quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Inland Empire (2006)



Uma actriz consegue um papel importante que há muito desejava quando descobre que o filme que protagoniza tem fama de estar amaldiçoado. Esta é a história. A partir daqui, "Inland Empire" deixa de a ter. Qualquer tentativa de transformar o filme de três horas numa narrativa lógica é perda de tempo.
Costumo dizer que em "Mulholland Dr." o realizador David Lynch deixou o cinema para se dedicar à poesia. Aqui, parece pintar nas sucessivas telas, principalmente nos grandes planos da musa Laura Dern, quadros mais ou menos abstractos intercalados às vezes pela mais literal escuridão. Qualquer palpite em decifrar o significado desta "pintura" de David Lynch será como atribuir significados a um teste de Rorschach.
Este não é um filme para a mente mas para a alma. Como perante qualquer obra de arte, a alma sente ou não sente. A minha alma vibra e é por isso que David Lynch continua a ser o meu realizador preferido. Sou por isso suspeita quando digo que há muito ultrapassou a nota 20 na minha classificação e que este filme tende para o mais infinito... sem deixar de ter em conta que quando o nível artístico é assim tão elevado (como o de um genial Picasso), apesar da perfeição técnica muitos outros não lhe dariam mais que zero. Afinal, David Lynch despreza a definição básica de cinema que é contar uma história em imagens animadas.
Mas devo confessar, apesar do meu apreço pelo realizador e pelo filme em análise, que algo não me agradou. Admito que já estou farta até aos cabelos desta obsessão americana pelo que é real e o que não é e a consequente exploração ad nauseum dos temas de Alice no País das Maravilhas, O Feiticeiro de Oz e quejandos, que parecem ser para os os filmes de Hollywood (especialmente os independentes) um fetiche tão grande quanto o sexo para os filmes franceses.
Faço figas para que o mestre Lynch decida "pintar", "poetisar", "musicar" talvez, sobre outro assunto qualquer num próximo filme.

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