Amigos, o Fernando chamou-me à atenção que o link não estava a funcionar. Dantes eu usava o alojamento Tripod para este mesmo fim mas parece que já não permite downloads directos.
Agora já funciona mas só vai estar acessível por 7 dias. Depois disso, podem sempre pedir-me para fazer o upload novamente.
Obrigada Fernando!
Obrigada Fernando!
LINK CORRECTO
In your breath
I feel the life
Stolen time
Before the end
In your eyes
I see the light
Fading fast
Like soft stars
In my arms
I hold the night
Forget your fear
I am here
As she grows cold
My thoughts are bright
I hold the night
I hold the night
Bright
It's a better way
How the sun does shine and the children play
Blood on my hands
Dust on my heart
Ash on my head
I'm torn apart
Bright
Here I wish to stay
Now this dream is mine
Night becomes day
"Night and Mourning (edit)", Regenerator, álbum "A Cat-Shaped Hole in my Heart", Projekt, 1999
Depois do último périplo pelas memórias da minha experiência particular no movimento gótico, quis graciosamente o destino que numa noite menos feliz desse por mim a ouvir este tema, não de propósito mas nem de propósito!, porque me fez também pensar "olha aqui está um bom exemplo do que é música gótica se o tivesse de dar".
Não é uma canção conhecida de nenhuma banda antiga ou recente. Também não é um clássico como "Alice" (Sisters of Mercy) ou "Reanimator" (Fields of the Nephilim) ou "Hallow Hills" (Bauhaus), do início dos anos 80. Pelo contrário, por ser um produto de 1999 é que a escolhi, como o delta resultante de muitos rios, não ignorando que qualquer dos clássicos é outro bom exemplo, mas um diamante em bruto, forçosamente em estado mais puro e não depurado dos complexos iniciais dos pioneiros. Esta foi uma das razões porque escolhi este tema em vez de outros, e o resto que me ajudem a explicar as musas.
Antes de mais, esta canção tem uma história. Faz parte do CD "A Cat-Shaped Hole in my Heart", com 14 músicas de vários artistas ligados à cena gótica (alguns de bandas originais, como os Black Tape for a Blue Girl, outros de artistas a solo ou parcerias diversas), um projecto de alerta para a realidade da leucemia felina com as receitas a reverter para um abrigo de animais. Todas as músicas são sobre gatos e a maioria um lamento pelos gatos que desapareceram da vida dos donos. Foi por todas estas razões que comprei o CD. Aliás, aconselharia vivamente a toda a gente que perdeu um animal de estimação mas o site original que está no CD já não existe portanto não tenho o link. Mesmo que não fosse sobre gatos, é um excelente CD.
Em cima está o link para download da música de que vos falo em especial (para ouvir, clicar com o botão direito do rato e fazer "save as"), e na Amazon ainda se pode encontrar o CD de vos falo, AQUI (a capa também é muito gira e o artwork interior idem).
Tal como a maioria das canções, esta fala do sofrimento inconformado do dono perante a morte da sua gata. Em meia dúzia de palavras: a gata morreu, ele lamenta-se, e no seu desespero imagina que a gata está num sítio muito melhor. Nada mais simples.
Vou agora explicar porque é que daria esta canção como exemplo de música gótica.
1) Em termos não muito técnicos (só admissíveis a um músico), o recurso descomplexado a todos os meios electrónicos ao dispor. Não ficaria surpreendida se toda a música tivesse sido composta num sintetizador, da caixa de ritmos ao piano. Não sou especialista mas parece-me que não há aqui nenhuma guitarra (o que é chato porque era apenas o que faltava para um exemplo mais que perfeito, mas não se pode ter tudo). Desde o início, a começar pelo conhecido Doktor Avalanche dos Sisters of Mercy, as bandas góticas nunca desprezaram o sintetizador para compensar a falta de elementos ou produzir o som pretendido sem necessitarem de uma orquestra em palco. Contudo, neste caso, embora não me pareça que exista, podia bem haver uma guitarra real ou digitalizada neste tema. O que interessa é ser facilmente transposto para qualquer palco, com os instrumentos reais ou sintetizados (se bem que para os Fields of the Nephilim pudesse ser um problema transportar um orgão de igreja em digressão). Apenas um instrumento é imprescindível: a voz. Nesta canção há uma voz masculina e uma voz feminina e ambas são fundamentais. A música gótica sempre foi um movimento de cantores e divas, possivelmente e exactamente pela ausência de mais instrumentos "reais". Existem, de facto, instrumentais, e instrumentais fabulosos, mas nada que se aproxime da canção gótica quando a voz está presente. Um exemplo do que digo: o famoso "Bela Lugosi's Dead" é em grande parte instrumental mas é inegável que entre ouvi-lo com ou sem a voz de Peter Murphy, nas suas parcas intervenções, a escolha deve ser bastante clara.
