quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Gotika: arquivos Janeiro 2004

janeiro 10, 2004

Lovecraft - quem?!

Aqui há dias recebi um mail de um escritor português que diz ter encontrado o este blog através de uma busca no Google sobre H. P. Lovecraft. Isso surpreendeu-me. Não apenas porque nunca aqui falei dele, mas mais ainda porque NUNCA li Lovecraft (os amigos não tinham para emprestar).
Fui repetir a pesquisa no Google para me encontrar no meio de Lovecraft. Até agora sem sucesso.
Vi a sua bibliografia. Nunca li nada, confirmo. Mas já tinha ouvido falar muito do homem, não sei exactamente em que contexto. Uma pesquisa pela sua obra e reparei que afinal os seus conceitos não me eram estranhos e chegaram até mim através da banda gótica - gótico mais gótico não há - "Fields of the Nephilim". Agora já sei quem é a Kathula. Finalmente! E ao que eles se referem quando falam do "reanimator". E os próprios Nefilins, que eu só conhecia da Bíblia. E aposto que isso está relacionado com a cultura Suméria...
"O bom da iliteracia é que há sempre coisas para descobrir" (esta não é minha). Torna-se complicado por vezes descobri-las porque as coisas que valem a pena (para mim, pelo menos), já não se encontram no mainstream, ao sol das FNACs e dos Colombos. Muito obrigado ao senhor que me despertou para o autor. Já vi que tenho muito que ler. E revisitar certos conceitos que conheço em segunda mão. Vai ser interessante. Respondo-lhe assim que puder.

Entretanto, descobri este testezinho. Se quiserem divertir-se...

You are Herbert West, Reanimator. How lucky for
you, you sick bastard. Making zombies out of
people, that is just sick (but cool in its own
way).

What Lovecraft Character Are You?
brought to you by Quizilla

Nota: Ainda não me encontrei a mim mas já vi "The Old Man" na listagem. Ele há coisas da breca!...

Publicado por _gotika_ em 06:24 AM | Comentários: (3)

~~§~~

Comentário:
O teste já não existe.
Lovecraft, entretanto, inundou o meu inconsciente.

~~§~~


Carta de uma menina especial

Ela escreveu, eu respondi. Aqui fica a parte que gostava que lessem.

Em relação ao texto "Eu, Gótica":
Estou na fase da adolescência, e o texto deixou-me mais alivíada. É que +/- há 3 meses, agora cada vez mais, tenho sentido uma atracção por tudo o que é gótico, tanto a nível estético (até já dizem que só visto preto), também tenho ouvido muita música gótica, mas é principalmente a minha mudança a nível espiritual que que me tem surpreendido e assustado. É como se sentisse alguma força a puxar-me para baixo. Dou comigo a escrever poemas tristes e obscuros, choro muito. Fico maravilhada (e sinto uma paz) quando vejo arte gótica: os monumentos, as fotografias artísticas, as roupas, a época
medieval, e até os cemitérios; e também pessoas, sinceramente, acho lindo!
Também gosto muito mais da noite que do dia, mas isso acontece. Não sei de onde poderá vir esta influência, pois nunca conheci ninguém gótico (muito pelo contrário) nem nunca falei disto com ninguém. Talvez também seja por isso que esteja a escrever, é que não tenho ninguém que fale comigo disto, e também tenho um pouco de medo do que possam pensar. É como se isto fosse um desabafo.


É uma grande responsabilidade escrever-te, quero que saibas isso, mas também não quero entrar num paternalismo excessivo. Até porque não te conheço, não sei o teu percurso, vou ficar pelas palavras mais simples que me ocorrem e que são estas:
Na adolescência é normal passarmos por uma fase de inadequação, de tristeza, de sentimentos extremos, até de depressão. A sério, é normal. Basta leres umas coisas sobre adolescência para veres que não és a única. Aliás, garanto-te que também lá estive. Mas também garanto que isso passa. A fase, isto é. A depressão nem sempre. A tendência para a melancolia também não passa. E também não é defeito, é feitio. Se as pessoas à tua volta não te entenderem, não percas tempo, procura outras. Há pessoas que não compreendem a melancolia, temos de aceitar que são mesmo assim, tal como pedimos para nos aceitarem como nós somos. É uma questão de tolerância.
Se estiveres deprimida, procura ajuda. Não é vergonha procurar ajuda. O que é na minha opinião uma vergonha é ter vergonha de procurar ajuda. E depois vê-se o resultado, gente recalcada, que nunca se analisou, que tem vergonha de olhar para dentro... Por fazermos terapia não quer dizer que sejamos loucos. Loucos são os que pensam que são perfeitos. E depois, como eu disse, vê-se o resultado...
E pronto, esta era a parte de facto preocupante do teu mail. Quanto a...


No entanto nunca disse a ninguém que era gótica ou nada parecido, porque não sou, nem nunca tive intenção de ser (Nunca se sabe... Mas deve ser só um estado de espírito), e também nunca dei isso a entender a ninguém, a ponto de alguém suspeitar de alguma coisa (acho eu). Apenas duas grandes amigas minhas mais chegadas me disseram que o estilo me fica bem e tem a ver comigo.


De facto, não vejo nada de preocupante aqui. :)
A adolescência é uma fase de experiências e de riscos e de rebeldia. Se os riscos e a rebeldia se ficarem pelas roupas que vestes e a música que ouves os teus pais podem ficar descansados (embora eles provavelmente achem que não).
Agora a conversa de gaja mais velha para gaja mais nova: não experimentes droga (podes lá ficar), o álcool não é água e a SIDA anda aí. De resto, conversa de gótica para menina: não te deixes usar por ninguém mas também não te feches no teu mundo sem deixar ninguém entrar por medo de sofrer, porque o sofrimento faz-nos mais fortes.


Com admiração:
(tenho 15 anos e estou no 10º ano)

Eu é que tenho de admirar uma menina de 15 anos, no 10º ano, que já escreve tão bem. Hoje em dia começa a ser raro.

Agora queria pedir-te que me deixes transcrever esta parte do teu mail e da minha resposta para o blog (sem o teu nome, claro!) porque pode ser que responda a mais alguém...
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Ela deixou, e aqui está.
Um dia vou contar como conheci o movimento gótico e como foi a minha primeira vez. A minha primeira vez no mundo gótico, claro! (lá tinha que vir a piadinha brejeira)
Nunca tive grandes dúvidas sobre a minha pessoa, nem inquietações do tipo "será que sou isto? será que sou aquilo?". O que sempre me perturbou foi o não conseguir fazer isto ou aquilo: as minhas realizações, não o meu ser. De modo que estas dúvidas nunca me assaltaram. Será por isso que tive uma adolescência espectacular? Bem, alguma vantagem há-de haver na precocidade.

Publicado por _gotika_ em 02:17 AM | Comentários: (8)

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