sábado, 16 de agosto de 2008

Funeral party

Sozinha. Cada vez mais sozinha. Sinto que caminho sozinha como aquelas pessoas que nos documentários partem em grupo para a densa floresta mas por alguma razão se perdem e de repente se encontram longe e sem conseguir voltar.
Pegadas. Volto aqui vez após vez para deixar pegadas. Tal como aquelas pessoas perdidas nos documentários, na esperança de que em busca do meu resgate a equipa páre e grite: "Pegadas! Ela foi por aqui!"
Tal como nos documentários, mesmo que o fim seja um pântano de areias traiçoeiras, tenho esperança de que alguém reconstitua a história e diga: "Seguimos o rasto até aqui. A partir daqui, nunca mais foi vista. Supõe-se o que terá acontecido mas o corpo nunca foi encontrado."

Vou partilhar, com os meus assíduos leitores, uma espécie de capricho (ou fantasia, como desejarem). Gostava que, em caso da minha morte, comparecessem no funeral. É que há mais do que o meu narcisismo. Gostaria de fazer ali um gathering onde alguém de confiança distribuísse o meu espólio, aquilo que ainda me resta: livros, CDs, scrap books, artigos raros, recortes de jornais, coisas antigas. E assim saberia que iriam parar às mãos certas.
Agora que penso no assunto, não é preciso morrer para fazer isto. Seria apenas mais fácil por duas razões: a primeira, não sei se estou a cometer uma injustiça ao dar àquele o que devia ser desta; a segunda, não seria doloroso abrir mão do que guardei com tanto carinho.

6 comentários:

Anónimo disse...

Ao ler mais esta tua partilha, só me ocorre dizer-te que gosto muito de ti.

*

Musgo disse...

És uma pessoa, de facto, interessantíssima. Digo-o desde que te encontrei, em Dezembro 2003.

(e gosto muito de ti também)

DarkViolet disse...

Abre-se uma sepultura
O caixão desce
Rasga-se as profundezas
Acomoda-se o silêncio

Escuta-se o licor da terra
A voar dentro da Alma...

Sensações

Tomás disse...

Estou a imaginar uma troca de presentes em sintra à meia noite com uma roda de pessoas à volta de um caixão vazio.

katrina a gotika disse...

Talvez não esteja longe o dia em que tenha de organizar uma give away party e sem morrer nem nada. Vai ser um dia triste.

Lunaris disse...

Não sei muito bem porquê, mas quando te li só me ocorreu sorrir... talvez porque já me tenha ocorrido algo parecido... enfim, não deixa de ser curioso que eu não tenha a coragem que tu tens de o partilhar... E isso faz de ti o íman a que volto sempre, mesmo em silêncio, lendo-te desde há três anos... um beijo!