2) O tema. O melhor tema da canção gótica é a morte, seja em sentido literal (como neste caso) ou figurativo (quer a morte interior ou sentimental, quer a decadência individual ou social que anuncia o "fim" de qualquer coisa).
3) A letra. Para começar, o trocadilho (muito apreciado no género e também recentemente utilizado pelos Fields of the Nephilim no seu último álbum "Mourning Sun") entre a palavra "morning" (manhã) e "mourning" (luto). "Night and Mourning" é, portanto, a escuridão do luto e a sugestão da luz. A letra nunca fala de um gato, só diz "she" (ela). Podia tratar-se de um amor, de uma mãe, de uma criança. Sem o background do CD, só sabemos ao certo uma coisa: alguém muito importante morreu e o autor tenta, através do artifício narrativo de uma segunda voz, consolar-se com o pensamento de que para esse alguém uma nova vida começou, uma vida luminosa e para sempre longe da dor humana ("how the sun does shine and the children play"), a verdadeira vida do espírito. Liricamente fácil mas eficaz até às lágrimas. Como dizia acima, também é deste lirismo simples (nalguns apenas casos aparentemente simples) e ao mesmo tempo poderoso de que a música gótica se alimenta.
4) O crescendo épico. Musicalmente não necessita de muita explicação nem é exclusivo da música gótica (Wagner que o diga) mas está presente na maioria dos temas, e também neste.
5) O consolo. Na minha humilde opinião, o que distingue a temática gótica das outras correntes de música depressiva (que as há, desde os velhinhos Doors ao mais recente grunge -- e do emo não posso falar porque não tenho paciência para ouvir) é a consolação através da beleza da forma e do conteúdo. Já o tinha dito aqui uma vez. A música gótica pretende ser agradável apesar dos horror dos temas que aborda, da mesma forma que o ser humano tenta contornar a horrível verdade do cemitério com as mais belas esculturas de anjos. Este consolo, ou consolação, se preferirem, apenas aparentemente é cristão. Já o povo Neanderthal cobria as sepulturas de flores e nem temos a certeza se o povo Neanderthal pertence ao genoma humano (?). Aliás, até os elefantes são conhecidos pelos seus estranhos rituais nos "cemitérios" de ossos dos familiares da manada. De modo que, apesar da resolução deste tema em particular ser bastante místico ("foi para um lugar melhor"), não queria estar aqui a analisar demasiado a pré-história da coisa, apenas salientar que não é forçosamente cristã e basta por agora. Voltando à especificidade da temática gótica, ao contrário de outros estilos (como o metal e o grunge) que deixam um amargo vazio no ouvinte, o gótico, escapista na opinião de uns, místico na opinião de outros, tenta preenchê-lo de beleza não só na forma (a música) mas também no conteúdo (o lirismo com que aborda as realidades mais cruéis, como a morte): "Night becomes day".
E esta canção é um exemplo maravilhoso disto tudo.
Se ouvir mais alguma, para a consolação de nós todos, prometo que partilho.
14 comentários:
conheces
"into dust"
http://www.youtube.com/watch?v=MPyeK30VANs&feature=related
Por acaso tenho a sensação de já ter ouvido, o que é possível porque se ouve muita coisa nos bares e não se conhece tudo.
Sinceramente, achei muito "paradinho". :\
estava deprimido ;)
Ruela, Mazzy Star é uma beleza.
Um abraço
E, gotika, se conheceres um bar onde se ouça disto avisa por favor. Não é no Disorder, decerto...
Experimenta as Graveyard Sessions. Mas este tipo de som mais "ambiental" não é adequado para festas. É mais para ouvir em casa.
