~


Comentário:
Este post é muito curioso. Passados oito anos já começo a desconfiar porque é que as pessoas não conseguem compreender-me. (Foi uma descoberta recente.) Continuo a sentir a mesma incompreensão. Exactamente a mesma compreensão. Era de esperar sentir-me mais compreendida à medida que lido com pessoas mais velhas porque também eu, inevitavelmente, estou mais velha, logo, seria de esperar que as minhas experiências se aproximassem da média e que a média já tivesse maturidade para me compreender a mim. Pelo contrário, o fosso é cada vez mais abissal. De modo que concordo com quase tudo o que disse excepto um pequeno pormenor que tenho vindo a adquirir nos últimos tempos: Não aceito que não me compreendam. Não aceito a falta de esforço. Da parte de pessoas mais novas, é completamente natural. Da parte de pessoas da minha idade ou mais velhas... já tinham idade para saber mais do mundo! Mas se não sabem, que se esforcem.

5 comentários:

- inkheart disse...

quando percebeste que pertencias a essa subcultura gótica?

katrina a gotika disse...

Olá!
Essa também é uma "história" que eu conto a seguir. Mas penso que não é nos arquivos, foi já neste blog. Olha, não me lembro onde escrevi, mas escrevi! É só seguir estes posts e se não aparecer voltar a ler *este* blog desde o começo. Ou podes tentar a etiqueta "gótico".

katrina a gotika disse...

Copia e cola este link:
http://search.freefind.com/find.html?si=37447045&pid=r&n=0&_charset_=UTF-8&bcd=%C3%B7&query=g%C3%B3tico+perspectiva

Conto a história toda.

Mas se queres o momento, é aqui:
http://gotikka.blogspot.pt/2005/09/first-and-last-and-always.html

Está neste blog. Foi ficando disperso aos poucos.

- inkheart disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
- inkheart disse...

Obrigada! Vou ler :)

Gostava de perceber mais sobre esta subcultura e os teus textos têm dado uma ajuda. Ainda bem que te encontrei no meio de uma pesquisa. :D