quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Gotika: arquivos Fevereiro 2004

fevereiro 06, 2004

Porra!

Nick Cave no CCB a 50 euros!!! Tentei ser corajosa e encomendar o bilhete no IOL. Além dos 50 euros ainda me pediam 5 euros para o correio e mais 3 euros e tal de comissão. No total, eram 58 euros e qualquer coisa!
Foda-se!
Cancelei.
Não vou ver o Nick Cave.

F-O-D-A-S-E-!

Ai que raiva! Ai que raiva! Ai que raiva!

Nota informativa
Nick Cave no CCB a 24 e 25 de Fevereiro
Preço: 50 euráceos (toma e embrulha!!!)

Publicado por _gotika_ em 08:28 PM | Comentários: (8)


Sex Pistols

Estive a ver o filme sobre os Sex Pistols (uma espécie de documentário realizado por Julien Temple em 1999) como quem vê uma série de História. A minha História.
O movimento gótico musical nasceu no fim do punk, aí em 1980. É, por isso, um movimento pós-punk.
Interessante, se me perguntarem se sou de esquerda ou direita direi que nenhuma das hipóteses, que em vez disso tenho uma costela punk. Ser punk significa ser anarquista. Eu não sou anarquista - acho que a anarquia é uma utopia tão grande como o comunismo - mas tenho uma “costeleta”.
O punk proclamava NO FUTURE (que por acaso é o que se passa em Portugal 20 anos depois, mas avante...) e preconizava a anarquia e a revolta contra o sistema.
O gótico, uma das correntes descendentes do punk, já não preconiza nada. Digamos que é a cristalização da desilusão e do desinteresse levados ao apogeu da obsessão pela morte. Não está contra o sistema mas sim à margem do sistema. E não se quer integrar. Pelo contrário, odeia o sistema. Sabe que não o consegue destruir mas também não deixa que o sistema o force a ser “igual”. O sistema bem tenta mas o gótico foge-lhe.
Os punks acreditam. Os góticos não. Por isso, a música e as letras são ainda violentas como expressão de raiva mas com a certeza desencantada que a única coisa que resta é a expressão do sentimento e nada mais. Se o punk é a revolta, o gótico é o apocalipse. Depois do gótico não há nada. Só seres infernais e celestiais. Toda a raça humana se extinguiu.
O punk não, é humano. Traduz as aspirações humanas: não há emprego, não há dinheiro, não há amor. O gótico ultrapassa-as: nunca foi suposto haver felicidade mas apenas sofrimento, so, what’s the point?
O punk revolta-se. O gótico já viu que a revolta não resulta e prefere olhar de longe os actos insanos dos que fingem revoltar-se.
O punk incita à acção. O gótico incita à introversão e à fuga.
O punk consome drogas “porque sim”. O gótico consome-as para se anestesiar ou “sentir melhor”.

Mas o que tem isto a ver como os Sex Pistols? Bem, muito pouco. Tirando o Sid Vicious. Sid Vicious é o anti herói. E não é por acaso que um membro (não apanhei qual) dos Sex Pistols diz: “Ele é que trouxe o casaco de cabedal preto e toda aquela merda vampiresca e gótica que passou a perseguir-nos”. O gótico vai onde está o abismo, o apocalipse.
Sid Vicious (baixista da banda) morreu de overdose. Estava a ver o documentário e a figura dele lembrava-me “The Crow”. Quantas pessoas não terá o seu estilo influenciado?
Não estou a dizer que ser gótico é morrer de overdose, porque não é. O gótico sabe mais que isso. Prova é que todos os inventores do gótico estão vivos e de (relativa) boa saúde: Peter Murphy, Andrew Eldritch, Siouxie, Robert Smith... Nenhum se afundou na droga. Bem, alguns afundaram-se (Ian Astbury) mas emergiram de novo.
O gótico sabe mais do que o punk. Não quer viver depressa e morrer jovem. Sabe que vai morrer e tem-no presente todos os dias. E já chega. A pior provação vai ser a velhice.
Mas o velho gótico que sabe ser gótico sabe que a velhice é ser o sacerdote, o feiticeiro da tribo.
Porque o gótico não é nada de novo, não pensem. O gótico nasceu com a humanidade.
Mas sobre isso falo depois.

Adenda: Bem, houve um que se afundou na droga. Foi o Rozz Williams, vocalista dos Christian Death. Atascou-se completamente. E enforcou-se há uns poucos anos. Paz à sua alma.

Publicado por _gotika_ em 07:11 AM | Comentários: (23)


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Comentário:
Lembro-me perfeitamente do dia em que percebi que ia ter de abdicar de Nick Cave porque não tinha dinheiro para ir ver. Compreendi, ou intui, tudo aquilo de que ia ter de abdicar. Para sempre.

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