Se bem percebi, não consideras que Wagner se enquadra no género gótico... Talvez a minha definição seja demasiado vasta, mas a tetralogia de óperas O Anel dos Nibelungos cumpre plenamente todos os 5 critérios que defines. Eu sei que sou um chato, mas tens de ouvir mais música do período romântico ;-)
PS: Into Dust foi o tema que coloquei a ilustrar o álbum de 1993(So Tonight That I Might See dos Mazzy Star).
PS2: Não conheço o tema dos Regenerator, mas vou procurá-lo.
Fernando:
Não, de facto não coloco Wagner na cena gótica, e já que vamos por aí nem sequer Bach que fez a peça mais gótica em muitos séculos (não estou agora a pensar em toda a música de todos os séculos) que foi o seu Tocata e Fuga em Ré Menor. Contudo, reconheço-te a razão de ser nas origens, tal com eu coloco Jim Morrision e Florbela Espanca nas origens, quando me refiro à cena gótica emergente nos anos 80, lá e aqui, mas para teorizar abrangentemente o gótico teríamos de recuar aos Godos, às catedrais góticas, e por aí fora, de modo que sem Wagner (mesmo não sendo uma conhecedora) é provável que não houvesse cena gótica nenhuma. Obviamente, não estou a teorizar tão longe, mas olha, talvez um dia, e comecemos pelos Neanderthal (parte do genoma humano ou não, que importa?).
Duvido que a tetralogia do Anel dos Nibelungos cumpra "o recurso descomplexado a todos os meios electrónicos ao dispor" porque não havia recursos electrónicos na altura (havia luz da vela e era bem bom) mas percebo onde queres chegar e respeito perfeitamente o teu raciocínio. Não só respeito como acho que faz todo o sentido na evolução da música em geral, de onde não abdico de um dos meus preferidos em particular, que é Verdi em "Nessum Dorma", (gosto de ópera), e toda essa música antiga teve forçosamente que contribuir para a música como é agora. Digo eu, que não sou Historiadora de Música.
Mas, humildemente, estava apenas a referir-me a música que conheço após os anos 80 e a tentar fazer alguma teoria introdutória, nem sequer final de tese, sobre a música gótica desde os Joy Division. De modo que vamos deixar Wagner de lado... por agora. :P
Não precisas de procurar o tema que referi porque basta apenas fazeres clique com o botão direito do rato e fazer "save as" e terás o download da música para ouvires e dares a tua opinião. (Informaticamente falando, agora só entre nós, falta-te um neurónio ou dois, certo?)
Pois é, a música está mesmo ali para ser downloadada!!! lol!
Sobre Wagner adoraria falar mas não é facto um dos meus autores preferidos por isso, se estivesse a fazer uma tese, ia buscar a opinião de especialistas. Como tu.
Adorava ver um post em que relacionasses Wagner com a música gótica. Talvez um dia, com o teu conhecimento e o meu, dê um livro. Pensa nisso, mas a sério, porque a música chamada gótica tem muitas poucas teorias e devíamos debruçar-nos sobre o assunto a sério se de facto o quisermos.
Cá estou à espera desse artigo. Avisa-me.
Isso já eu tinha experimentado!!!
Eheheh... "Informaticamente falando, agora só entre nós, falta-te um neurónio ou dois, certo?"
Tiveste piada, mas normalmente para se fazer download é preciso que o link funcione, o que não é o caso... E agora a quem falta o par de neurónios informáticos?
Quanto ao Wagner, só tens de ter paciência. Estou a escrever 200 posts sobre os últimos 200 anos de música. Lá chegarei...
Cá esperarei pelo Wagner.
Ainda bem que me alertaste que o link não funciona porque na parte do html estava tudo a funcionar e música está no site. O que deve estar a acontecer é que o tripod não permite downloads directos.
Eu já usei e funcionou, mas de outra maneira. Vou ver se consigo dar a volta.
Mais uma vez, obrigada. Estava convencida que o link resultava.
Corrigido. Há muitas maneiras de matar pulgas, com mais ou menos voltinhas.
ele já tinha feito um self-ownage!
Ouvi e gostei. Faz-me lembrar outras bandas que gosto como Clan of Xymox ou Bel Canto.
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